quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

HERANÇAS PETURBADORAS
A indiferença moral por tudo que se recebe da vida, dos missionários do passado que contribuíram para os tesouros que hoje são utilizados em forma de longevidade, conforto, saúde, ciência e tecnologia, repouso e conveniências agradáveis, responde pela ingratidão.
O ingrato é responsável por dissabores e desencantos que afetam o núcleo e o grupo social em que se encontra em ação.
Se a claridade é benção que facilita realizações, a treva cria dificuldades para as mesmas atividades.
Assim é o ingrato, que respira prepotência e soberba, na sua sofrida condição de explorador do esforço alheio.
Um motorista de taxi percebeu que, quando deixou um cliente no aeroporto, ele havia esquecido de carregar a pasta que ficou no banco traseiro. Preocupado, o modesto servidor deteve-se no retorno à cidade, parou o carro, examinou a pasta e encontrou-a cheia de documentos e de valores amoedados. Temendo o desastre para o desconhecido, fez a volta, acelerado, estacionou o veículo, correu ao terminal, lembrando-se da companhia que o cavalheiro indicara, à porta da qual deveria estacionar, correu na sua direção.
Com rara felicidade, encontrou o proprietário do  objeto que acabara de fazer o cheque-in  e parecia procurar a pasta  entre as duas sacolas de compras que carregava nas mãos.
Sorridente, acercou-se-lhe e entregou-lhe a maleta com todos os seus bens.
É certo que não esperava nenhuma retribuição. Estava feliz por poder fazer  o bem. Mas, o passageiro, agressivo e insensível, olhou-o com  espanto, como se houvesse suspeitado que fora ele quem retivera o seu volume, e não lhe disse uma palavra sequer, saindo com velocidade para a sala de embarque...
O motorista sentiu um frio percorrer-lhe a espinha e uma sensação de angustia.
Meneou a cabeça, aturdiu-se, e tomou o carro em direção à cidade.
No mesmo momento em que dava a partida, outro passageiro sinalizou-lhe que necessitava do veículo, ele parou e o estranho adentrou-se.
Pediu o endereço e partiu.
Estava atordoado e, de quando em quando, como se estivesse num monólogo pesado, meneava a cabeça.
O passageiro perguntou-lhe o que se estava passando.
Necessitado de uma catarse, ele contou a ocorrência, acrescentando: - Nunca mais devolverei qualquer coisa que fique no meu carro por esquecimento de quem quer que seja. E porque sou honesto, não ficaria para mim, mas preferirei atirar no lixo do que voltar para entregar.
E arrematou:
- Eu não desejava nada, nem o reembolso da despesa que me custou para lhe fazer a devolução. Tudo seria para ele somente prejuízo, porque ele nunca saberia onde procurar o seu volume, desde que nem anotou o numero da placa do meu carro...
Fez uma pausa e concluiu:
- O pior foi seu olhar severo de dignidade ferida, como a dizer que eu fui responsável pelo seu esquecimento, que lhe furtara a maleta,..
A gratidão é combustível para a claridade da vida, da mesma forma que a cera para o pavio de vela manter-se aceso. A ingratidão é bafio pestilento que contamina os outros com os seus miasmas e pode torna-los iguais.
Por que será que alguém se atribui tanto mérito que nem lhe ocorre algumas palavras de reconhecimento pelo que recebe? Onde está a sua superioridade que quer que sejam os outros que queiram sempre  servi-lo?
A ingratidão é síndrome de atraso moral e de perturbação emocional que infelizmente sempre grassou na sociedade de todos os tempos,.
Herança perturbadora, vindo dos atavismos iniciais da evolução, mantém o indivíduo no estagio de predador, tendo demonstrado que o ser humano é o maior entre todos, causando sempre prejuízos à natureza, à comunidade, à família e a si mesmo...
Tal patrimônio infeliz faz parte do conjunto de outros vícios morais e espirituais que conservam suas vítimas no atraso social. Sombra perversa, prejudica o discernimento do self,(do Ser verdadeiro, imortal, do Ser espiritual) demonstrando o estágio antigo em que o individuo parou. Encontra-se em pessoas simpáticas em relação aos estranhos, querendo apenas os conquistar, e grosseiras com   quem convivem, que as ajudam em silencio e dignidade, e que os detestam, porque lhes reconhecem a superioridade, a ingratidão vem da inveja doentia que não perdoa quem tem recursos superiores aos que porta. É rude de propósito, porque não podendo igualar-se, cria perturbação e desconfiança querendo puxar para baixo quem esteja em situação melhor.
Egotista, o ingrato só sorrir quando busca lucro e só é gentil quando quer projetar o ego.
No ponto de vista psicológico, a ingratidão é síndrome de insegurança e de graves conflitos íntimos que aprisionam o ser atormentado.
A gratidão deve ser treinada, para poder ser vivenciada.
Como as heranças perturbadoras predominam nos comportamentos humanos, pela demora do período em que se estabeleceram, é preciso que novos hábitos sejam fixados, substituindo os negativos, até poderem transformar-se em condutas naturais .
A convívio social torna-se difícil, por causa dessas heranças perversas do ego, que teima em não abandoná-las, satisfazendo-se na censura, quando podia educar, na acusação, quando seria melhor socorrer, na maledicência, quando é viável a referencia nobre, desculpando os acidentes morais do próximo.
O ser humano vive em constante evolução como tudo no planeta, no universo.
Não há uma lei de estancamento, pois conspiraria com o fatalismo da evolução e do processo ininterruptos.
Tudo evolui, nas etapas do programa de crescimento.
No ponto de vista moral, esse mecanismo sempre traz conquistas novas, enriquecimento interior se o indivíduo é lúcido para registrar cada etapa, para a alegria e gratidão pelos novos passos que mais o aproximam da meta, que quer alcançar.
Transformar, tais heranças doentias em experiências renovadoras é uma das metas a que se deve dedicar quem aspira ao bem, ao belo, ao amor, à vida...

Do livro Psicologia da Gratidão, ditado pelo Espirito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 11/02/16.

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