quinta-feira, 3 de abril de 2014


 

FORMAÇÃO REATIVA 

Este mecanismo nos parece mais elaborado do que a negação e mais contido que a projeção que se mostra exterior. Encontramos na formação reativa um movimento interior, tentando provar para si mesmo e, por consequência, para o mundo, que se é oposto àquele afeto. A formação reativa é trabalhada por Joanna em O Ser Consciente com o nome de compensação.
Religiosamente somos filhos do pecado, movidos pelo medo de errar, do inferno, do purgatório, que no Espiritismo se traduziu pelo medo do umbral. Trocamos o diabo que nos prejudica pelos obsessores que nos fazem infelizes, sem compreender a nova dimensão que estes conceitos nos abrem, embora parecidos.
O pecado merece a eliminação e o Diabo merece o cárcere eterno do inferno. De uma maneira semelhante, reproduzimos esta estrutura em nossas vidas nomeando simbolicamente de pecado aquela parte de nós que não está de acordo com a moral, que não é bem vista pelas pessoas e portanto precisa ser eliminada para que também nós não sejamos conduzidos ao “umbral” e mais do que esta negação, o desejo de ir para o céu, mal-elaborado em nós mesmos, nos obriga a posturas semelhantes às dos anjos... mas o que ocorre é que nestes comportamentos há sempre um excesso que nos demonstra o contrário, como exemplifica Joanna: 

O fanatismo resulta da insegurança interior, não consciente, pela legitimidade daquilo em que se pensa acreditar, desse modo compensando-o. (...) O excesso de pudor, a exigência de pureza, provavelmente são compensações por exorbitantes desejos   sexuais reprimidos e anelos de gozos promíscuos, vigentes no ser profundo. (ÂNGELIS, 2000, p.104) 

A mentora nos ensina que pessoas buscam refúgio nos ideais, especialmente nas doutrinas religiosas – das quais fazemos parte -, adotando comportamentos nobres que são nada mais do que fuga da realidade, mascarando assim seus conflitos, ou podemos dizer em outras palavras que o ego se exacerba para tentar esconder o eu debilitado. Quem se preocupa em anunciar o que já conquistou moralmente corre o risco de esquecer o que ainda tem a melhorar.
 Fenichel (1981) ressalta que na formação reativa as atitudes são tolhidas e rígidas, que obstam a expressão de impulsos contrários, os quais, de tempos em tempos, irrompem constrangendo o sujeito. E em termos de afeto o autor ainda argumenta que na formação reativa é possível ver-se o despudor como defesa contra o sentimento de culpa, ou a coragem contra o sentimento de medo.
Mas transformação moral não é um processo de fuga de nossos defeitos, muito menos de construções exteriores.
Texto escrito por, Marlon Reikdal, no livro Refletindo a Alma. Postado no dia 03/04/2014.  

Nenhum comentário: