sábado, 19 de abril de 2014


 

 

 A CONQUISTA DO SI
 

Toda a caminhada carnal do Espírito deve ser dirigida para a conquista do Si-mesmo. 

Herdeiro das experiências evolutivas tem viajado longamente dos instintos à razão, ao discernimento, à aquisição da consciência, descobrindo a sua realidade de ser imortal, cujo trajeto ilimitado continua além da vestidura carnal... 

O inconsciente coletivo que nele se encontra, resulta das próprias vivências nos referidos períodos antropológicos, quando em trânsito de uma para outra faixa  da evolução, seja física, moral ou transcendental. 

Armazenadas no Self são as muitas tentativas de acerto e de erro, que lhe desenham as novas caminhadas corporais. Por isso, a sombra que é resultado dos conflitos nas intimidade da psique, normalmente surge-lhe ameaçadora gerando dificuldades de raciocínio, de comportamento saudável, de harmonia. 

Iniciando o desenvolvimento do Si-mesmo, como simples e ignorante, sem  conhecimentos, sem habilidades, sem treinamentos, aos poucos, à semelhança da semente no seio da mãe-terra, desenvolvem-se os germes da sabedoria adormecida, vivenciando os jogos dos sentidos, avançando para a lógica e o raciocínio, abrindo espaço aos atavismos primitivos que necessitam ser ultrapassados sem traumas nem choques emocionais. 

Conforme vão se tornando mais complexas as  possibilidades que dispõe para evoluir, surgem as marcas dos hábitos ancestrais que insistem em prendê-lo no já conhecido, no já desfrutado, confundindo os valores de qualidade com as comodidades do prazer. 

Atraído pelo Deotropismo da sua origem, não se pode fugir ao conflito do que tem sido e o que lhe aguarda. Nem sempre, aspirando por situação ou condição melhor de vida, bastando-lhe o atendimento das necessidades fisiológicas básicas, em olvido proposital ou não das de natureza psicológica essenciais para a individuação. 

Quando descobre o significado existencial e ainda não dispõe da maturidade emocional indispensável, busca a transformação interior  com exigências descabidas e sacrifícios que se impõe, sem perceber que a violência não faz parte da programação orgânica para uma vida feliz. 

Em face da desorientação religiosa do passado, e que, infelizmente ainda existe em muitos setores da sociedade, isola-se impondo-se a fuga do mundo, sendo isso tremendo adversário do bem-estar humano, desde quando gregário, necessita da convivência, do relacionamento com o seu próximo, resultando em profundas frustrações interiores que levam a desastres psicológicos ou ao abandono da opção... 

Às vezes, entrega-se ao transtorno masoquista, impondo-se sofrimentos sem justificativas, que mais ampliam o desconforto emocional e o desequilíbrio psicofísico. 

A existência humana deve ser vivida dentro de uma agenda de deveres morais e espirituais, além dos sociais, familiares e para com o corpo, estabelecidos para cada indivíduo, para que a carga imposta não supere às forças interiores, assim evitando os desastres nos insucessos. 

O comportamento nas diretrizes convencionalmente denominadas de normalidade constitui caminho de segurança para o avanço contínuo na direção da meta estabelecida. 

Ao invés de imposições de fora para dentro, da aparência dentro dos padrões estabelecidos pelo grupo social, a lúcida interpretação das próprias necessidades e a condução tranquila e equilibrada de cada função ou acontecimento da vida, a fim de conseguir o estado saudável e progressista na marcha da iluminação. 

Compreendendo que a sombra é presença normal e constante na psique, a sua fusão natural no Self é o objetivo do autoconhecimento, da conquista que o desaliena, propiciando melhor visão da realidade e do mundo que o cerca. 

A identificação – do que deve fazer e como realiza-lo, superando as sequelas do passado – abre espaços mentais e emocionais para ser feliz. 

Nesse trabalho consciente, reacional e objetivo, a individualidade cresce e desenvolve-se, facilitando o surgimento de outros valores antes não considerados, que constituem elementos superiores para uma vivência com sentido enobrecido. 

O Significado da conquista do Si-mesmo, nem sempre é compreendido, supondo-se que esse trabalho se refere a questões da mística religiosa ou das tradições filosóficas orientais do passado. Tem razão no significado, mas não na proposta, porque as doutrinas orientais, descobrindo a realidade do ser que se é, encontraram na meditação, na yoga, nas diversas técnicas da concentração e da abstração em relação ao tempo e aos sentidos, um excelente instrumento pedagógico para a autoconquista. Assim também, algumas religiões, com boas intenções, procuraram ajudar o ser a superar os conflitos, e ignorando-lhes a intensidade como a sua gênese, estabeleceram normativas, umas felizes, outras nem tanto, para que o fiel tivesse um fio de Ariadne para sair do labirinto existencial em que se encontra. A partir das regras estabelecidas, entre outros, por Inácio de Loyola, os exercícios espirituais tem produzido excelentes resultados naqueles que os praticam de forma racional e sem fanatismos.  

A concentração racional com meditação reflexiva também constitui um recurso de fácil aplicação diária para conquista do Self, por ensejar o autoconhecimento, a observação do que se é, descobrindo-se os tesouros que estão ao alcance, mediante o vir-a-ser. 

Aquele que se impede a autoidentificação, permanece na periferia da existência, facilmente aturdido pelas ocorrências, sempre considerando-as perturbadoras e sem significados, quando, conscientemente enfrentadas, podem transformar-se em importantes conquistas de plenificação interior. 

Ninguém pode-se afligir pelo fato de ser humano, de ter inclinações tormentosas, que são resultados de vivências malogradas, que serão superadas com disciplina e vontade resultante da escolha das aspirações que fazem parte da agenda de cada um. 

Quando o indivíduo se compreende, havendo conseguido o entendimento a respeito do ser que é, se tornam mais fáceis os enfrentamentos dos desafios e dos problemas, porque, libertando-se dos complexos de inferioridade, da necessidade da culpa,  e da autopunição, considera-os essenciais à evolução. É natural que todo processo de transformação pede sacrifício e luta. Já naquelas de natureza psicológica, evidentemente devem ser analisadas com decisão firme para superá-las, assim como produzir bem-estar e alegria pela oportunidade de encontrar-se ativo, produzindo sempre para melhor. 

A essa conquista consideramos como o bem, porque proporciona satisfações elevadas, que trazem resultados saudáveis. 

Quem se conhece possui sabedoria e encontra-se a um passo da autoiluminação que o torna profundamente feliz. 

Avançar com segurança, sem os conflitos geradores de transtornos vários, é conquista  ao alcance de todo aquele que escolhe a integral consciência de Si-mesmo. 

Aquele que se desconhece caminha inseguro e doente emocional, buscando soluções fora dele, realizando processos de transferência da culpa, para poder suportar-se, de não cair em situações lamentáveis de desajustes psicológicos mais graves. 

O objetivo essencial da vida na terra é o de autoconhecer-se, de penetrar os grandes abismos do inconsciente atual, a fim de descobrir os objetivos da vida, enquanto adquire recursos para alcançar a superconsciência e captar as mensagens superiores da imortalidade, que o convidam à autosuperação das dificuldades enquanto desenvolvem as aptidões dignificadoras. 

Ninguém chega ao estado de paz sem a harmonia entre a psique, a emoção e o físico. Não vai ser pela falta de acontecimentos desagradáveis, que sempre irão ocorrer, mas por compreendê-las como necessárias, responsáveis pelos progressos e inevitáveis transformações após descobri-las. 

Quem atinge o cume de um monte, venceu todos os obstáculos do caminho... Nenhuma subida é fácil, acontecendo o mesmo com a autotransformação para melhor. 

É compreensível que haja uma aceitação normal do estado em que muitos se encontram, acomodados às circunstâncias, sem aspirações importantes.  Nesse nível de consciência de sono as necessidades prendem-se mais às orgânicas, como alimentar-se, dormir, fazer sexo, em círculo de automatismos primários. Como o progresso é inevitável, aos poucos despertam as ambições emocionais, por saturação das físicas, e ocorre a mudança para o nível de consciência desperta (ainda semiadormecida, porque há uma prevalência da anterior), aparecendo aspirações não habituais, desconforto em relação ao já vivenciado, insatisfação diante da vida... 

O Self desenvolve-se pelos esforços existenciais que lhe possibilitam o despertar das possibilidades adormecidas, produzindo a imaginação, a ambição de crescimento, o desejo de conquistas novas. São, muito saudáveis, alguns estados de mal-estar, de queixa, de tristeza, desde que não se  transformem em sofrimento, em hábito doentio de reclamação inoperante, através da qual a pessoa justifica a própria negligencia. 

Quem se basta com o habitual encontra-se em inatividade total de consciência, esperando que fenômenos-dor o sacudam, provocando-lhe a busca da renovação e a disposição para mudanças psicológicas, para novas aspirações que irão lhe constituir objetivos a trabalhar. 

O Si-mesmo é a fonte da vida do corpo em todas as suas expressões: psíquicas, emocionais e físicas. Nele encontram-se os dínamos geradores de todos os recursos para a existência humana, e, quando liberto das imposições do processo material na Terra, eis que, ideal e numinoso, avança em direção da plenitude. 

Todos os esforços devem ser aplicados pelo ser consciente na autoconquista, na superação das forças atávicas do ontem e na atração dos iluminados patrimônios da superconsciência. 

É um retorno, de alguma forma, à deusa, uma reconquista do que foi mal aplicado ou perdido no processo da evolução. 

Esse lutador vitorioso, que alcança a compreensão lógica da vida, torna-se modelo e arrasta outros, porque o exemplo de felicidade contagia todos que se encontram no infortúnio e na insegurança.

Esse talento sublime que a vida oferece a todos – a oportunidade de evoluir e de descobrir o infinito – tem que ser multiplicado, para que o Senhor da Abundância se regozije e ofereça a conquista do reino dos Céus, que se encontra nele e precisa exteriorizar-se. 

Quem conquista os outros, perde-se em conflitos, com relação aos métodos, nem sempre nobres que utilizou, vivenciando insegurança com relação à vitória aparente. Mas aquele que se conquista a si mesmo, esse atingiu a meta estabelecida pelo processo evolutivo e é feliz.  

Texto trabalhado com base no livro EM BUSCA DA VERDADE, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado no dia 14/04/2014.

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