sábado, 26 de dezembro de 2015

SENTIMENTOS DE MÁGOA E DE DESENCANTO
No ser humano há um sentimento perverso e de autodestruição fazendo-o guardar mágoas e desencantos, como se fossem importantes para o seu desenvolvimento existencial.
O que é uma conduta masoquista, em que o individuo passa psicologicamente da alegria de ser para a satisfação de sofrer, vivendo atitude de vítima. Não conseguindo, por debilidade de valores morais, superar as situações menos felizes acomoda-se como sofredor, buscando compaixão, quando deveria lutar para despertar o sentimento do amor.
Numa vida prolongada percebe-se que as mágoas e desencantos, por serem muito comentados, parecem mais numerosos do que os momentos de risos, de felicidade, de harmonia, de aspirações belas e generosas...
Vê-se que as pessoas preferem a postura de não amadas do que a de pessoas amorosas.
A pessoa lamenta-se de nunca ter vivido a felicidade, embora tenha casado, foi mãe... Se lhe disser que foi amada, talvez antes do casamento, e que também amou, mesmo depois, quando começaram as dificuldades, foge para a bengala psicológica, perguntando:
- Que adiantou, se logo vieram as decepções e as mágoas?
Afirmando-se-lhe que a felicidade de ter sido mãe, mesmo sob o ponto de vista fisiológico, enriqueceu-na de momentos de alegria e prazer, busca o falso mecanismo defensivo:
- Deus sabe quanto são ingratos e indiferentes tais filhos...
Com essa conduta doentia, só foram registradas as angústias e frustrações, talvez trazidas por ela mesma.
Dessa forma, o sentido existencial  transformou-se em contínuo sofrimento, pelo predomínio do ego em toda a jornada.
O sofrimento é fundamental em todas as vidas,  ninguém se livra de sua presença, pela transitoriedade do corpo físico.
Podemos ver o sofrimento de dois modos: pelo ego marcado por complexos inferiores, ou pelo self idealista. O ego só anota decepção e dor, porque os valoriza, sem pensar que tal fenômeno é normal está presente na estrutura orgânica de todos, e o self extrai os melhores efeitos da reflexão enquanto dura, o significado moral, os recursos aplicados para superá-lo ou sofre-lo sem martírio, sem projeção do ego renitente e doentio.
Não precisa ser religioso para esse comportamento, porque é também logoterapêutica, por oferecer sentido existencial ao ser humano.
Muitas propostas filosóficas e psicológicas  estão enraizadas nos princípios religiosos mais antigos, desempenhando o papel dessas doutrinas antes que as mesmas fossem formuladas. Com o crescimento intelectual e tecnológico se desdobraram, como ocorreu,  com a psiquiatria que se ampliou na psicologia e que por sua vez se ampliou em várias escolas de comportamento, de terapia, de estruturação da psique e da personalidade.
Por isso, aqueles que acham que a psicologia é uma doutrina nova, resultado da elaboração  recente, enganam-se, porque os seus princípios modernos tem raízes nas religiões da Antiguidade como nos postulados da filosofia e das crenças populares de todos os tempos.
O ser humano é o enigma de si mesmo e, sempre houve interesse de conseguir-se a sua interpretação para melhor entendê-lo.
Primeiro os filósofos buscaram compreender o fenômeno da morte para decifrar os conflitos e os medos que se instalavam.
Os chamados mortos se preocuparam de desmistificar a ocorrência apavorante, demonstrando que a vida continuava em outras condições vibratórias. Daí, surgiram as primeiras comunicações entre encarnados e desencarnados, sem se perceber a grandiosidade dos acontecimentos na intimidade das furnas primitivas onde se escondiam os perigos... O temor foi a primeira reação emocional diante do estranho. Para expulsar esses inesperados visitantes, que os assustavam, as práticas exorcistas, através de tudo que a sua imaginação e sensibilidade acreditavam ter poder mágico de os libertar dos  desaparecidos pela morte e, mesmo assim, voltavam. Nessa fase surgiram, os cultos religiosos, alguns temíveis, conforme com o estágio antropológico que viviam, sutilizando-se  até quando foi possível a concepção dos recursos imateriais, de grande importância emocional, como a oração, a prática do bem, o sentimento de fraternidade em relação a todos, a ação nobre da caridade...
Apesar dessa bela conquista psicológica, os atavismos perturbadores sempre ressumam no processo da evolução, sendo necessário que os compreendam e os combatam, com o esforço da autoconfiança, da autoresponsabilidade, da autoiluminação.
A mágoa corrói os mecanismos eletrônicos do cérebro que passa a sofrer as ondas sucessivas de energia destrutiva, abrindo espaço para distonias no conjunto das reflexões e do comportamento, influenciando os sistemas nervoso simpático e parassimpático, e outros distúrbios. O ressentimento é ferrugem nas engrenagens da alma, que precisam do lubrificante da confiança e da alegria de viver, possibilitando bem-estar e alegria pessoal.
Todo indivíduo lutador, atento ao cumprimento dos deveres, com a mente cheia de ideias edificantes e de preocupações positivas, dispõe de um arsenal de recursos para os enfrentamentos e as incompreensões que encontra pelo caminho. Ninguém passa pela Terra por caminhos sempre floridos e, mesmo quando há muitas rosas, há também muitos espinhos com finalidade de protege-las.
Querer uma vida física sempre risonha e fácil é imaturidade psicológica, estado de infância não vivida, transferida para a idade adulta, pois em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é um contínuo parto que proporciona vida, mas que traz também um quantum de dor.
Todos que alcançaram o equilíbrio emocional e espiritual passaram por pântanos morais entre amigos, correligionários e adversários, sem se deixar abater ou continuar nas faixas de sofrimento. Superaram muitos desertos e experimentaram solidão e quase ficaram desamparados. Mas, por ter se mantido com o pensamento no êxito e não só no caminho a percorrer, alcançaram os degraus róseos do sentido existencial, da vida plena, sem ressentimento, porque perceberam que a alegria sempre esteve presente no período difícil de esforço e de sacrifício.
Compreenderam que a semente que quer ser árvore deve arrebentar-se para atingir o destino que lhe está reservado. E, quando o faz, veste-se de vitalidade e ferve, crescendo e ficando bela, até quando explodir em flores e frutos, sementes e lenho a que está destinada.
Assim é o homem, que precisa vivenciar as transformações naturais que o arrancam do estágio de criança maltratada para o da maturidade de adulto realizado.
Nesse processo está embutida a gratidão à vida e à oportunidade de ser pleno.
Texto trabalhado do livro Psicologia da Gratidão, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Elaboração de Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 26/12/15.




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