GRATIDÃO COMO NORMA DE
CONDUTA
Do ponto de vista teológico considera-se
a gratidão uma virtude como a fé, a esperança e a caridade.
Com uma observação cuidadosa
percebe-se que, para ser grato, é preciso
ter fé, ter certeza do significado da vida, dos seus valores e
possibilidades; é necessário crer no ser humano, considerando que, no momento da
transição para conquistas mais importantes, merece apoio e consideração para que
o ajudem a autossuperar-se, alcançando degrau mais elevado da evolução. Também,
no ato gratulatório está a esperança que
embeleza a vida, apresentando o futuro como algo a ser alcançado com a
vivencia dos sentimentos nobres, a certeza de que vale a pena todo e qualquer
investimento que dignifica. Por fim,
torna-se presente a essência da caridade, que é o significado do ato de agradecer, expressando o amor que é vital
para quaisquer investimentos de natureza moral e espiritual. Sem essa presença, a gratidão torna-se
pobre de vigor e de enriquecimento emocional.
Cada
experiência vivida no processo da evolução, como ocorre com a gratidão,
representa uma forma adequada de amadurecimento psicológico,
capaz de produzir harmonia interior e estimular o esforço para o
autocrescimento.
Ainda não livre dos
atavismos, o self investe esforços
para sublimar a sua sombra, ao mesmo tempo que influencia o ego a respeito da
necessidade de autotransformação das metas próximas para às transcendentes. Desmaterializar as ambições egoicas para
transcendê-las em forma de aspirações psicológicas profundas que dão significado
à vida deve ser o esforço constante no relacionamento com a persona. Fixada em interesses imediatos de respostas agradáveis, ainda
que mentirosas, a persona satisfaz-se
em manter-se vibrante, mesmo quando percebe não poder esconder as necessidades
emocionais daqueles que se submetem cativos ao seu encanto. Vestir-se de
realidade, desnudando-se das fantasias e dos mitos enganosos, deve ser a
proposta do si profundo, por conhecer que é legítimo e proporciona harmonia em
relação ao que é prazeroso, mas de gosto amargo e enfermiço para a emoção.
Ninguém pode viver escondendo
a sua realidade, por isso o tempo, sempre
tira os véus que disfarçam os contornos da vida e obscurecem a percepção da sua
autenticidade.
É essa teimosa fuga de si
mesmo que dá lugar a muitos conflitos e transtornos no comportamento, pelo consumo de energia emocional para parecer,
em vez de aplicá-la no esforço natural criativo e renovador para ser.
Arquétipos
novos podem, ser gerados, favorecendo a edificação dos significados da evolução,
enquanto outros perturbadores vão cedendo lugar às novas formulações que trazem
alegria pelo seu cultivo.
Quando se é capaz de
autoenfrentar-se sem receio e como fenômeno do autoamor, muitos tesouros da
emoção podem ser descobertos e a alegria
de viver deixa de ser por meio do consumismo e da troca de quinquilharias para
adquirir conteúdos valiosos de amor, de intercambio, de paz e de gratidão.
A
gratidão envolve-se em força estimuladora para todos os empreendimentos da vida,
tornando-se uma forma, uma norma de conduta.
Quem
é grato, naturalmente é abençoado pela felicidade, pela saúde, espalhando ondas
de júbilo que o envolve, contaminando todos
que se lhe aproximam. Habitualmente, as referencias falam do
contágio do mal, das doenças, dos dissabores, da infelicidade, embora também
ocorra o que se refere à alegria, à esperança, à comunicação alegre e feliz, ao
serviço edificante e à conquista da saúde.
O convívio com pessoas
saudáveis permite impregnar-se de estímulos que já não funcionavam. Diante de
alguém que sorrir abençoado pela conquista da harmonia pessoal, todos sentem desejo de alegrar-se também, de participar do
festival da alegria como ocorre com o botão de rosa que desata as pétalas,
exteriorizando o perfume que lhe é inerente, abrindo-se delicadamente à luz do
Sol.
Na etapa final da imaginação ativa é preciso que cada um faça
a sua experiência para que as verdades profundas se transformem em realidade. É o caso da gratidão, que precisa ser
vivenciada, já que ninguém pode defini-la por palavras, de modo que outro a
possa sentir ou entender.
Kierkegaard dizia que
ninguém pode dar a fé ao outro. Porque é uma conquista pessoal, intransferível.
É possível, crer-se no inacreditável, e aí estão embutidos os tabus e
superstições que vem do inconsciente coletivo e assumem realidade na imaginação
dos que acreditam. Essas heranças arquetípicas de tal modo estão vivas no inconsciente que, ao
ressumarem, modificam-se para realidades que impregnam os que as vive.
O
mesmo ocorre com a gratidão. É uma experiência pessoal, embora possa se
expressar coletivamente também, não sendo resultante de herança arquetípica, é
conquista do self, expressando
libertação do comportamento egoísta. Há conquistas que só se
originam na experiência, embora possam ser formuladas teoricamente, só se tornando
válidas quando é vivenciada.
Jung dizia que: “que cada
avanço, mesmo que seja o menor, através deste caminho de realização consciente,
acrescenta muito para o mundo.”
Para
que o indivíduo se liberte dos conflitos, especialmente dos que geram a
ingratidão, é necessário que tenha vida interior, que se organize internamente
para expressar ao mundo o que deseja e assim alcançará. Não
há por que ignorar-se o conflito, deve-se enfrentá-lo, envolvendo-o nos ideais
e aspirações, reunindo a dualidade (gratidão e ingratidão) num todo harmônico,
transformando-os em unidade (sentimento de gratidão) que passará a vigorar no
dia a dia existencial.
Às
vezes a gratidão parece um paradoxo. Por que agradecer, quando se pode continuar no prazer?
O prazer cansa, perde o sentido, produz tédio, exige renovação. Nenhum prazer
pode ter lugar no consciente sem uma liberação perfeita do inconsciente,
identificação dos fatores que o produzem, dentre os quais as pessoas e as
circunstancias envolvidas. Ignorar essas condições é manter-se em delírio
distante da realidade, que se impõe pela própria razão de ser. A gratidão, pode parecer paradoxal, por
manifestar-se também quando acaba o prazer, quando surgem a dor e a desdita,
como sentido natural do processo da vida. Não fosse assim se viveria numa
fantasia ativa que sempre alcançará a realidade existencial.
Não
há paradoxo, na
gratidão em todas e quaisquer circunstancias, como sentimento de júbilo pela
presença da vida triunfante.
Aplique-se o enunciado de
Nietzsche, quando diz:“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que
precisarás passar para atravessar o rio. Ninguém, exceto tu!”.
Do livro Psicologia da
Gratidão, ditado pelo Espirito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo
Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 19/03/16.
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