quarta-feira, 13 de janeiro de 2016


A INDIVIDUAÇÃO

A buscar do significado da vida humana deve ser dirigido para a individuação, a sua identidade, que não se limita ao individualismo, mas a individualidade, que leva ao conhecimento do que se é e não apenas do que parece ser na multidão das exteriorizações do ego.
Para Jung, o criador do termo, o significado é que a vida ocorra como individualidade do Self, (eu profundo, eu real, o ser espiritual) como perfeita integração do Si-mesmo, da sua totalidade, o que não quer dizer sua perfeição,  que ainda é um ideal...
È o esforço que se deve fazer para atingir a perfeita consciência da sua realidade, sem disfarces, como realmente cada um é, sem o conflito de apresentar-se com características que não são as suas verdadeiras.
Esse é um esforço gigantesco, porque o arquétipo numinoso do Self (repetimos que Self aqui quer dizer o Ser real, o Espírito, o Ser profundo ) apresenta-se como tentativa que pode ter repercussão perturbadora inesperada, como o, da auto-presunção de querer tornar-se um super-homem – Ubermensch – conforme sonhou Frederico Nietczsche, no seu delírio masoquista, ou um homem-deus...
Indispensável evitar essas ambições, considerando que a conquista não pode levar ao esquecimento da realidade do ser individual que se é, os limites naturais de humanidade que o caracterizam.
Enquanto o Self é a expressão da divindade interna no ser humano, na busca da individuação, deve apequenar-se até a postura do ego, tornando-se consciente da sua condição imensurável da psique, sendo, ao mesmo tempo, o seu conteúdo mais significativo e real.
Isso pede um grande confronto em luta contínua com os constructu do inconsciente, eliminando, ou iluminando as condensações da sombra, das experiências dolorosas umas, infelizes outras, abençoadas algumas e frustrantes diversas...
É a conquista dos valores que estão programados para o vir-a-ser, e que podem ser conseguidos pelo esforço de superação sobre o ego, através das renuncias e compreensão do significado da vida.
Tal meta não se consegue como uma aventura, sob entusiasmos e exaltação da persona, mas, por conquistas diárias, lentas e seguras, que vão sendo incorporadas no inconsciente, essa individuação pode apresentar-se num conteúdo espiritual, artístico, cultural, científico, de qualquer natureza, porque sua meta é ampliar a consciência além dos limites habituais em  compreensão da vida em todas as suas dimensões.
Que ocorre pelas transformações dos conceitos existenciais, levando o individuo à superar os arquétipos perturbadores – persona, sombra, anima-us – em uma consciente integração.
Aceitando a vida – a realidade existencial – conforme ela é, e trabalhando para melhorá-la, desenvolvendo o autoamor – respeito por si mesmo, autotransformação, intelectualização e  moralidade – para poder entender e participar do convívio com as outras pessoas,..
Essa integração do Self (do eu verdadeiro) com a realidade dá responsabilidade ao individuo que supera as injunções habituais dos percalços das enfermidades, das fugas psicológicas, das transferências da culpa, da criança maltratada, para a conquista da maturidade libertadora.
No processo da evolução, ocorreu alienação com relação aos instintos, por castração, por imposições de falsa moral, da censura ao mundo, distanciando assim a consciência da realidade tornando-se necessário no momento como impositivo voltar à compreensão de todos os valores e à conduta saudável das ocorrências do cotidiano.
O desenvolvimento da inteligência contribui de forma objetiva para a conquista da individuação, mas não através do intelectualismo sem a cooperação do conceito moral, do sentido ético-filosófico do comportamento.
No conceito de jung, não se pode conseguir a individuação plena e total, por claras razões, por transcender à consciência, quer dizer é  impossível o Espírito alcançar no momento os horizontes da perfeição, que só a Deus pertence.
Nesses limites que lhe dizem respeito, a plenitude é um estado de iluminação e de paz, não de conquista absoluta, na relatividade do seu processo evolutivo.
Cada indivíduo traz seu programa existencial, trabalhando com os recursos das conquistas alcançadas em reencarnações anteriores, não sendo a etapa atual o ultimo passo, a situação definitiva, mas um segmento do conjunto que abarcará, um dia, quando libertar-se do impositivo da evolução.
Todo o seu esforço deve se dirigir para superar os impulsos dos instintos agressivos e egóicos, desenvolvendo os sentimentos de identificação com a harmonia e o bem-estar, com os trabalhos da solidariedade que favorecem o progresso de todos, a autoiluminação.
O Self (o Ser profundo, o Ser real, o Ser espiritual) portanto é específico e individual, embora o seu caráter coletivo, ainda no conceito junguiano, porque representa a unidade que deve ser conquistada como o destino que o aguarda.
Nessa realização individual, o Self reunirá os conteúdos inconscientes aos conscientes, conseguindo uma harmonia que permite a perfeita lucidez do destino humano sem os atavismos perturbadores do passado nem as ambições desenfreadas em relação ao futuro. Esse  trabalho é possível,  na razão em que o mesmo vai penetrando nos depósitos do inconsciente e libertando as fixações e imagens ancestrais, que responsáveis pela desorientação do individuo sempre quando emergem, criando conflito com a consciência, com os valores éticos estabelecidos, com as necessidades que se impõem.
Quando se inicia a identificação desses conteúdos graves, normalmente surgem a angústia, a rejeição de si mesmo, a surpresa com os significados mórbidos e perversos, vulgares e sem sentimento que se encontravam adormecidos, podendo produzir alguns transtornos neuróticos... Mas, perseverando-se no objetivo, passa-se para outro nível do inconsciente, com diferentes conteúdos agradáveis e estimulantes. É normal que isso ocorra, porque toda vez que se mergulha em águas acumuladas, chega-se até aos depósitos de lama, que após vencidos permitem a transparência cristalina do líquido armazenado.
Com o esforço feito, vão ocorrendo as transformações emocionais e os aspectos da saúde sob vários ângulos considerada, sendo grande motivo de prazer e alegria, pela perspectiva do encontro com o repouso, a paz, o Nirvana...
Após as primeiras experiências nirvânicas, a sede de progresso, de imortalidade, de sublimação volta, e o trabalho interior continua, porque o repouso absoluto seria a negação da própria vida, a perda de sentido psicológico da evolução.
Por isso Jesus enunciou que o reino dos Céus está dentro de cada indivíduo, propondo a reflexão profunda e a autoconquista como meios para a libertação das conquistas anteriores alienantes e dos desejos do ego presunçoso.
O conceito, de individuação, de totalidade, abrange a conquista dos conteúdos possíveis de conscientização, que desaparecem nos significados psicológicos elevados que cada um coloca como sua meta existencial.
Essa tentativa propõe novos paradigmas de comportamento que surpreendem, porque o novo e desconhecido são sempre motivo de preocupação e de mal-entendimento. Esses paradigmas, encontram-se no ser, por ser uma visão nova de perspectivas de conduta e de aspiração de vida, interpretação diferenciada do aceito e comum, das circunstâncias caóticas que devem ser modificadas e do esforço pessoal em benefício do equilíbrio geral. Quando tal não ocorre, estabelece-se a neurose moderna como a que toma conta da sociedade atual.
Esse tipo de transtorno neurótico expressa-se como ansiedade, insatisfação, frustração, desconfiança e  solidão, asfixiando os mais belos ideais da humanidade intelectualizada, tecnologicamente rica e profundamente infeliz em seu sentimento pessoal.
Tendo como efeitos imediatos as depressões bipolares na afetividade, a síndrome do pânico, as fugas pelo suicídio, pelo homicídio, as opções pela violência, pelo estupro, pelo esdrúxulo e primitivo no comportamento para chamar a atenção, pelo desprezo que a sua vítima sente por si mesma. Pela impossibilidade de considerar o seu valor pelos significados nobres, assume posturas agressivas  que lhes atendem ao desconforto interior, tornando-se temíveis, por saber que não são amadas,  em carência profunda e em estado de criança abandonada...
A busca da individuação também é a maneira psicológica de encontrar o melhor meio para o bom relacionamento com o Si-mesmo, com o outro, com a sociedade.
Não se pode viver saudável sem considerar-se a presença de outro no contexto social, sendo, por sua vez, o outro daquele...
Algo somente existe na consciência quando é pela mesma detectado. Observar-se algo ou alguém é também ser observado por esse objeto ou pessoa em observação. Nesse momento, dá-se um relacionamento, um descobrimento do outro, a necessidade de intercambio com ele, a sua convivência, que é a forma de cada um existir e ter valor no mundo.
Por isso, o isolamento, o distanciamento da sociedade sob justificativa de encontrar Deus e melhor serví-lO, esconde uma alienação vinda de algum conflito forte em relação ao próximo, uma agorafobia que pode ter razão profunda na libido atormentada, na culpa maldisfarçada. Fugir do mundo não impede que o indivíduo se leve até onde for esconder-se.
No início da divulgação da doutrina cristã, especialmente no século lll d.C. houve uma epidemia de eremitas, de pessoas que buscavam a solidão, de processos autopunitivos ou de busca pela autoflagelação, caracterizando a morbidez da cultura e o alto indicie de tormentos que assolavam a ética e a sociedade que se comprazia no deboche e nos absurdos de conduta, fugindo para se libertar dos conflitos. Infelizmente, tornaram-se mais exemplos de inutilidade e de egoísmo do que de serviço ao bem, às propostas de Jesus, que optou pelo convívio com os infelizes, para ajudá-los a libertar-se de si mesmos, das suas misérias, das suas dores.
Convivendo com a ralé, manteve no entanto a sua aristocracia espiritual, demostrando o mais elevado nível de individuação, do Self (o Eu) totalizado e em integração perfeita com Deus, em nome de Quem viera para amar e ensinar a conquista da saúde total e da felicidade às criaturas, constituindo-se o mais elevado exemplo de vitória sobre as circunstâncias e ocorrências de quem se tem notícias.
Seguir-Lhe o exemplo, reflexionar nas Suas palavras e sobretudo nos Seus exemplos, é o mais seguro caminho para encontrar-se a individuação.
Com a conquista da individuação, a fissão da psique torna-se unidade.

Texto do livro Em Busca da Verdade. Ditado por Joanna de Ângelis, Psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria AzevedoFarias. 13/01/16.

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