quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A NEUROSE COLETIVA
Diz-se que a nova geração está desequilibrada, parecendo que os sofrimentos  que a afligem começassem nela. Os que assim falam nem percebem que não há efeito sem causa, que as perturbações que arruína a juventude de hoje caracterizaram as gerações passadas que, estabeleceram novos ideais e comportamentos nos conceitos tradicionais do período em que viveram, causando choque na tradição da época...
As heranças transmitidas sem responsabilidade e desamor dos mais velhos para os mais novos; a despreocupação com a família, que há décadas vem passando para plano secundário no grupo social; os comportamentos egoístas dos cidadãos; o consumismo sem medida; a busca de prazeres constantes; a indiferença pelo próximo contribuíram com o atual quadro de alienação coletiva que afeta os jovens sem discernimento nem maturidade emocional.
Os esportes, que representariam conquistas psicológicas, para catarses emocionais, espairecimentos, renovação de energias, afirmação de valores em relação aos melhores tornaram-se campo de batalha, quando as torcidas fanáticas e radicais agridem-se, depredam, matam e se matam.
Ressuscitam-se com essa conduta as arenas romanas, onde o prazer era sanguinário e as vítimas sacrificadas inspiravam zombarias em total detrimento do significado de humanidade...
Nessa desordem psíquica e emocional, as torcidas organizadas marcam pela internet o lugar para os enfrentamentos, como nos campos de batalha do passado, assassinando, enquanto a sociedade estarrecida contempla e vai se acostumando as cenas perversas.
O terror assume proporções não esperadas.
É comum os jovens matarem pelo prazer de fazer algo diferente, para experimentarem emoções fortes, e mais tarde procurarem anestesiar a culpa nas drogas, entrando em profunda depressão, mais matando para adquirir novas quotas para a manutenção do vício e matando-se lentamente ou de uma vez, em desespero suicida.
O numero de suicídios nos países civilizados é grande, resultante de uma cultura materialista, vivendo no inconformismo, sendo o prazer o único motivo do significado existencial. Como consequência, sempre crescente são as taxas de delinquência juvenil por toda parte.
Está então instalada a neurose coletiva e destrutiva.
A divulgação dos dramas e tragédias do cotidiano, pelos veículos de comunicação, ao invés de trazer propostas salvadoras, terapias preventivas e curadoras, estimula  os comportamentos frágeis a se tornarem heróis, a se destacarem pela mídia, a desafiarem a cultura, e a ética, crendo no falso martírio da covardia moral e da destruição psicológica em que se debatem.
As almas dos jovens ansiosas e desorientadas, seguindo estranhos caminhos por falta de  roteiro equilibrado para o encontro com a segurança interior. A educação no lar e a formal, nos institutos que se lhe dedicam, se encontram desestruturados por serem, os que a propõem, também  desestruturados, ensinando teoria e vivendo os desequilíbrios em que se tornam exemplos vivos, a serem copiados.
Disseminam-se com vaidade ser necessário a autorrealização e a autoidentificação por  processos estranhos e doentios que lhes chamam a atenção e os igualam nos grupos em que se satisfazem.
A problemática é grave e  pede cuidados de todos: pais, educadores, governantes, religiosos, sociólogos, psicólogos, pessoas sensatas que se devem unir, para combateram o inimigo comum: a falta de sentido existencial que se estabeleceu na sociedade.
Para se viver com dignidade é preciso ter um objetivo, um sentido ético que será meta a  ser conquistada.
Se a busca da felicidade for feita nos padrões do consumismo ou do prazer, fruto do imediatismo, cedo vem a decepção e a falta de motivo de novos empreendimentos.
É preciso, despertar em todos a necessidade da autotranscedência, da superação das exigências do ego em sombra para o significado do self imortal.
Essa autotranscedência deve ser sugerida habilmente, não imposta, despertada em todas as mentes como caminho seguro para a harmonia interior, para a existência adquirir sentido de gratidão, de correspondência com os demais, de significados libertadores.
E as pessoas perguntarem sobre o significado das suas vidas, tão acostumadas estiveram por muitas gerações a lhes serem imposto o mesmo.
No passado, as religiões dominantes impunham que o primeiro filho deveria pertencer às armas, para salvar o Estado, o segundo à Deus, servindo a religião e entregando-se totalmente, mesmo sem vocação nem desejo. A filha deveria servir a Deus, educar-se em serviços domésticos, sem direito ao conhecimento, à cultura, por ser a mulher considerada inferior, sem alma, nem discernimento...
O absurdo imposto ressurgiu como hipocrisia, onde havia a postura convencional, que a sociedade aceitava, e o desvario oculto, criminoso às vezes, a que os indivíduos se submetiam, para sobreviver à asfixia imposta pela neurose religiosa.
As aberrações e extravagancias praticadas,  não eram crime nem censuradas, bastando não serem divulgadas...
É natural que esse atavismo ressurja do inconsciente coletivo e pessoal e imponha a necessidade de alguém lhe dizer qual é o sentido da sua existência.
Mesmo quando recorrem a psicoterapias, alguns profissionais transformam-se em gurus, respondendo pelas vidas e comportamentos dos seus pacientes, tentando eliminar-lhes as preocupações, mantendo-os ignorantes, na dependência doentia, na aflição mascarada de bem-estar...
O valor psicoterapêutico é percebido quando  começa a libertar o paciente do pensamento do seu orientador, encontrando-se com a sua realidade, descobrindo-se, e com as suas  possibilidades de realização pessoal e de objetivos essenciais para o bem-estar.
Falta honestidade e sinceridade intelectual nos formadores de opinião, nos educadores, nos psicoterapeutas também problematizados, com as exceções normais à conduta saudável.
Deve-se instituir uma nova visão da vida por  processos psicoterapêuticos sadios, libertadores da neurose coletiva, trabalhando o indivíduo e depois o grupo social, para tornar possível a conquista do significado existencial.

Texto do livro Psicologia da Gratidão, ditado por Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 06/01/16.

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