sábado, 19 de março de 2016

GRATIDÃO COMO NORMA DE CONDUTA
Do ponto de vista teológico considera-se a gratidão uma virtude como a fé, a esperança e a caridade.
Com uma observação cuidadosa percebe-se que, para  ser grato, é preciso ter fé, ter certeza do significado da vida, dos seus valores e possibilidades; é necessário crer no ser humano, considerando que, no momento da transição para conquistas mais importantes, merece apoio e consideração para que o ajudem a autossuperar-se, alcançando degrau mais elevado da evolução. Também, no ato gratulatório está a esperança que embeleza a vida, apresentando o futuro como algo a ser alcançado com a vivencia dos sentimentos nobres, a certeza de que vale a pena todo e qualquer investimento que dignifica. Por fim, torna-se presente a essência da caridade, que é o significado do ato de agradecer, expressando o amor que é vital para quaisquer investimentos de natureza moral e espiritual. Sem essa presença, a gratidão torna-se pobre de vigor e de enriquecimento emocional.
Cada experiência vivida no processo da evolução, como ocorre com a gratidão, representa uma forma adequada de amadurecimento psicológico, capaz de produzir harmonia interior e estimular o esforço para o autocrescimento.
Ainda não livre dos atavismos, o self investe esforços para sublimar a sua sombra, ao mesmo tempo que influencia o ego a respeito da necessidade de autotransformação das metas próximas para às transcendentes. Desmaterializar as ambições egoicas para transcendê-las em forma de aspirações psicológicas profundas que dão significado à vida deve ser o esforço constante  no  relacionamento com a persona. Fixada em interesses imediatos de respostas agradáveis, ainda que mentirosas, a persona satisfaz-se em manter-se vibrante, mesmo quando percebe não poder esconder as necessidades emocionais daqueles que se submetem cativos ao seu encanto. Vestir-se de realidade, desnudando-se das fantasias e dos mitos enganosos, deve ser a proposta do si profundo, por conhecer que é legítimo e proporciona harmonia em relação ao que é prazeroso, mas de gosto amargo e enfermiço para a emoção.
Ninguém pode viver escondendo a sua realidade,  por isso o tempo, sempre tira os véus que disfarçam os contornos da vida e obscurecem a percepção da sua autenticidade.
É essa teimosa fuga de si mesmo que dá lugar a muitos conflitos e transtornos no comportamento, pelo consumo de energia emocional para parecer, em vez de aplicá-la no esforço natural criativo e renovador para ser.
Arquétipos novos podem, ser gerados, favorecendo a edificação dos significados da evolução, enquanto outros perturbadores vão cedendo lugar às novas formulações que trazem alegria pelo seu cultivo.
Quando se é capaz de autoenfrentar-se sem receio e como fenômeno do autoamor, muitos tesouros da emoção podem ser descobertos e a alegria de viver deixa de ser por meio do consumismo e da troca de quinquilharias para adquirir conteúdos valiosos de amor, de intercambio, de paz e de gratidão.
A gratidão envolve-se em força estimuladora para todos os empreendimentos da vida, tornando-se uma forma, uma norma de conduta.
Quem é grato, naturalmente é abençoado pela felicidade, pela saúde, espalhando ondas de júbilo que o envolve, contaminando todos que se lhe aproximam. Habitualmente, as referencias falam do contágio do mal, das doenças, dos dissabores, da infelicidade, embora também ocorra o que se refere à alegria, à esperança, à comunicação alegre e feliz, ao serviço edificante e à conquista da saúde.
O convívio com pessoas saudáveis permite impregnar-se de estímulos que já não funcionavam. Diante de alguém que sorrir abençoado pela conquista da harmonia pessoal, todos sentem  desejo de alegrar-se também, de participar do festival da alegria como ocorre com o botão de rosa que desata as pétalas, exteriorizando o perfume que lhe é inerente, abrindo-se delicadamente à luz do Sol.
Na etapa final da imaginação ativa é preciso que cada um faça a sua experiência para que as verdades profundas se transformem em realidade. É o caso da gratidão, que precisa ser vivenciada, já que ninguém pode defini-la por palavras, de modo que outro a possa sentir ou entender.
Kierkegaard dizia que ninguém pode dar a fé ao outro. Porque é uma conquista pessoal, intransferível. É possível, crer-se no inacreditável, e aí estão embutidos os tabus e superstições que vem do inconsciente coletivo e assumem realidade na imaginação dos que acreditam. Essas heranças arquetípicas de tal modo estão vivas no inconsciente que, ao ressumarem, modificam-se para realidades que impregnam os que as vive.
O mesmo ocorre com a gratidão. É uma experiência pessoal, embora possa se expressar coletivamente também, não sendo resultante de herança arquetípica, é conquista do self, expressando libertação do comportamento egoísta. Há conquistas que só se originam na experiência, embora possam ser formuladas teoricamente, só se tornando válidas quando é vivenciada.
Jung dizia que: “que cada avanço, mesmo que seja o menor, através deste caminho de realização consciente, acrescenta muito para o mundo.”
Para que o indivíduo se liberte dos conflitos, especialmente dos que geram a ingratidão, é necessário que tenha vida interior, que se organize internamente para expressar ao mundo o que deseja e assim alcançará. Não há por que ignorar-se o conflito, deve-se enfrentá-lo, envolvendo-o nos ideais e aspirações, reunindo a dualidade (gratidão e ingratidão) num todo harmônico, transformando-os em unidade (sentimento de gratidão) que passará a vigorar no dia a dia existencial.
Às vezes a gratidão parece um paradoxo. Por que  agradecer, quando se pode continuar no prazer? O prazer cansa, perde o sentido, produz tédio, exige renovação. Nenhum prazer pode ter lugar no consciente sem uma liberação perfeita do inconsciente, identificação dos fatores que o produzem, dentre os quais as pessoas e as circunstancias envolvidas. Ignorar essas condições é manter-se em delírio distante da realidade, que se impõe pela própria razão de ser. A gratidão, pode parecer paradoxal, por manifestar-se também quando acaba o prazer, quando surgem a dor e a desdita, como sentido natural do processo da vida. Não fosse assim se viveria numa fantasia ativa que sempre alcançará a realidade existencial.
Não há paradoxo, na gratidão em todas e quaisquer circunstancias, como sentimento de júbilo pela presença da vida triunfante.
Aplique-se o enunciado de Nietzsche, quando diz:“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio. Ninguém, exceto tu!”.
Do livro Psicologia da Gratidão, ditado pelo Espirito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 19/03/16.







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