sexta-feira, 10 de abril de 2015


Amar para ser feliz
A Parábola do Filho pródigo compõe a trilogia narrada por Jesus como resposta ao farisaísmo hipócrita e perseguidor.
Era hábito em Jesus conviver com os  pecadores e os publicanos  atraídos por Seus ensinos libertadores.
Os doentes do corpo buscavam a cura que lhes restaurasse a saúde.
Os seus enganos eram considerados  graves compromissos pela intolerância religiosa e social da sociedade castradora e perversa da época. A sombra coletiva flutuava sobre Israel e os seus servidores mais credenciados, os fariseus, os levitas, os escribas, os sacerdotes viviam da aparência.
Tinham a preocupação de atender aos 613 preceitos de cuidados ao corpo e à sociedade, embora no interior estivessem mortos em sentimento e sustentação de coisa nenhuma.
Os seus conflitos eram mascarados por ser para eles importantes os falsos prestígios e distinções, as bajulações e a aparência impecável o mais que possível, ainda que apodrecendo de inveja, insatisfação, enfermos em espírito com mais dificuldade para recuperar-se.
Nas parábolas psicoterapêuticas contadas por Jesus, percebemos que os inimigos d’Ele não censuravam a conduta dos excluídos da vida social, por serem pecadores e cobradores de impostos que eram detestados, mas sim a conduta do Mestre por conviver com eles. Esqueciam que era natural que o Homem integral, Aquele que não tinha sombra nem conflito aproximasse dos impuros, para os recuperar, e os integrar na vida.
Esqueceram, por conveniência e pela perversidade em que se satisfaziam, da grandeza do amor, da proposta de libertação, do significado profundo de que é portador.
Por isso, considera-se que as três parábolas a dos perdidos, a do homem que deixa o rebanho para buscar a ovelha que se perdeu, a da mulher que perdeu uma dracma e a do Filho pródigo, que se perdeu, podem ser consideradas como as do encontro e do autoencontro.
Também, pode-se chama-las mensagens de júbilos e de misericórdias, porque todos, quando encontram o que haviam perdido, exultavam, chamando todos, servos e amigos, para que se banqueteassem, para que sorrissem, para que se alegrassem com os resultados felizes.
A saúde é jovial e enriquecedora de alegria, promove a tranquilidade e faz crescer a capacidade de amar.
O pai misericordioso em todos os momentos da narrativa profunda ama, tanto ao que foge buscando a autorrealização e fracassa, quanto ao que fica do lado, vivendo emocionalmente distante do carinho e do sentimento de ternura com o genitor.
Em instante algum demonstra afeto, porque está morto na sua conduta formal, pusilânime, aparentando fidelidade, mas é apenas interesseiro, pois não se refere ao que volta humilhado e destroçado interiormente, como seu irmão. Usa uma expressão dura com o pai e ferinte com o sofrido, dizendo: - Esse teu filho aí...
Havia um desprezo proposital, um ciúme doentio e um profundo sentimento de vingança. Ele agora via o irmão como competidor agora reabilitado, novamente com direito aos bens do pai, que iria disputar a herança com ele...
Mas o pai, explica com paciência amorosa, sem lhe censurar a conduta e o ressentimento: - Filho (menino), tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
O Self (o ser real, ser profundo, o Eu profundo) do pai sabia o porquê do despeito do ego do filho mais velho e procurou tranquilizá-lo, sem conseguir de imediato. E acrescenta: - Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e voltou a viver; estava pedido e foi encontrado!
Só um sentimento de amor profundo e desinteressado poderia concluir dessa maneira a análise do comportamento do filho que voltou, ao mesmo tempo, demonstrando o porque da alegria.
O amor do pai é automático em expressar-se, em oferecer-se em júbilo.
Ao ver o filho de longe corre e enche-se de compaixão, lança-se-lhe ao pescoço e cobre-o de beijos.
Esse beijo na face é sinal de perdão e  compaixão, renascimento e vida. Não deu tempo ao filho ingrato de justificar-se, demonstrando-lhe que estava novamente no seu lar.
Só aí o desertor confessou que pecou contra ele e contra o céu, não sendo mais digno de ser considerado filho.
Esperava ser tratado como empregado, porque a culpa estava registrada nele, pela deserção, pelo desinteresse pelo pai idoso, quando mais precisava de apoio e  segurança.
O amor é a terapia eficiente para os males que afligem os indivíduos em particular e a sociedade em geral, porque desperta a reciprocidade, tirando do esconderijo do egoísmo esse sentimento que é inato, mas que precisa de estimulo, de ser despertado, de ser trabalhado, de ser aceito.
O filho mais velho ficou com os sentimentos ressequidos, dedicando-se ao trabalho rotineiro e não compensador de amealhar, não para o  pai, na expectativa da herança, mas, para ele mesmo. Como consequência, não era a manifestação do amor que o deixava doente emocionalmente, mesquinho e distante.
Negando-se a entrar em casa e rejubilar-se, ficava preso ao instinto de conservação dos sentimentos doentios, não permitindo ao Self (o ser real, o espirito) desenvolver-se, mantendo-se  distante e cerrado.
Precisa entrar na casa dos sentimentos e renová-los com a alegria, com a satisfação pela felicidade dos outros. É comum chorar-se com quem chora, mas poucas vezes, sorrir com as alegrias dos outros, porque a inveja, filha do egoísmo, não permite compreender a vitória, a real alegria do outro...
Na sua solidão, o filho mais velho talvez quisesse conquistar independência depois da morte do pai, atrair amigos e afetos, pensando que só o poder e o ter permitem companhia e participação nas alegrias. No seu interior, ele continuaria ressequido, querendo ser amado, considerado com destaque, assim superando o complexo de inferioridade em que vivia por depender do pai sem o amar...
A felicidade não se encontra fora do amor, que é o elã sublime de ligação entre todas as forças vivas da Natureza, o alimento das almas, fortalecimento da psique, é vida e força espiritual.
Enquanto não vigorar o amor natural, o ser humano caminha perdido num país longínquo, gastando as posses que passam de mãos e sempre deixam só  (solitário) aquele que busca a multidão de presenças exteriores, também vazias de companheirismo.
Aquele que busca o encontro, ainda que   inconsciente do Self (do ser profundo), percebe que só com o mergulho interior, na reflexão silenciosa, é que é possível descobrir e dominar os tesouros adormecidos, trazendo-os para a ponte que facilitará a comunicação entre os dois  eus, fazendo a identificação do ego com os valores legítimos da vida.
Heranças do passado como: prevenir para sobreviver, agredir antes de ser atacado, ficar na retaguarda, são lamentáveis experiências que perturbam a saúde emocional e psíquica dos indivíduos.
Abrindo-se ao amor, cada um descobre que toda fuga é perturbadora, e todo avanço na direção do serviço fraternal, da solidariedade, do amor aponta para  próximo encontro com a saúde.
O estado de semianiquilamento físico e moral do filho mais moço demonstra que toda fantasia a respeito da vida é um perigo, e a entrega ao prazer desmedido  transforma-se em frustração, desgaste e culpa.
A autoconsciência é o elemento que deve ser buscado sempre e com clareza, para poder escolher o que se deve e se pode fazer com prejuízo do que se pode, mas não se deve, ou se deve mas não se pode fazer.
O filho mais velho tem a religião formal, a aparência social, mas ainda não encontrou o sentido da vida, o significado do amor em plenitude e varias formas de expressão.
Na censura que faz, o filho mais velho esquece-se da justiça, pensando em ser justo, pelo menos com ele mesmo, por acreditar ser o único a merecer  todas as homenagens. Assim agem os egoístas.
Esquecem-se que os haveres são do pai, e que, mesmo idoso, enquanto viver, tem o direito a reparti-los, utilizá-los conforme lhe aprouver, já que foram os seus braços que deram início ao patrimônio, foram a sua administração e a sua constância no trabalho que mantiveram os recursos agora disputados pelo infiel que se dizia fiel...
A sociedade ainda vive de maneira farisaica, censurando os pecadores e os cobradores de impostos, requerendo cada membro mais atenção e cuidado, no inconsciente com inveja dos prazeres que aqueles experimentam e eles não se encorajavam a vivenciar, em face dos preconceitos vigentes...
Não estranhe que alguém seja censurado por uma atitude, veementemente combatido porque quebrou algum tabu social, não porque se permitiu a leviandade, mas porque o seu censor gostaria de estar no seu lugar e não tem as forças para fazê-lo, vindo, no entanto, mais tarde, a viver de forma equivalente, demonstrando o conflito em que vivia, a exulceração oculta superficialmente, mas da mesma forma pútrida.
Provavelmente, esse filho mais velho via o pai como um fornecedor dos bens que desfrutaria no futuro, não como o pai generoso e amigo que também participa da vida, das alegrias, das tristezas, mesmo trazendo o coração angustiado pela saudade do filho perdido...
O amor abarca o mundo, e por mais se divida, não diminui de intensidade,  multiplicando-se e ampliando-se ao infinito.
Só no amor está a felicidade, porque nele se colhe vida e vida em abundancia, tornando possível o encontro com a consciência de si, o autoencontro com o Self (o ser profundo, ou ser real). 

Texto estudado a partir do livro Em Busca da Verdade, escrito por Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. 10/04/2015.

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