sábado, 12 de dezembro de 2015

A CONQUISTA DO SI

A encarnação do Espírito deve ser dirigida para a conquista do Si-mesmo.

Herdeiro das experiências evolutivas no caminho dos instintos para razão, para o discernimento, para a conquista da consciência, descobrindo o ser imortal que é, cuja trajetória ilimitada contínua vai além da encarnação.

O inconsciente coletivo que nele se encontra, na maioria das vezes resulta das vivências nos referidos períodos antropológicos, no caminhar de uma para outra faixa da evolução,  física, moral ou transcendental.

Armazenadas no Self (Eu profundo) são essas  tentativas de acerto e de erro, que lhe mapeam as novas caminhadas corporais. Por isso, a sombra  resultante dos conflitos nos refolhos da psique, normalmente surge-lhe ameaçadora criando dificuldades de raciocínio, de comportamento saudável, de harmonia.

Iniciando o desenvolvimento do Si-mesmo, como simples e ignorante, sem conhecimentos,  habilidades ou treinamentos, aos poucos, como a semente na terra, vão-se lhe desenvolvendo os germes da sabedoria adormecida, experienciando os jogos dos sentidos, avançando para a lógica e o raciocínio, dando lugar aos atavismos primitivos que devem ser ultrapassados sem traumas nem choques emocionais.

A medida que se tornam mais complexas as  possibilidades que tem para evoluir, surgem-lhe as marcas dos hábitos ancestrais que insistem em prendê-lo no já conhecido, já desfrutado, confundindo os valores de qualidade com as comodidades do prazer.

Atraído pelo Deotropismo (movimento irresistível para Deus) ou (atração irresistível para Deus)da sua origem, não  pode fugir do conflito entre o que tem sido e o que lhe espera. Nem sempre, aspira por situação ou condição melhor de vida, bastando-lhe o atendimento das necessidades fisiológicas básicas, em esquecimento proposital ou não das psicológicas essenciais para a individuação.

Quando descobre o significado existencial e não tem ainda a maturidade emocional indispensável, busca a transformação interior com exigências descabidas e sacrifícios que se impõe, sem perceber que a violência não faz parte do programa de uma vida feliz.

Em face da desorientação religiosa do passado, e , infelizmente ainda presente em muitos setores da sociedade, impõe-se a fuga do mundo, buscando o isolamento, que é um adversário do bem-estar humano, já que gregário, necessita do convívio, do relacionamento com o seu próximo, resultando em profundas frustrações interiores levando-o a desastres psicológicos ou ao abandono da opção...

Outras vezes, entrega-se ao transtorno masoquista, propõe-se sofrimentos injustificáveis, que faz crescer o desconforto emocional e o desequilíbrio psicofísico.

A vida humana deve ser vivida numa pauta de deveres morais e espirituais, além dos sociais, familiares, como do corpo, estabelecidos para cada indivíduo, para que a carga imposta não seja superior às forças interiores, assim evitando os desastres nos insucessos.

O comportamento nas diretrizes convencionalmente chamadas normais são-lhe caminho de segurança para o avanço contínuo rumo à meta estabelecida.

Ao invés de imposições de fora para dentro, da aparência dos padrões estabelecidos pelo grupo social, são necessárias a lúcida interpretação das próprias necessidades e a condução tranquila e equilibrada de cada função ou ocorrência vivencial, para conseguir o estado saudável e progressista na marcha da iluminação.

Compreendendo que a sombra é normal e constante na psique, a sua fusão natural no Self  é o objetivo do autoconhecimento, da conquista que o desaliena, permitindo-lhe melhor visão da realidade e do que o cerca.

Tal identificação – do que deve fazer o como fazê-lo, superando as marcas do passado – abre-lhe espaços mentais e emocionais para ser feliz.

Nesse labor consciente, racional e objetivo, a individualidade cresce e desenvolve-se, permitindo  surgir valores até então não considerados, que são elementos superiores para uma vida com sentido nobre.

A conquista do Si-mesmo nem sempre é  compreendida, no seu significado verdadeiro. Muitas vezes crê-se referir a mística religiosa ou a tradições filosóficas orientais do passado. Tem razão no significado, mas não na proposta, porque as doutrinas orientais, descobrindo a realidade do ser que se é, encontraram na meditação, na yoga, nas  técnicas de concentração e de abstração em relação ao tempo e aos sentidos, excelente instrumento pedagógico para a autoconquista.

Algumas religiões procuraram auxiliar o ser a superar os conflitos, e desconhecendo-lhes a intensidade e origem, estabeleceram normas, umas felizes, outras nem tanto, para que o fiel tivesse um fio de Ariadne para sair do labirinto existencial em que se encontra. A partir das regras estabelecidas, entre outros, por Inácio de Loyola, os exercícios espirituais tem trazido resultados positivos aos que os praticam de forma racional e sem fanatismos.

A concentração racional com meditação reflexiva também é instrumento de fácil aplicação diária para a conquista do Self, ( do Ser real, do Eu profundo) por proporcionar o autoconhecimento, a observação do que se é, descobrindo-se os tesouros ao alcance, pelo o vir-a-ser.

Aquele que se impede a autoidentificação, fica na periferia da vida, sendo facilmente perturbado ante os acontecimentos, sempre considerando-os perturbadores e sem significados, porém quando são enfrentadas conscientemente, podem transformar-se em importantes conquistas de plenificação interior.

Ninguém deve se afligir por ser humano, ter inclinações tormentosas, resultantes de experiências frustradas, que serão superadas com disciplina e vontade resultante da escolha das aspirações, constante da agenda de cada um.

Quando o indivíduo se compreende, entendendo, o ser que é, fica mais fácil enfrentar os desafios e os problemas, porque, libertando-se dos complexos de inferioridade, da necessidade da culpa, e da autopunição, considera tais desafios essenciais à evolução. É natural que todo processo de transformação peça sacrifício e luta. Às experiências psicológicas, devem ser analisadas com decisão firme de superá-las, com o fim de produzir bem-estar e alegria, pela oportunidade de encontrar-se ativo, produzindo sempre para melhor.

A essa conquista denomina-se, do bem, porque traz satisfações elevadas, que levam a resultados saudáveis.

Quem se conhece tem sabedoria, estando a um passo da autoiluminação que o faz muito feliz.

Avançar seguro, sem conflitos que trazem transtornos de vários tipos, é conquista ao alcance de quem escolhe a consciência integral de Si-mesmo.

Quem se desconhece anda inseguro e enfermo emocional, busca soluções de fora, desenvolvendo processos de transferência de culpa, para poder suportar-se, não cair em situações de desajustes psicológicos mais graves e lamentáveis.

O objetivo da vida na Terra é autoconhecer-se,  penetrar os abismos do inconsciente atual, para descobrir os objetivos da vida, enquanto conquista instrumentos para alcançar a superconsciência e captar as mensagens superiores da imortalidade, que o convidam à autosuperação das dificuldades enquanto desenvolvem as aptidões dignificadora.

Não se consegue a paz sem a harmonia entre a psique, a emoção e o físico. Não será pela ausência de acontecimentos desagradáveis, que sempre ocorrerão, mas sim por compreendê-los como necessários, responsáveis pelo progresso e as inevitáveis transformações após descobri-los.

Quem atinge o ponto mais alto do monte, já venceu todos os obstáculos do caminho... Nenhuma ascensão é fácil, da mesma forma a transformação para melhor.

É compreensível que haja uma aceitação normal do estado em que muitos se encontram, acomodados às circunstâncias, sem aspirações importantes.  Nesse nível de consciência de sono as necessidades são as orgânicas, como; alimentar-se, dormir, fazer o sexo, num círculo de automatismos primários. Como o progresso é inevitável, aos poucos despertam as ambições emocionais, por saturação das físicas, e ocorre a mudança para o nível de consciência desperta (ainda semiadormecida, porque há prevalência da anterior), aparecendo desejos não habituais, desconforto em relação ao já vivido, insatisfação diante da vida...

O Self desenvolve-se pelos esforços existenciais que lhe possibilitam o despertar dos tesouros adormecidos, produzindo a imaginação, a ambição de crescimento, o desejo de conquistas novas. São, saudáveis, alguns estados de mal-estar, de queixa, de tristeza, desde que não se transformem em sofrimento, em hábito doentio de reclamação, em que a pessoa justifica a sua inercia.

Quem satisfaz com o habitual encontra-se em demorado sono de consciência, esperando que a dor o acorde, para a partir daí buscar a renovação e a disposição de mudanças psicológicas, para novas aspirações que lhe serão objetivos a serem trabalhados.

O Si-mesmo ( o Ser espiritual, o Ser eterno) é a fonte da vida do corpo em suas expressões: psíquicas, emocionais e físicas. Nele é que estão os dínamos que geram todos os recursos para a vida humana, quando livre das pressões do processo material na Terra, ideal e numinoso, avança para à plenitude.

O ser consciente deve dirigir todos os esforços para a autoconquista, para superação das forças atávicas do passado e para atrair os patrimônios iluminados da superconsciência.

Seria um retorno, à deusa, uma reconquista do que foi mal aplicado ou perdido pelos caminhos da evolução.

O vencedor, que alcança o entendimento lógico da vida, torna-se modelo e arrasta outros, porque o seu exemplo de felicidade contagia todos que se encontram na infelicidade e na insegurança.

Esse talento sublime que a vida dá a todos – a oportunidade de evoluir e de descobrir o infinito – precisa ser multiplicado, para que o Senhor da Abundância se regozije e propicie a conquista do reino dos Céus, que se encontra nele e precisa exteriorizar-se.

Quem conquista os outros, perde-se em conflitos, pelos métodos utilizados nem sempre nobres, está sempre inseguro na aparente vitória. Mas aquele que se conquista a si mesmo, atingiu a meta estabelecida pelo processo evolutivo e é feliz.



Texto trabalhado do livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, Psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria Azevedo Farias. 12/12/15.

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