sábado, 29 de abril de 2017

GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS

VIVER COM ESTOICISMO

Uma existência humana pautada nas diretrizes do Evangelho de Jesus enfrenta contínuos desafios que acabam sendo oportunidades excepcionais para propiciar a auto-iluminação.

Vivendo-se numa sociedade hedonista por um lado e pessimista por outro, a escolha de uma conduta estoica torna-se o caminho mais viável para a conquista da paz e dos estímulos que propicionam a correta desincumbência dos deveres.

Consciente de que o processo da evolução desenvolve-se do interior para o exterior do ser, o candidato ao crescimento espiritual não pode furtar aos testemunhos que exigem coragem e robustez de ânimo.

Nascido praticamente nas reflexões de Heráclito, o estoicismo se radica na crença da substancia; portanto, de algo que não morre quando sucede o fenômeno biológico da desintegração orgânica, constitui-se uma doutrina que, de alguma forma, adota o comportamento socrático-platônico.

Embora os mais belos exemplos de estoicismo na filosofia hajam sido demonstrados por Lúcio Anneo Sêneca, preceptor de Nero que, alucinado, invejoso e ciumento, propôs-lhe o suicídio duplo, cortando as artérias dos braços, tendo os pés em água morna, para que a morte seja mais rápida e logo sorvendo cicuta, já avançado em anos. Epícteto e Marco Aurélio, que escreveu pensamentos de grande beleza na  batalha, em diversos postulados lembra o Evangelho de Jesus, sem a profundidade do exemplo proposto pelo Mestre nazareno.

Na acepção do termo estóico, a morte, não inspirando medo, não pode ser solução para o abandono dos compromissos terrenais, conforme considerava o próprio Sêneca...

O exemplo de coragem demonstrado por Sêneca pode, também, ser considerado medo ao devasso imperador, que dominava através da impunidade de que se achava investido como divino.

Nero, que governou com equidade nos primeiros cinco anos do seu império, demonstrou a sua demência quando passou a viver os delírios do poder, inclusive quando, mandou assassinar sua mãe Agripina, que, já havia, assassinado o imperador Cláudio, seu marido, depois de fazê-lo adotar o sicário que se fez imperador... E esse filho mandou mata-la, só porque ela censurou a sua concubina...

Um regime de indignidade e ostentação, de crimes hediondos como aquele, precisava de políticos nobres e cidadãos valorosos para os enfrentamentos, desapeando do poder o atormentado algoz do império.

Mas, logo depois do incêndio e da sua incriminação contra os cristãos, querendo reconstruir e embelezar Roma, as suas arbitrariedades atingiram tão terrível patamar que, perseguido, fugiu da cidade e, perseguido, sem coragem de suportar os efeitos da sua trágica vida, pediu ajuda a um escravo para encerrá-la de forma não menos ultrajante.

Um estóico, jamais se deixa abater ou desiste da luta honrosa na qual se encontra, trabalhando os metais do caráter social para que sejam atingidos os fins enobrecedores da vida.


A vida estoica é desenvolvida em amplo campo de luta contínua contra a degradação moral, a fraqueza dos sentimentos, a desonestidade, o crime, a submissão.

As virtudes desempenham um papel fundamental, especialmente destacando-se o bem, a clemência, o valor moral...

A proposta do estoicismo é a de viver-se de acordo com a natureza, seguindo-lhe os códigos soberanos.

O estoico é alguém que encontrou o sentido existencial e reconforta-se nos severos compromissos de auto-aprimoramento, descobrindo as fontes de uma vida digna por meio da prática das virtudes e vivendo-a em todos os passos da caminhada enobrecida.

Embora as não poucas atitudes sofistas de Sócrates, o seu idealismo levou-o a um julgamento arbitrário, infame, que enfrentou com dignidade, e à morte perversa, que aceitou estoicamente, sem queixas, consciente da sua imortalidade.

Nunca a cultura precisou tanto de valores estoicos para serem vivenciados como nestes dias.

Quando a decadência ética permeia os mais graves compromissos morais e sociais, destacando a corrupção como ocorrência natural no comportamento dos indivíduos, a exaltação do dever e da dignidade pelo exemplo é de necessidade imediata.

O ser social, muitas vezes enfraquecido nas lutas, fortalece-se no exemplo dos cidadãos que se fazem paradigmas da lealdade, do dever, da moral.

Ao lado das demonstrações de que era Filho de Deus, que tanto deslumbrou os Seus coetâneos, Jesus permanece como o exemplo máximo da incorruptibilidade, da fidelidade ao dever assumido perante o Pai em favor das criaturas humanas.

Em momento algum demonstrou fraqueza moral, e mesmo as Suas resistências orgânicas nos momentos extremos, ao apresentar-se debilitadas, não O impediram de tornar-se o maior exemplo de estoicismo por amor de que se tem notícia.

Buscar assemelhar-se-Lhe é o dever de todos que buscam uma vida harmoniosa, precedendo à vida real, quando por ocasião da imortalidade em triunfo.

Certamente, esta conduta não será plasmada de um para outro momento, mas através de contínuos acertos e erros, que irão estruturando a personalidade para o mister, ao tempo em que se desenvolvem os sentimentos morais em moldes próprios para o empreendimento.

Iniciam as experiências em nonadas, como a melhor forma de treinamento, para alcançar-se os investimentos mais importantes que tenham representação na economia moral e emocional de cada um.

Buscando-se o essencial, tudo que é secundário cede lugar a benefício da meta.

Nessa circunstancia, o amor desata as suas infinitas possibilidades em adormecimento, ampliando a capacidade de servir e de plenificar.

O estoicismo, faz parte da proposta ética do Cristianismo, por ser o método filosófico mais conforme com a moral do Evangelho de Jesus.

Perseverar no bem, quando outros desistem, manter a fidelidade, quando se extingue o entusiasmo, sustentar o dever, mesmo quando tudo parece conspirar contra os ideais elevados, confortar os caídos na retaguarda, reerguendo-os para o avanço, são conquistas importantes no processo da auto-iluminação, na construção do ser que se deseja transformar em modelo...

Começa a vida estóica no cultivo do solo do coração, onde se colocam as sementes da bondade e da esperança, para que se formem círculos de afetividade combativa, na dinâmica de bem servir com esquecimento da presunção pessoal e do orgulho.

O estóico, como o cristão, desconhece-se, não se acreditando melhor do que os outros, também não se considerando pior, mantendo a consciência plena da função existencial e de quanto deve realizar para atingir o objetivo da sua imortalidade.
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco, no livro, Libertação do Sofrimento, trabalhado por Adáuria Azevedo Farias.
29/04/2017

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