sábado, 11 de abril de 2015


 

O SER MADURO PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÃO

Conforme os sentimentos superiores da alegria e da gratidão insculpe-se no indivíduo, curam-se os males que o afligem no caminho da imaturidade psicológica, libertando-o dos conflitos que prejudicam o comportamento, tornando possível aprofundar a perspicácia, a sabedoria, a compreensão da vida e da sua finalidade.

Tudo que antes parecia-lhe desafiador, agora se transforma em continente conquistado, crescendo em direção do infinito por descobrir e incorporar ao patrimônio interno.

As inquietações dos melindres e manifestações de criança maltratada foram superados, e substituídos pela confiança em si mesmo, pelo respeito aos outros, pela consciência dos atos. Vencendo os anteriores sintomas de desconforto íntimo, que agora permite a espontânea alegria de viver e de lutar.

A calma substitui a ansiedade antes motivo de desequilíbrio emocional, a bondade expressa-se  naturalmente, como uma luz que se irradia sem barulho, e o indivíduo torna-se centro de interesses das outras pessoas.

O ser imaturo psicologicamente não venceu a infância, que foi transferida para a idade adulta com  os seus conflitos não resolvidos que se manifestam no relacionamento, no intuito de esconder a personalidade insegura e doentia.

A ambivalência do comportamento, desejar e não fazer, pensar e desistir, é efeito imediato dessa imaturidade, expressando não saber agir corretamente até na afetividade.

“Deverei dizer que amo? E se for incompreendido?” – um dos pensamentos ambivalentes no ser imaturo, retardando as atitudes psicológicas saudáveis, com medo da opinião do outro. Embora quando, em crise emocional, não tenha pudor de falar: “Eu detesto o mundo e não quero ver ninguém na minha frente!”

O processo de amadurecimento psicológico avança tornando fácil expressar gratidão por tudo que aconteceu e o que venha a acontecer relativo ao ser humano.

Ninguém é autossuficiente, a não ser os narcisistas, por considerar-se especiais na criação, denunciando forte necessidade de parceria, de acompanhamento, de dependência, comprovando o ser gregário que é desde o começo da evolução. A parceria e a dependência, vão ser encontradas em forma de companheirismo, de trabalho de ajuda recíproca, de cooperação e não de submissão.

 

Contam que, duas crianças, uma de sete e oito anos, caminhavam na direção da escola fundamental sem pronunciarem uma palavra, cada qual no seu mundo infantil. A mais velha vivenciava grande conflito por não conseguir comunicação com os colegas, estava sendo discriminada por sua origem humilde, pela cor da pele...

Antes de atravessar a rua, pararam porque o semáforo estava com o sinal vermelho. Quando mudou para verde, os dois avançaram, mas a sacola cheia de livros e cadernos da criança mais velha abriu-se e alguns caíram, fazendo-o abaixar-se raivoso para reuni-los outra vez. Nesse momento, o menorzinho, vendo-o em apuros, aproximou-se, abaixou-se também e perguntou, enquanto agia:

- Posso ajudar? Gosto muito de você...

Os dois seguiram sorrindo e conversando na direção da escola.

Vinte e cinco anos depois, tendo um cidadão afrodescendente atingido o topo administrativo de  grande empresa, ao ser elogiado, afirmou num discurso de agradecimento:

- Eu devo a minha vida a um garotinho de sete anos, que um dia me ajudou a guardar livros e cadernos que me haviam caído da sacola ao atravessar uma rua e disse que me queria bem...Naquele dia eu havia resolvido suicidar-me, mas o seu gesto inocente e jovial modificou totalmente a minha vida. A ele, sempre agradeci haver sobrevivido, e agora agradeço novamente por haver chegado ao posto em que me encontro, e, por antecipação, por tudo de bom que me venha ou não a acontecer...

O sentido de parceria, acompanhamento e  dependência no grupo social, não apenas se refere aos conflitos e medos de crescimento, mas a uma necessidade de ajuda recíproca, de participação no grupo social, de vida em ação, de união de interesses por todos e, como consequência, pela sociedade, pelo ecossistema, pela alegria de viver.

Quando Confúcio disse “Aja com bondade, mas não espere gratidão”, demonstrou que os sentimentos nobres devem estar envolvidos de renúncia, sem o interesse imediatista de compensação, de aplauso, da admiração dos outros.

Por isso a gratidão, expressa amadurecimento psicológico, porque descobriu que tudo que lhe acontece depende de muitos que o auxiliaram a chegar ali onde se encontra.

Quanto custa o ar puro da natureza, a água dos córregos e das fontes, a beleza da paisagem, o clima saudável? Quando o alimento vem à mesa, quantas pessoas participaram no anonimato dessa cadeia mantenedora da vida? A realização de uma viagem feliz, quanto dependeu de pessoas e fatores que não foram vistos pelo automatismo da vida? Tudo, que acontece está vinculado à dependência de um a outro indivíduo ou circunstância que possibilitaram esse momento.

Quantos acidentes, desencantos, doenças e mortes marcaram vidas que se entregaram às descobertas, à colonização dos países, às transformações que foram feitas para que se transformassem em comunidades felizes!? A todos esses anônimos, a gratidão deve ser oferecida com ternura e gentileza.

O amadurecimento psicológico elimina a negatividade teimosa do ser humano desconfiado e inseguro, que se permite sempre suspeitas de que mesmo a amizade é seguida de interesses subalternos daqueles que dão ou buscam a estima.

Grande obstáculo à gratidão madura é o costume de esperar-se resposta ao ato gentil, de aguardar-se que o beneficiário, reconheça o que recebeu e retribua. Aí se encontra uma forma de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, ficando-se decepcionado por faltar essa resposta, o que leva muitos ansiosos às atitudes infantis de que nunca mais farão nada mais por ninguém, por não  merecerem.  

O sentimento da gratidão deve vir desacompanhado de expectativa de qualquer natureza, nem um olhar ou um sorriso, que expressem reciprocidade. Havendo, é melhor, porque o outro também está em processo de amadurecimento psicológico e de contribuição importante com a sociedade. Mas é uma exceção e não uma lei natural e constante.

Toda generosidade, por sua maneira de ser, dispensa gratulação e manifesta-se naturalmente. O amor aos filhos, aos cônjuges, os deveres com eles e com os outros são de natureza íntima de cada um, que se satisfaz em  agir conforme as regras de bem viver e não apenas do viver bem, cercado de coisas, de carinho, de compensações.

Essas atitudes logo são esquecidas, pois, toda vez que se espera reconhecimento, surge um aprisionamento, como, as pessoas que afirmam viverem para outras: filhos, parceiros, amigos, ficam insatisfeita quando eles voam em direção do seu destino. A síndrome do ninho vazio em que se prendem por prazer ou por imaturidade psicológica leva os pacientes à amargura, ao desencanto por não receberem a compensação retributiva com relação ao que fizeram por interesse, não pelo prazer.

Sendo comum também nos trabalhos nobres que esperam aprovação, recompensa da sociedade. Pessoas com alto nível de inteligência e trabalho contribuem de forma eficaz em todos os setores do progresso social, através de descobrimentos, de invenções, de realizações importantes... Mas quando não são reconhecidas ou premiadas, se revoltam ou entram em desânimo, na queixa ou na desistência de continuar, amarguradas e infelizes. Como percebe-se, não são pessoas más, mas imaturas psicologicamente, vivendo ainda o período dos elogios infantis, dos aplausos e dos comentários, dos quinze minutos de holofotes, mesmo que depois sofram o esquecimento, como é quase normal numa sociedade utilitarista como o é a nossa. Embora disfarçado, aí encontra-se o narcisismo, resultante de uma infância que não recebeu reconhecimento nem estímulos, nem entusiasmo nem acolhimento. O conflito defluente nasce na imaturidade psicológica.

Aqueles que agem dessa forma, por mais que sejam bajulados, elogiados, aplaudidos, continua com sede de mais reconhecimento, abrindo espaço a um condicionamento que pode ser chamado de vício ou dependência de gratidão.

Quando não se recebe gratidão, não significa psicologicamente que a pessoa não é aceita, que é rejeitada. Resulta também de outros fatores psicológicos que dizem respeito aos demais, às circunstâncias, aos valores de cada cultura.

O ideal é viver-se em favor da gratidão mesmo sem a receber, valorizando o lado claridade da vida, as suas bênçãos e todos os contributos existenciais que nunca esperam receber aplauso.

Jesus, o Homem-luz, único ser que não tinha o lado sombra, maior exemplo de maturidade psicológica, fez da sua uma vida dedicada à gratidão, pelo amor com que enriqueceu a Terra, vivendo exclusivamente para o amor e o perdão, a misericórdia e a compaixão.

Recebeu, pelo bem que fez, pelas lições de sabedoria que legou à posteridade, a negação de um amigo, a traição de outro, que se arrependeram certamente, a perseguição dos narcisistas e imaturos, temerosos e egotistas, a infâmia, o abandono, a exposição à ralé arbitrária, as chibatadas, a crucificação... mas retornou em triunfo de imortalidade exaltando a vida e Deus em estado numinoso.

Texto trabalhado a partir do livro Psicologia da Gratidão, pelo médium Divaldo Franco, espírito Joanna de Ângelis. 11/04/2015.

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