quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

TÉCNICAS DA GRATIDÃO
A gratidão pode ser considerada como condição para ser feliz, como definiu Albert Schwetzer, quando disse que ela é o segredo da vida.
Ele, sempre bendizia a vida, apesar dos dias nem sempre confortáveis em Lambaréné, na África Equatorial Francesa, onde mantinha sua obra de dignificação humana.
Sendo europeu da cidade de Kaysersberg, na Alsácia, quando transferiu-se com a esposa para Lambaréné, aquela região hostil, experimentou o áspero clima tropical, a elevada humidade do ar, na floresta densa, as condições quase inóspita para alguém que sempre viveu em região fria e civilizada, a falta de recursos para qualquer tipo de comodidade, e, apesar de tudo, manteve o sentimento de gratidão viva em sua existência, cantando louvores a Deus.
Ali, em condições desafiadoras ele escreveu duas grandes obras do século XX: A busca do Jesus histórico e Um tratado de ética.
A sua ética se expressava no : respeito pala vida, que ele defendia com sacrifícios até o máximo possível.
Analisar as bênçãos que a vida física oferece já é suficiente para se agradecer por estar vivo no corpo; pelo ar que respira; a água, o pão que a natureza traz, e as maravilhas que há em todo o cosmo; as noites estreladas, a força mantenedora do Sol e a tranquilidade magnética da lua, a brisa refrescante, a chuva generosa, a temperatura agradável... tudo que vibra merece gratidão.
Há os desastres sísmicos, tormentas de todo tipo, que merecem reconhecimento,  valorizando o que é saudável e dignificante.
Se todos os fenômenos existenciais fossem apenas agradável não haveria mecanismo válido para se promover o progresso moral do ser nem o desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade.
Envolvido no corpo somático material, o self é candidato à superar as circunstancias, trabalhando-se com esforço para alcançar a plenitude da sua função indestrutiva.
Inspirando o ego a modificar a estrutura do comportamento, possibilita-lhe, através do tempo, a visão inspiradora do desenvolvimento interno, diluindo a sombra que também se lhe torna motivação para a conquista de novas experiências, proporcionando-se bem-estar, que é essencial para uma vida compensadora.
Buscar essa sensação de alegria e satisfação é estimulo para o ego, mesmo que relutante, porque a falta desses pequenos prazeres aumenta o sentimento de culpa, frustra a autorrealização, empurra para transtornos complexos e doentios, que se transformam em doenças orgânicas por somatização.
É nesse impacto que surge a necessidade da gratidão, não só em relação ao que se recebe, mas, principalmente pelo que é possível oferecer-se, participando do espetáculo da vida em sociedade como membro atuante e não parasita prejudicial.
Sempre há quem justifique não ter muito para repartir, esquecendo que a maior doação nasce na grandeza do pouco, como a referência evangélica  da oferta da viúva pobre. Mesmo ela tinha algo para doar ao templo, obedecendo a lei que o estatuía.
Outras dádivas importantes, eram o da limpeza do santuário, do local em que as pessoas pisavam, a conservação dos objetos do culto, os cuidados a tudo que referia ao templo, por não terem nem a liberdade ou por rastejarem nas situações humilhantes do serviço detestado pelos orgulhosos sacerdotes, presunçosos e pobres de sentimentos...
A gratidão também pode se expressar de forma especial, como respeito e apreço, consideração e amizade, singelos padrões de comportamento social que deve haver em todo grupo humano.
O hábito de retribuir dádivas restringiu o sentimento gratulatório, tirando-lhe a beleza emocional. É claro que dividir o que tem com quem também oferece é passo avançado na psicologia da gratidão. Mas, precisa ser considerada aquela oferta que nasce do coração, sem outro motivo material que seja retribuição, transformando-se em oferta da gentileza, da alegria de viver, por ser parte da orquestra viva da sociedade.
Esses gestos espontâneos contribuem para a felicidade que se aspira, gerando situações positivas na vida, por modificarem os sentimentos do gentil doador, que se aureola de harmonia, pois o doar é sempre acompanhado pela imensa satisfação do assim agir.
Quem quer alcançar a saúde e a harmonia é convidado ao exercício na arte de oferecer e de oferecer-se.
 Em Atos dos apóstolos, há um momento encantador, quando Pedro e João saem do Templo de Jerusalém e os pobres, os enfermos, os aflitos estendem-lhes as mãos, suplicando auxilio monetário, especialmente um coxo que esperava a esmola em forma de moeda.
Percebendo-se sem tais recursos, Pedro, olhando João, diz com ênfase ao sofredor: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3:6)
Diante do assombro geral, o enfermo recuperou os movimentos, desvencilhou os membros paralisados e ergue-se jubilosamente...
A partir daí, dessa dádiva de amor, as pessoas colocavam os seus pacientes por onde os dois passavam, para que “a sua sombra cobrisse alguns deles” (At 5:15), esperando se curar.
Todas as coisas são boas e merecem respeito, mas as que são conseguidas como dádivas do sentimento, que não são compradas, tem valor emocional bem maior.
Ninguém pode se desobrigar de oferecer algo de si mesmo, contribuindo para o bem-estar geral, que começa com a oferta.
Sempre é melhor doar do que receber, porque aquele que doa é possuidor, já quem recebe a situação é de devedor, e uma das maiores dívidas que existe é a da gratidão, porque um socorro em momento especial define todo rumo da vida, que passa a dignificar-se, a crescer, a produzir, após esse instante significativo.
Quando se mata a fome ou a sede, oferece-se segurança e trabalho a quem os necessita, doa-se paz e alegria de viver àquele que se encontra no limite do desespero suicida, tudo que lhe ocorre é fruto daquele gesto salvador.
A dívida, ao que se recebeu não pode ser resgatada senão por outra vida.
Um indiano, cujo filho foi assassinado por um paquistanês, nos terríveis dias da guerra entre as duas nações, buscou o Mahatma Gandhi e contou a sua tragédia, pedindo-lhe ajuda orientação.
O sábio mestre meditou e respondeu:
- A única maneira de resgatar o seu crime é educar uma criança órfã paquistanesa como seu filho.
O interrogante argumentou:
- Mas somos inimigos e um deles matou o meu filho.
Tranquilo, fala o mestre:
- Tornamo-nos inimigos uns dos outros porque nos satisfaz. Somente porque o alucinado matou o seu filho, você não tem direito de retribuir-lhe o crime, tornando-se também homicida.
O homem, sensibilizado, adotou uma criança paquistanesa e fez dela um cidadão de bem.
Do livro Psicologia da Gratidão, ditado pelo Espirito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 24/02/16.



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