segunda-feira, 18 de agosto de 2014


JESUS E O AMOR

De todos os ensinamentos de Jesus, de toda a Sua vivência profunda, o amor estabelece-se como ápice da manifestação humana, e ponto de convergência com o divino. “A Lei natural”, dirá Joanna de Ângelis, no livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, na pg.15 e 87, “que vige em todo o Universo, é a de amor, que se exterioriza de Deus mediante a Sua criação...e na perspectiva da psicologia profunda o ser vive para amar e ser amado, iluminar a sombra e fazer prevalecer o Self.”

Recordou que o mandamento maior seria “Amar a Deus sobre todas as coisas”...e que um segundo se lhe derivava – “Amar ao próximo como a si mesmo”. O amor a si mesmo, ao contrario do que possa parecer, está longe de significar egoísmo. Não se trata de centrar-se no ego, mas centrar-se no Self, perceber-se portador de inúmeros recursos que se encontram adormecidos, e pela vinculação do sentimento do amor por si mesmo, investir todos os recursos que se façam necessários para tornar-se pleno, individuado.

A autocondenação, o autodesamor, o comportamento autodestrutivo, sinalizadores da baixa autoestima, transformam-se em algozes terríveis da criatura humana, que enquanto não se liberta dessas pulsões de morte - tânatos, permanece em comportamentos autodestrutivos. Isso afeta não somente a compreensão do nosso mundo interno, mas a relação com os outros, e como asseverou o filósofo Kierkegaard (apud May, 1972):

Se a pessoa não aprender com o cristianismo a amar a si mesma de maneira correta também não poderá amar aos seus semelhantes... amar a si mesmo corretamente e aos semelhantes são conceitos absolutamente análogos e, no fundo, são idênticos...”

Munidos do autoamor, nossas relações tornam-se mais profundas, verdadeiras, porque é a essência do nosso ser que delas participa, e não a persona, a superficialidade que marca os interesses escusos ou mascara nossa insegurança.

Jesus, por ser integral, pleno em si mesmo, dedicava-se ao próximo como nenhum outro o fez, e “na condição de peregrino do amor, demonstrou como é possível curar as feridas do mundo e dos seres humanos com a exteriorização do amor em forma de compaixão, de bondade, de carinho e de entendimento.” Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, pg.89

À lei de talião e do ódio ao inimigo, então vigentes, representantes do primitivismo e brutalidade nos quais se encontram as criaturas, Ele propõe um novo mandamento:

- “Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que os perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque Ele faz nascer o Seu sol sobre os maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”. (Mateus 5:43-46)

O Mestre sabia, no entanto, que não eram somente os inimigos externos que mereceriam nosso amor e compaixão, pois “os inimigos mais cruéis permanecem no imo das próprias criaturas, que as vitalizam com o orgulho, o egoísmo e o disfarce da acomodação social aparente” (ANGELIS, Jesus e Atualidade, p.114). Amar aos inimigos, canalizar a força da oração aos que nos perseguem, como Ele propôs, possibilita adicionalmente recolher a projeção dos nossos próprios conflitos, e solucioná-los na raiz, ou seja, em nosso mundo íntimo.

Esse amor desdobrava-se no perdão, não somente sete vezes, como questionava Pedro, “mas até setenta vezes sete” (Mateus 18:21-22). Diversos terapeutas da atualidade comprovam a eficácia do perdão, como a Dra. Robin Casarjian, estabelecendo que não se trata de negar os nossos sentimentos, como forma de se eximir da dor que às vezes eles trazem, mas, pelo contrário, poder a eles conectar-se de forma profunda e libertadora, desvinculando-se da força dos complexos gerados por situações embaraçosas e traumáticas.

Era necessário apresentar a “outra face”, a face luminosa do amor onde a sombra prevalecesse. Complementa Joanna de Ângelis, no livro, Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, p.77.

À luz da psicologia profunda, o perdão é superação do sentimento perturbador do desforço, das figuras de vingança e de ódio através da perfeita integração do ser em si mesmo, sem deixar-se ferir pelas ocorrências afligentes dos relacionamentos interpessoais.”

Quando o homem e a mulher conseguirem amar a si mesmos, ativando os recursos internos de que se fazer possuidores, e, logrando fazê-lo, direcionarem o amor ao próximo, tal qual Ele ensinou, poderemos finalmente Amar a Deus acima de todas as coisas, pois como muito bem estabeleceu o apóstolo João, o Evangelista (4:20), “se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.”

E deixamos como reflexões finais deste capítulo as próprias palavras da benfeitora Joanna de Ângelis, no livro, Jesus e Atualidade, p.28, que em toda sua Série Psicológica estabelece o amor como sentimento sublime, e Jesus como representante máximo dessa vivencia:

Por amor, elegeu um samaritano desprezado, para dele fazer o símbolo da solidariedade.

Com amor, liberou uma mulher equivocada, tirando-lhe o complexo de culpa.

Pelo amor, liberou uma mulher equivocada, tirando-lhe o complexo de culpa.

Pelo amor, atendeu à estrangeira siro-fenícia que Lhe pedia socorro para a enfermidade humilhante.

De amor estavam repletos Seu coração e Suas mãos para esparzi-lo com os espezinhados, fosse um cobrador de impostos, uma adúltera, o filho pródigo, a viúva necessitada, ou a mãe enlutada.

Sempre havia amor em Sua trajetória, iluminando as vidas e amparando as necessidades dos corpos, das mentes, das almas.

Compadecia-se de todos; no entanto, mantinha a energia que educa, edifica, disciplina e salva.

Chorou sobre Jerusalém a hipocrisia e deu a própria vida em holocausto de amor.

Nunca se perdeu em sentimentalismos pueris ou agressividades rudes.

O amor norteava-Lhe os passos, as palavras e os pensamentos.

Tornou-se e prossegue como símbolo do amor integral em favor da Humanidade, à qual auspicia um sentimento humano profundo e libertador.”

Texto escrito por Cláudio Sinoti, no livro Refletindo a Alma. Postado dia, 18/08/14.

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