segunda-feira, 14 de abril de 2014


A PARÁBOLA DOS TALENTOS 

...Pois é assim como um homem que, partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens: a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade; e seguiu viagem. O que recebera cinco talentos foi imediatamente negociar com eles e ganhou outros cinco; do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo: - Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito. Entra no gozo do teu senhor. Chegou também o que recebera dois talentos, e disse: - Senhor entregaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito. Entra no gozo do teu senhor. Chegou, por fim, o que havia recebido um só talento, dizendo: - Senhor, eu soube que és um homem severo, ceifas onde não semeaste, e recolhes onde não plantaste; e atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu. Porém o seu senhor respondeu: - Servo mal e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei, e que recolho onde não joeirei? Devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros e, vindo eu, teria recebido o que é meu com juros. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundancia; mas ao que não tem, até o que tem, ser-lhe-á tirado. Ao servo inútil, porém, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes. (Mateus 25:14-30.)

Na arte de contar histórias, como em todos os Seus atos, Jesus foi insuperável. Com imagens simples e comuns, conhecidas e vividas por todos, penetrou nos arquivos profundos do inconsciente para desmascarar  os conflitos e a culpa, fornecendo diretrizes para a conquista da autoconsciência, produzindo a identificação do ego com o Self.
 
A parábola em estudo é psicoterapêutica porque oferece reflexões profundas e lógicas a respeito do comportamento de todos com a consciência – o senhor que ofereceu os talentos - e que sempre se encarrega de exigir a aplicação dos recursos que são destinados ao indivíduo.

Todas as criaturas são agraciadas com talentos morais, intelectuais, do sentimento, das aptidões, que devem ser aplicados no próprio enriquecimento, desenvolvendo habilidades próprias e pertinentes à capacidade de utilização de cada qual. Considerando-se os diferentes níveis de evolução nasce-se com os recursos que constituem a sua fortuna emocional, e que devem ser utilizados  corretamente, dando lucros em forma de crescimento interior.

A parábola dos talentos refere-se aos indivíduos mais aquinhoados na vida, que souberam multiplicar a concessão com que foram honrados e dignificados pela alegria de entrar no gozo do seu senhor, o estado de harmonia emocional e de crescimento mental .

O outro, que recebeu menos, negligente e avaro, medroso e incapaz, enterrou a moeda preciosa, dominado pela preguiça moral de a multiplicar, também temeroso da justiça do seu senhor, que era severo. Todos os valores que sejam sepultados no solo da indiferença e da falsa justificativa se transformam em sofrimento interior, porque a culpa que se apresenta no momento da prestação de contas, leva-o às lágrimas e às lamentações...

Merece, analisar que a parábola não se refere aos servos que não foram aquinhoados, o que nos leva à reflexão de que todos os seres humanos são portadores de bens que devem ser multiplicados, nunca se justificando a não posse, porque ninguém é destituído de oportunidades para evoluir. Mesmo no caso dos impossibilitados mentais, físicos e emocionais desestruturados, na intimidade do inconsciente profundo encontram-se as razões da aparente carência, sendo a sua falta o talento de recuperação por ter malbaratado nas existências passadas.

Quando o senhor vai para outro país e deixa os seus bens nas mãos dos seus servos de confiança, à luz da psicoterapia, representa a não interferência da consciência nas decisões que definem o rumo da aplicação dos talentos, no momento sob a governança da sombra. O Self sempre vigilante aciona os mecanismos da inteligência e estimula aqueles que se tornaram portadores de maior responsabilidade a que multipliquem os haveres recebidos, embora correndo riscos de os perder. Todo empreendimento experimenta a circunstância do êxito ou do insucesso, cabendo ao investidor eleger a aplicação, no caso em tela, mais rendosa, menos perigosa, conforme fizeram os dois servos dedicados.

Todos os dons pertencem à vida, vêm de Deus e são concedidos como empréstimos, como experimento, para que se possam fixar na realidade, produzindo os efeitos correspondentes.

A vida é dinâmica, não se permitindo vazios e desleixos sob pena de consequências afligente para os levianos e irresponsáveis, que sempre tem enterrado o que deveriam e poderiam aplicar ampliando as possibilidades de crescimento. Por isso, reencarnam-se em penúria, em tormentos e angústias que lhes são impostos pela consciência, o senhor severo que colhe onde não semeou, porque a sua seara é o Universo que a precedeu, possuidor de todos os haveres imaginados.

Esse acomodado guardador da moeda, embora houvesse agido de forma equivocada, poderia ter se complicado, perdendo-a no jogo, usando-a de forma incorreta, o que lhe causaria situação mais deplorável, como acontece com todos que se utilizam dos valores de que são investidos para a degradação, as aventuras perturbadoras, os prazeres sem rumo...

As heranças atávicas geradoras da sombra e a infância emocional que teima continuar como criança ferida em muitos comportamentos, tornam os indivíduos pacientes piegas ou astutos, que se negam o esforço esperando que o outro lhes ofereça o que lhes cabe conquistar. Tornam-se egoístas e displicentes.

Era comum essa dicotomia entre pessoas que antes alugavam casas: plantar ou arrancar árvores.

Algumas, quando se mudavam, deixavam as árvores que plantaram no terreno que lhes não pertencia, enquanto outras as arrancavam, demonstrando avareza e insensibilidade.

Diversas evitava plantá-las porque o solo não era delas e diziam que não iriam trabalhar, justificavam-se, para o bem de estranhos, no entanto, alegravam-se quando encontravam verdadeiros pomares que foram preparados por outras que não conheceram, mas os fizeram para o futuro...

Se cada um fizer a sua parte, pensando nos bens do futuro, não importando quem seja aquele que colhe onde não semeia, seus talentos estarão sempre aumentados e irão receber outros mais que lhes são confiados...

O servo bom, do bom trabalho retira a prosperidade, enquanto o ocioso transforma a ação em penúria, vindo a sofrer a restrição do prazer e da harmonia.

Os servos diligentes são aqueles que não se detêm medrosos ante as dificuldades existenciais e trabalham para removê-las, facilitando a oportunidade dos que se encontram na retaguarda. Sempre se viverá beneficiado ou não pelos ancestrais, aqueles que caminharam antes pelas veredas por onde agora peregrinam. Foram eles que abriram as picadas, facilitando a primeira experiência na mata fechada, depois outros alargaram os caminhos, vieram mais tarde muitos outros que asfaltaram ou não a estrada agora percorrida com facilidade.

Quando se tem consciência desse valor dos antepassados, ao conseguir-se a cura das neuroses, logo surge o interesse por servir, auxiliar os familiares, os mais próximos, treinando fraternidade e generosidade para com todos os demais seres humanos.

A experiência do significado e do bem-estar proporciona tal alegria que o paciente recuperado não se basta, não fica indiferente ao que ocorre em volta, porque sente-se membro do conjunto e sabe que assim como uma célula enferma compromete o órgão, a saudável trabalha pela sua reconstituição.

Embora a significativa e volumosa parte das ações humanas e das suas aspirações procedam do inconsciente, o despertar da consciência consegue grandes contribuições para a harmonia e a vivência saudável em todos os grupos sociais nos quais venha a vigorar a identificação do eixo ego-Self, ajudando no ajustamento de todos os membros à mesma conquista.

Muitos pacientes adquirem conflitos e complexos, principalmente de inferioridade, que decorrem da constelação familiar, na qual se encontram humilhados submetidos aos caprichos dos distúrbios do grupo doméstico. Mesmo assim, a vítima, deve desenvolver a esperança e relativizar as circunstâncias e os acontecimentos danosos, tentando recomeço, psicoterapia apropriada e descobrirão como são portadores de elevados talentos, que foram soterrados pelos desavisados membros do clã. Facilmente perceberá que os tesouros enterrados podem ser recuperados e multiplicados em abundancia, superando as limitações e conflitos até então dominantes. A consciência lúcida, dando-se conta do esforço feito, dirá: - Entra no gozo do teu senhor. E esse lhe conferirá outros tantos talentos, ampliando o seu campo de possibilidades inimagináveis. 

O indivíduo é o que se faz a si mesmo, porém, diante do seu instinto gregário e da sua necessidade social, não se podem evitar os efeitos do seu convívio no grupo em que nasceu, se educou ou continua vivendo. 

Embora a ocorrência, o Self pode suprir as carências, demonstrando que a sintonia com o divino que está nele próprio diluirá a  sombra  perturbadora que o encarcera no conflito de qualquer natureza. 

Quando as mulheres e os homens contemporâneos usarem os bens da vida com o desejo sincero de ser fiéis à alma, uma religiosidade espiritual surgirá do inconsciente profundo trabalhando a sua realidade emocional e impulsionando-os ao desenvolvimento da saúde e do bem-estar como contribuição interior para o equilíbrio e exterior para o grupo em que se encontra. 

Tem-se, portanto, o grupo familiar que se impõe como necessidade para desdobrar os valores morais, resultando nas ações pretéritas das vidas passadas, que proporcionam as facilidades ou os problemas que devem ser enfrentados sem pieguismo nem ressentimento para o amadurecimento interno que leva à individuação. 

Essa conscientização deve começar pelos membros da sociedade em crise existencial, moral e espiritual. 

A perda do significado pode ser reparada pela renovação dos sentimentos, os esforços para equilibrar-se interiormente, as tentativas do silêncio mental, abrindo espaço aos divinos insights. 

Diante da conturbação que assola, as pessoas tímidas temendo enfrentar os alucinados enterram os talentos, dissimulando as virtudes, escondendo-as com medo que sejam ridicularizadas, levadas à zombaria ou consideradas débeis mentais. 

Ocorre que, em tempo de loucura a razão parece deslocada, e a insensatez é o estado aceito e prescrito.
 
Partindo-se para um outro país de experiências e realizações incomuns, é natural que sejam repartidos os haveres com os que encontram-se no cotidiano da vida, sem motivação ou estímulo para o próprio crescimento intelecto-moral, proporcionando-lhes os talentos que deverão ser investidos ou aplicados nos bancos da produção espiritual, para que sejam beneficiados pelos juros do equilíbrio. 

A saúde, neste item, é um dos mais importantes talentos que o Senhor oferece ao Espírito no seu processo de evolução, pelas importantes possibilidades que propicia ao seu possuidor, que tem por dever preservá-la, multiplicando as experiências iluminativas e o crescimento intelecto-moral. Mas nem todos, agem com esse entendimento, sendo a maioria formada pelos que a malbaratam, nem a preservam, vivendo cada hora no desperdício do tesouro que se vai esgotando até o desaparecer por completo. 

Chegará, também, para esses, o momento da prestação de contas, e percebendo as leviandades praticadas, a conduta irresponsável vivida, sofrerão os efeitos graves, em batalha interna a ser reconquistada, o que é difícil, sendo pela consciência atirados às trevas exteriores, em reencarnações pungentes e aflitivas. 

Todos os talentos são valiosos porque, multiplicados, proporcionam o bem-estar, a alegria de haverem sido utilizados sabiamente. 

A palavra, é um talento, que nem todos aplicam como deveriam, pois, através dela se produzem as rixas e as brigas, as intrigas e maledicências, as infâmias e as acusações, terminando muitas vezes em guerras infernais... quando a sua finalidade é exatamente o contrário. 

À sua semelhança, o discernimento, a razão são valores inapreciados, pelas infinitas possibilidades que oferecem como permitir o conhecimento do Cosmo, a identificação dos valores elevados da vida, do serviço de edificação moral e espiritual do próprio possuidor, assim como da Humanidade como um todo. 

A vida física é uma viagem rápida pelos caminhos da Terra, porque transitória e finita, sendo parte fundamental da vida no seu caráter de imortalidade, pois, que criado o Espirito não mais se extingue, abençoado pelo vir e volver ao Grande Lar onde é avaliado pela própria consciência e pelos seus Guias espirituais que se encarregam de o auxiliar no processo evolutivo. 

Os talentos, de que cada um dispõe, tanto podem ser renovados como retirados, conforme a aplicação que se faça. 

São empréstimos divinos que o Senhor coloca à disposição de todos, sem exceção, com generosidade e confiança, mas na condição de serem prestadas contas da sua utilização. 

Mesmo o sofrimento, quando bem pensado, é  talento de grande importância, pelo que traz de dignidade e  libertação dos compromissos infelizes, facilitando a perfeita identificação do eixo ego-Si mesmo, com a integração da sombra e a conquista da individuação. 

Todo projeto pede esforço, vigilância, cuidados, não é diferente daqueles de caráter moral, de significado espiritual. 

Analisando-se Jesus, como possuidor dos talentos de vida eterna, descobrir-se-á facilmente como os aplicou em todos os dias da Sua vida terrena, principalmente durante a Sua vida pública, enriquecendo o mundo com sabedoria e liberdade,  beleza e esperança de plenitude. 

E quando foi traído, negado, julgado insensatamente, condenado e crucificado, o tesouro da Sua misericórdia e sensatez transformou-se em bênção que vem atravessando os séculos como a única maneira de encontrar-se a felicidade, que é conseguida somente pelo amor, por amor-terapia.  

Texto trabalhado com base no livro EM BUSCA DA VERDADE, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado no dia 14/04/2014.

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