sábado, 23 de junho de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS

A VIDA E A GRATIDÃO

Jung afirmou que a finalidade da vida não é a conquista da felicidade, mas a busca de sentido, de significado.

É o mesmo que dizer que a felicidade, conforme vulgarmente se pensa, é a conquista da alegria, o júbilo por determinadas aquisições, o êxito diante de algum empreendimento, a viagem ao país dos sorrisos. Sem dúvida, essas emoções que vem do prazer e do bem-estar estão muito próximas da felicidade, que é portadora de mais complexidades psicológicas do que se pode imaginar.

No conceito junguiano, o sentido existencial, o seu significado transpessoal, é mais importante do que as sensações que decorrem do ter e do prazer, e transformam-se algumas vezes em emoções que duram algum tempo. Embora, analisando-se o fenômeno, pode-se facilmente constatar que tudo que traz prazer tem caráter efêmero, transforma-se, abre espaço para outros nem sempre ditosos...A alegria de um dia transforma-se, muitas vezes, em preocupação no outro, em desgosto mais tarde. Essa felicidade risonha e simplória de um encontro, de uma explosão de afetividade ou de interesse atendido, de arrependimento e de mágoa...

O sentido, o significado existencial caracteriza-se pela busca interna , pela transformação moral e intelectual do indivíduo diante da vida, pelo aproveitamento do tempo na identificação do self com o ego. É um sentido profundo, a princípio de autorrealização, depois de autoiluminação, de autoencontro.

Necessário estar atento para melhor distinguir as sensações que produzem empatia e as emoções que enriquecem de harmonia. O ego prefere o mergulho nas sensações do poder, do gozar, do tocar e sentir, enquanto o self  anela o vivenciar e ser, ampliando os seus horizontes de gratidão.
                   
Quando a busca é de sentido, a pessoa não para para verificar o resultado das conquistas imediatas, porque não cessa o significado das experiências vividas e por vivenciar. Trabalha o ser interno, inundando-se da luz do conhecimento e da vivencia, de forma que todo encanto enche-o de beleza e de saúde. Mesmo que surja com algum distúrbio orgânico, isso não lhe é  impedimento para a continuação da sua necessidade de sentido, porque compreende que se trata de um acidente natural que faz parte do processo em que se encontra, avançando sempre em equilíbrio íntimo.

Esse significado estende-se a todas as formas de vidas, às mais variadas manifestações existenciais, dirigindo-se ao cosmo...

Conta-se que há muito tempo um circo muito famoso, que se apresentava em Londres, mantinha um elefante gentil que era motivo de alegria das crianças, dos adultos, dos idosos, de todos que iam ao espetáculo em que ele era a atração. Chamava-se Bozo, e era muito dócil. Bailava com o corpanzil,  movia-se com suavidade, deitava-se e erguia-se com leveza...

Para surpresa geral, um dia o paquiderme tentou atacar e matar o seu tratador, causando imenso desgosto. Porque agora urrasse colérico, ameaçando todos que se aproximasse da sua jaula, tornou-se um perigo público, e as autoridades pediram ao proprietário do circo que o eliminasse.
Diante da pressão, para não perder todo o dinheiro que Bozo representava, o seu dono resolveu utilizá-lo para um último espetáculo, quando ele deveria morrer publicamente, e, para isso, anunciou a futura ocorrência e vendeu ingressos para o trágico acontecimento.

No sábado marcado, pela manhã, antecipadamente anunciado, o circo estava repleto de curiosos e de insensíveis que foram para ver a morte do animal que antes os distraia, numa demonstração cruel e selvagem de indiferença.

Na jaula circular, o animal movimentava-se agressivo, emitindo sons estranhos e arrepiantes.

Do lado de fora, os homens uniformizados, se preparavam para o final terrível.

Nesse momento, enquanto o proprietário anunciava o fatídico acontecimento que logo aconteceria, alguém se aproximou dele, tocou-lhe o ombro e disse quase com doçura:
- Não lhe seria mais útil se o senhor pudesse manter vivo o animal?
O empresário respondeu, quase com rispidez:

- Não tenho como poupá-lo, pois ele enlouqueceu e pode matar alguém.

- permita-me, então, entrar na jaula e acalmá-lo, num curto tempo em que possa falar.

Estranhando, o dono do circo olhou para aquele homem de pequena estatura e disse:
- Se eu consentisse uma loucura dessa, o elefante o faria picadinho, matando-o  impiedosamente.

O estranho disse - Eu correrei o risco –. – E para poupá-lo de problemas ou contrariedades, assinei este documento que lhe entrego , assumindo toda a responsabilidade pelo meu ato.

O empresário olhou o papel de relance, anunciou ao público a proposta, e a massa, desejosa de sensações fortes, como no circo romano do passado, aplaudiu.

A porta de ferro abriu e o homem entrou na jaula. O elefante parecia irritar-se ainda mais, parando o movimento circular,  enquanto o visitante dizia-lhe baixinho, palavras que ninguém entendia, num tom melódico, fazendo lembrar uma canção mantrica. Ouvindo-o, o animal foi-se acalmando, deixou de balançar-se, os olhos injetados recuperaram a expressão habitual, o estranho aproximou-se mais, tocou-lhe na tromba e delicadamente puxou o paquiderme, fazendo um circulo em torno da jaula, com a sua maneira característica muito conhecida.

O público, surpreso, aplaudiu o ato.

O visitante da jaula saiu calmamente da forma como entrou, pegou o chapéu-coco e o paletó, vestindo-os e saiu, sem nem olhar à mão estendida do agora feliz proprietário de Bozo.

Olhando para trás, explicou:

-Bozo não é mau. Ele só estava com saudades do hindustani, o idioma em que ele foi amestrado. Como era um elefante hindu, ele estava com saudade da sua terra,  da língua materna , e acalmou-se, reconquistando a sua paz.

E não apertou a mão do diretor do circo.

Surpreso, o ambicioso proprietário olhou com mais cuidado o documento que tinha na mão espantou-se mais ainda, porque quem o assinara havia sido Rudyard Kipling, o amigo dos animais que havia escrito muitas histórias sobre eles, traduzidas em vários idiomas.

A gratidão de Kipling ao animal saudoso devolveu-lhe a vida, e Bozo, ouvindo a música doce do idioma a que estava acostumado, expressou a sua gratidão, recuperando a calma.

Gratidão, também é uma forma de sentido existencial, de significado da vida, que poucas pessoas sabem aplicar no seu desenvolvimento emocional.
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 23/06/2018.

Nenhum comentário: