Amar
para ser feliz
A
Parábola do Filho pródigo compõe a trilogia narrada por Jesus como
resposta ao farisaísmo hipócrita e
perseguidor.
Era hábito em Jesus conviver
com os pecadores e os publicanos atraídos por Seus ensinos libertadores.
Os
doentes do corpo buscavam a cura que lhes restaurasse a
saúde.
Os seus enganos eram considerados graves compromissos pela intolerância
religiosa e social da sociedade castradora e perversa da época. A sombra
coletiva flutuava sobre Israel e os seus servidores mais credenciados,
os fariseus, os levitas, os escribas, os sacerdotes viviam da aparência.
Tinham a preocupação de atender aos 613 preceitos de cuidados ao corpo e à sociedade, embora no interior
estivessem mortos em sentimento e sustentação de coisa nenhuma.
Os
seus conflitos eram mascarados por ser para eles importantes
os falsos prestígios e distinções, as
bajulações e a aparência impecável o mais que possível, ainda que apodrecendo de inveja, insatisfação,
enfermos em espírito com mais dificuldade para recuperar-se.
Nas
parábolas psicoterapêuticas contadas por Jesus, percebemos que os inimigos
d’Ele não censuravam a conduta dos excluídos
da vida social, por serem pecadores e cobradores de impostos que eram
detestados, mas sim a conduta do Mestre por conviver com eles. Esqueciam que
era natural que o Homem integral, Aquele que não tinha sombra nem conflito
aproximasse dos impuros, para os recuperar,
e os integrar na vida.
Esqueceram, por
conveniência e pela perversidade em que se satisfaziam, da grandeza do amor, da proposta de libertação, do significado profundo
de que é portador.
Por
isso, considera-se que as três parábolas a dos perdidos, a do
homem que deixa o rebanho para buscar a ovelha que se perdeu, a da mulher que perdeu
uma dracma e a do Filho pródigo, que
se perdeu, podem ser consideradas
como as do encontro e do autoencontro.
Também, pode-se chama-las mensagens
de júbilos e de misericórdias,
porque todos, quando encontram o que haviam perdido, exultavam, chamando todos, servos e amigos, para que se banqueteassem,
para que sorrissem, para que se alegrassem com os resultados felizes.
A
saúde é jovial e enriquecedora de alegria, promove a tranquilidade e faz
crescer a capacidade de amar.
O pai misericordioso em todos os momentos da narrativa
profunda ama, tanto ao que foge buscando a
autorrealização e fracassa, quanto ao que fica do lado, vivendo emocionalmente distante do carinho e do
sentimento de ternura com o genitor.
Em instante algum demonstra
afeto, porque está morto na sua conduta
formal, pusilânime, aparentando fidelidade, mas é apenas interesseiro, pois
não se refere ao que volta humilhado e destroçado interiormente, como seu
irmão. Usa uma expressão dura com o pai e ferinte com o sofrido, dizendo: - Esse teu filho aí...
Havia um desprezo
proposital, um ciúme doentio e um profundo
sentimento de vingança. Ele agora via o irmão como competidor agora
reabilitado, novamente com direito aos bens do pai, que iria disputar a herança
com ele...
Mas
o pai, explica com paciência amorosa, sem lhe censurar a
conduta e o ressentimento: - Filho (menino), tu estás sempre comigo, e
tudo o que é meu é teu.
O
Self (o ser real, ser profundo, o Eu
profundo) do pai sabia o porquê do despeito do ego do filho mais velho e
procurou tranquilizá-lo, sem conseguir de imediato. E acrescenta:
- Mas era preciso que festejássemos e nos
alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e voltou a viver; estava pedido
e foi encontrado!
Só
um sentimento de amor profundo e desinteressado poderia
concluir dessa maneira a análise do comportamento do filho que voltou, ao mesmo tempo,
demonstrando o porque da alegria.
O
amor do pai é
automático em expressar-se, em oferecer-se em júbilo.
Ao ver o filho de longe corre e enche-se
de compaixão, lança-se-lhe ao pescoço e cobre-o de beijos.
Esse beijo na face é sinal de perdão e compaixão, renascimento e vida. Não
deu tempo ao filho ingrato de justificar-se, demonstrando-lhe que estava
novamente no seu lar.
Só
aí o desertor
confessou que pecou contra ele e contra o céu, não sendo mais digno de ser considerado filho.
Esperava ser
tratado como empregado, porque a culpa estava registrada nele, pela
deserção, pelo desinteresse pelo pai idoso, quando mais precisava de apoio e segurança.
O amor é a terapia eficiente para os males que
afligem os indivíduos em particular e a sociedade em geral,
porque desperta a reciprocidade, tirando do esconderijo do egoísmo esse
sentimento que é inato, mas que precisa de estimulo, de ser despertado, de ser
trabalhado, de ser aceito.
O
filho mais velho ficou com os sentimentos
ressequidos, dedicando-se ao trabalho rotineiro e não compensador de
amealhar, não para o pai,
na expectativa da herança, mas, para ele mesmo. Como consequência, não era
a manifestação do amor que o deixava doente emocionalmente, mesquinho e
distante.
Negando-se a entrar em casa e rejubilar-se, ficava
preso ao instinto de conservação dos sentimentos doentios, não permitindo
ao Self (o ser real, o espirito) desenvolver-se,
mantendo-se distante e cerrado.
Precisa
entrar na casa dos sentimentos e
renová-los com a alegria, com a satisfação pela
felicidade dos outros. É comum chorar-se com quem chora, mas poucas
vezes, sorrir com as alegrias dos outros, porque a inveja, filha do egoísmo,
não permite compreender a vitória, a real alegria do outro...
Na sua solidão, o filho mais
velho talvez quisesse conquistar independência depois da morte do pai, atrair
amigos e afetos, pensando que só o poder
e o ter permitem companhia e participação nas alegrias. No seu interior, ele
continuaria ressequido, querendo ser amado, considerado com destaque, assim superando
o complexo de inferioridade em que vivia por depender do pai sem o amar...
A felicidade não se encontra fora do amor, que é o elã
sublime de ligação entre todas as forças vivas da Natureza, o alimento
das almas, fortalecimento da psique, é
vida e força espiritual.
Enquanto não vigorar o amor
natural, o ser humano caminha perdido num
país longínquo, gastando as posses
que passam de mãos e sempre deixam só (solitário)
aquele que busca a multidão de presenças exteriores, também vazias de
companheirismo.
Aquele
que busca o encontro, ainda que inconsciente do Self (do ser profundo), percebe que
só com o mergulho interior, na reflexão
silenciosa, é que é possível
descobrir e dominar os tesouros adormecidos, trazendo-os para a ponte que facilitará a comunicação entre os
dois eus, fazendo a identificação do ego com os
valores legítimos da vida.
Heranças
do passado como: prevenir para sobreviver, agredir antes de ser
atacado, ficar na retaguarda, são lamentáveis
experiências que perturbam a saúde
emocional e psíquica dos indivíduos.
Abrindo-se
ao amor,
cada um descobre que toda fuga é
perturbadora, e todo avanço na
direção do serviço fraternal, da solidariedade, do amor aponta para próximo encontro
com a saúde.
O estado de
semianiquilamento físico e moral do filho
mais moço demonstra que toda fantasia a respeito da vida é um perigo, e a entrega ao prazer desmedido
transforma-se em frustração, desgaste e culpa.
A autoconsciência é o elemento que deve ser buscado sempre e com clareza,
para poder escolher o que se deve e
se pode fazer com prejuízo do que se pode, mas não se deve, ou se deve mas não
se pode fazer.
O filho mais velho tem a religião
formal, a aparência social, mas
ainda não encontrou o sentido da vida,
o significado do amor em plenitude e varias formas de
expressão.
Na censura que faz, o filho mais velho esquece-se da justiça,
pensando em ser justo, pelo menos com ele mesmo, por acreditar ser o único a merecer todas as homenagens. Assim agem os
egoístas.
Esquecem-se que os haveres são do pai, e que, mesmo
idoso, enquanto viver, tem o direito
a reparti-los, utilizá-los conforme lhe
aprouver, já que foram os seus braços
que deram início ao patrimônio, foram a sua
administração e a sua constância no trabalho que mantiveram os
recursos agora disputados pelo infiel que se dizia fiel...
A
sociedade ainda vive de maneira farisaica, censurando os pecadores
e os cobradores de impostos, requerendo cada membro mais atenção e
cuidado, no inconsciente com inveja dos prazeres que aqueles
experimentam e eles não se encorajavam a vivenciar, em face dos preconceitos
vigentes...
Não estranhe que alguém seja
censurado por uma atitude, veementemente combatido porque quebrou algum tabu
social, não porque se permitiu a
leviandade, mas porque o seu censor gostaria de estar no seu lugar e não tem as
forças para fazê-lo, vindo, no entanto, mais tarde, a viver de forma
equivalente, demonstrando o conflito em que vivia, a exulceração oculta
superficialmente, mas da mesma forma pútrida.
Provavelmente,
esse filho mais velho via o pai como
um fornecedor dos bens que desfrutaria no futuro,
não como o pai generoso e amigo que
também participa da vida, das alegrias, das tristezas, mesmo trazendo o
coração angustiado pela saudade do filho perdido...
O amor abarca o mundo, e
por mais se divida, não diminui de intensidade, multiplicando-se e ampliando-se ao infinito.
Só
no amor está a felicidade, porque nele se colhe vida e
vida em abundancia, tornando possível
o encontro com a consciência de si, o autoencontro com o Self (o ser profundo, ou ser real).
Texto estudado a partir do
livro Em Busca da Verdade, escrito por Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito
Joanna de Ângelis. 10/04/2015.
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