O SER MADURO
PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÃO
Conforme os sentimentos superiores da alegria e da gratidão insculpe-se no indivíduo,
curam-se os males que o afligem no caminho da imaturidade psicológica, libertando-o dos conflitos que prejudicam
o comportamento, tornando possível aprofundar a perspicácia, a sabedoria, a compreensão da vida e da sua finalidade.
Tudo que antes parecia-lhe
desafiador, agora se transforma em continente conquistado, crescendo em direção
do infinito por descobrir e incorporar ao patrimônio interno.
As inquietações dos
melindres e manifestações de criança
maltratada foram superados, e substituídos pela confiança em si mesmo, pelo
respeito aos outros, pela consciência dos atos. Vencendo os anteriores sintomas
de desconforto íntimo, que agora permite a espontânea alegria de viver e de
lutar.
A
calma substitui a ansiedade antes motivo de desequilíbrio
emocional, a bondade expressa-se naturalmente, como uma luz que se irradia sem
barulho, e o indivíduo torna-se centro
de interesses das outras pessoas.
O
ser imaturo psicologicamente não venceu a infância, que
foi transferida para a idade adulta com os seus conflitos não resolvidos que se
manifestam no relacionamento, no intuito de esconder a personalidade insegura e
doentia.
A
ambivalência do comportamento, desejar e não fazer,
pensar e desistir, é efeito imediato
dessa imaturidade, expressando
não saber agir corretamente até na afetividade.
“Deverei dizer que amo? E se
for incompreendido?” – um dos pensamentos ambivalentes no ser imaturo, retardando
as atitudes psicológicas saudáveis, com medo da opinião do outro. Embora quando,
em crise emocional, não tenha pudor de falar: “Eu detesto o mundo e não quero
ver ninguém na minha frente!”
O processo de amadurecimento psicológico avança tornando
fácil expressar gratidão por tudo que
aconteceu e o que venha a acontecer relativo ao ser humano.
Ninguém é autossuficiente, a
não ser os narcisistas, por considerar-se especiais na criação, denunciando
forte necessidade de parceria, de acompanhamento, de dependência, comprovando o
ser gregário que é desde o começo da evolução. A parceria e a dependência, vão
ser encontradas em forma de
companheirismo, de trabalho de ajuda
recíproca, de cooperação e não de
submissão.
Contam que, duas crianças, uma
de sete e oito anos, caminhavam na direção da escola fundamental sem pronunciarem
uma palavra, cada qual no seu mundo infantil. A mais velha vivenciava grande conflito
por não conseguir comunicação com os colegas, estava sendo discriminada por sua
origem humilde, pela cor da pele...
Antes de atravessar a rua, pararam porque o semáforo estava com o sinal
vermelho. Quando mudou para verde, os dois avançaram, mas a sacola cheia de
livros e cadernos da criança mais velha abriu-se e alguns caíram, fazendo-o abaixar-se
raivoso para reuni-los outra vez. Nesse momento, o menorzinho, vendo-o em
apuros, aproximou-se, abaixou-se também e perguntou, enquanto agia:
- Posso ajudar? Gosto muito
de você...
Os dois seguiram sorrindo e
conversando na direção da escola.
Vinte e cinco anos depois, tendo
um cidadão afrodescendente atingido o topo administrativo de grande empresa, ao ser elogiado, afirmou num
discurso de agradecimento:
- Eu devo a minha vida a um
garotinho de sete anos, que um dia me ajudou a guardar livros e cadernos que me
haviam caído da sacola ao atravessar uma rua e disse que me queria
bem...Naquele dia eu havia resolvido suicidar-me, mas o seu gesto inocente e
jovial modificou totalmente a minha vida. A
ele, sempre agradeci haver
sobrevivido, e agora agradeço novamente por haver chegado
ao posto em que me encontro, e, por antecipação, por tudo de bom que me venha
ou não a acontecer...
O sentido de parceria, acompanhamento e dependência no grupo social, não apenas
se refere aos conflitos e medos de crescimento, mas a uma necessidade de ajuda recíproca, de participação no grupo social, de vida em ação, de união de interesses por todos e, como consequência, pela sociedade, pelo ecossistema, pela
alegria de viver.
Quando Confúcio disse “Aja
com bondade, mas não espere gratidão”, demonstrou que os sentimentos nobres devem estar envolvidos de renúncia, sem o interesse
imediatista de compensação, de aplauso, da admiração dos outros.
Por isso a gratidão,
expressa amadurecimento psicológico,
porque descobriu que tudo que lhe acontece depende de muitos que o auxiliaram a
chegar ali onde se encontra.
Quanto custa o ar puro da
natureza, a água dos córregos e das fontes, a beleza da paisagem, o clima
saudável? Quando o alimento vem à mesa, quantas pessoas participaram no
anonimato dessa cadeia mantenedora da vida? A realização de uma viagem feliz,
quanto dependeu de pessoas e fatores que não foram vistos pelo automatismo da vida?
Tudo, que acontece está vinculado à dependência de um a outro indivíduo ou
circunstância que possibilitaram esse momento.
Quantos acidentes,
desencantos, doenças e mortes marcaram vidas que se entregaram às descobertas,
à colonização dos países, às transformações que foram feitas para que se
transformassem em comunidades felizes!? A todos esses anônimos, a gratidão
deve ser oferecida com ternura e gentileza.
O
amadurecimento psicológico elimina a negatividade teimosa do ser
humano desconfiado e inseguro, que se permite sempre suspeitas de que mesmo a
amizade é seguida de interesses subalternos daqueles que dão ou buscam a
estima.
Grande obstáculo à gratidão madura é o costume de
esperar-se resposta ao ato gentil, de aguardar-se que o beneficiário, reconheça
o que recebeu e retribua. Aí se encontra
uma forma de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, ficando-se decepcionado por faltar essa
resposta, o que leva muitos ansiosos às atitudes infantis de que nunca mais farão nada mais por ninguém, por
não merecerem.
O
sentimento da gratidão
deve vir desacompanhado de expectativa de qualquer natureza, nem um olhar ou um
sorriso, que expressem reciprocidade. Havendo, é melhor, porque o outro também
está em processo de amadurecimento psicológico e de contribuição importante com
a sociedade. Mas é uma exceção e não uma lei natural e constante.
Toda generosidade, por sua
maneira de ser, dispensa gratulação e manifesta-se
naturalmente. O amor aos filhos, aos cônjuges, os deveres com eles e com os
outros são de natureza íntima de cada um, que se satisfaz em agir conforme as regras de bem viver e não
apenas do viver bem, cercado de coisas, de carinho, de compensações.
Essas atitudes logo são esquecidas,
pois, toda vez que se espera reconhecimento, surge um aprisionamento, como, as
pessoas que afirmam viverem para outras:
filhos, parceiros, amigos, ficam insatisfeita quando eles voam em direção
do seu destino. A síndrome do ninho vazio
em que se prendem por prazer ou por imaturidade psicológica leva os
pacientes à amargura, ao desencanto por não receberem a compensação retributiva
com relação ao que fizeram por interesse, não pelo prazer.
Sendo comum também nos trabalhos
nobres que esperam aprovação, recompensa da sociedade. Pessoas com alto nível
de inteligência e trabalho contribuem de forma eficaz em todos os setores do
progresso social, através de descobrimentos, de invenções, de realizações importantes...
Mas quando não são reconhecidas ou premiadas, se revoltam ou entram em
desânimo, na queixa ou na desistência de continuar, amarguradas e infelizes. Como
percebe-se, não são pessoas más, mas imaturas
psicologicamente, vivendo ainda o
período dos elogios infantis, dos aplausos e dos comentários, dos quinze minutos de holofotes, mesmo que
depois sofram o esquecimento, como é quase normal numa sociedade utilitarista
como o é a nossa. Embora disfarçado, aí encontra-se
o narcisismo, resultante de uma infância que não recebeu reconhecimento nem
estímulos, nem entusiasmo nem acolhimento. O conflito defluente nasce na
imaturidade psicológica.
Aqueles que agem dessa forma,
por mais que sejam bajulados, elogiados, aplaudidos, continua com sede de mais
reconhecimento, abrindo espaço a um condicionamento que pode ser chamado de
vício ou dependência de gratidão.
Quando
não se recebe gratidão,
não significa psicologicamente que a pessoa não é aceita, que é rejeitada. Resulta
também de outros fatores psicológicos que dizem respeito aos demais, às
circunstâncias, aos valores de cada cultura.
O ideal é viver-se em favor da gratidão mesmo sem a receber, valorizando o lado claridade da
vida, as suas bênçãos e todos os contributos existenciais que nunca esperam
receber aplauso.
Jesus, o Homem-luz, único ser que não tinha o lado sombra, maior exemplo de maturidade psicológica, fez da sua uma vida dedicada à gratidão, pelo amor com que enriqueceu a Terra, vivendo
exclusivamente para o amor e o perdão, a misericórdia e a compaixão.
Recebeu, pelo bem que fez,
pelas lições de sabedoria que legou à posteridade, a negação de um amigo, a
traição de outro, que se arrependeram certamente, a perseguição dos narcisistas
e imaturos, temerosos e egotistas, a infâmia, o abandono, a exposição à ralé
arbitrária, as chibatadas, a crucificação... mas retornou em triunfo de
imortalidade exaltando a vida e Deus em estado numinoso.
Texto trabalhado a partir do
livro Psicologia da Gratidão, pelo médium Divaldo Franco, espírito Joanna de
Ângelis. 11/04/2015.
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