segunda-feira, 18 de junho de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS

O SIGNIFICADO DA GRATIDÃO

O verbete gratidão vem do latim gratia que significa graça, ou gratus que quer dizer agradável. Significando reconhecimento agradável pelo que se   recebe ou lhe é concedido.

A ciência da gratidão é a mais elevada expressão do amadurecimento psicológico do indivíduo, que o leva à vivencia do sentimento nobre.

Os hábitos de receber ajuda e proteção desde a fecundação, passando pelo desenvolvimento fetal  até a idade adulta, sem ter consciência do que lhe é oferecido, constrói o ego interessado apenas em ferir sem maiores responsabilidades.


Acumulando os favores que o promovem, só conquista a noção de valor do que lhe é oferecido quando o discernimento se faz presente na personalidade e o convida, à contribuição pessoal, que por não ter o hábito, de repartir, faz-se soberbo e presunçoso, atribuindo-se méritos que  ainda não acumulou.

A medida que os instintos abrem espaço para as emoções, o amor faz os seus primeiros passos em forma de bondade e gentileza com os outros, deixando perceber o desenvolvimento ético-moral. O amor está presente, nessa fase, pelo desejo de servir, de contribuir, de gratular...

Nessa fase, a da gratulação, o significado existencial torna-se relevante, trazendo mudança do comportamento egoísta e ensaiando as primeiras manifestações de gentileza, de altruísmo.

Quanto mais se desenvolve o sentimento afetivo, o sentido retributivo torna-se mais expressivo.  

No começo, é como uma emoção-dever, que auxilia libertando da ânsia de acumular e de reter. O entendimento facilita a compreensão de que tudo é movimento no universo, uma forma de dar e de receber, de conceder e de retribuir, e qualquer conduta estanque propicia a instalação de enfermidades, desajustes e morte.

A recompensa, sendo uma maneira simplista de retribuição, é o primeiro passo  para a futura gratidão.

Poucas vezes ocorre no adulto a emoção espontânea de agradecer, de bendizer os que contribuíram de maneira automática, mas também pela afetividade, para que ele alcançasse o patamar da existência em que se encontra. Quando se conscientiza dessa evocação, um hino de alegria canta no seu mundo íntimo. Não há lugar para exigência ante qualquer carência ou reclamação por não haver fruído de benesses que antes lhe pareciam importantes. Pensa que também age pelo hábito em  favor de outras vidas, da ordem, do progresso, do bem, ou, infelizmente, pelos fenômenos perturbadores que vigem na sociedade...  Descobre-se participando do contexto social, um tanto amorfo, sem sentido existencial feliz, deixando-se levar pelos acontecimentos...

O despertamento para a gratidão começa como uma forma de  louvor a tudo e a todos.

O santo seráfico de Assis, quando alcançou o estado numinoso, logo exaltou na sua volata de gratidão, ora doce, ora suave, o hino em favor de todas as criaturas: irmão Sol, irmã Luz, irmã chuva, vegetais, animais, e tudo que vibra e glorifica a criação.

Quanto mais exaltava o que parece a muitos insignificante ou sem valor, a sua riqueza gratulatória dignificava, ressaltando-lhes as qualidades.

Conforme um filósofo popular, a beleza da paisagem se encontra nos olhos daquele que a contempla. Não é exatamente assim que ocorre, mas há  uma dose alta de razão no conceito, porque só quem traz beleza e harmonia pode identificá-las em qualquer lugar que se encontrem. Não havendo essa sensibilidade no ser humano, não há como distinguir o banal do especial, o grotesco do belo, e etc... .

A gratidão, para ser legítima, pede que haja no intimo da criatura esse encanto pela vida, o doce enlevo que a torna preciosa em qualquer manifestação que se compreenda a magia do existir, percebendo-se as dádivas que se multiplicam em várias expressões de troca.

No outro sentido, o ingrato é aquele que se mantém no primarismo, sem perceber o objetivo essencial da existência. Criança maltratada que se detém na injúria e nas circunstancias iniciais do processo de desenvolvimento ético moral. Que se nega a crescer, conservando ressentimentos de acontecimentos de pequena ou grande importância, mas que encontraram aceitação emocional profunda, marcando com revolta a experiência do desenvolvimento emocional. Ninguém pode fecundar-se emocionalmente se reage aos fatores  mecanismo de maturação. É indispensável deixar-se triturar pelas ocorrências e superá-las pela autoestima e o autorreconhecimento.

A gratidão é sempre em relação a outrem, aos fenômenos existenciais, jamais ao orgulho e a presunção. Como se pode ser reconhecido a si mesmo, sem a queda no abismo do ego sem discernimento? Como ser grato ao ego,  incapaz de liberar da sua conjuntura o self,  responsável pela magnitude do ser em aprimoramento? Imagine-se a concha bivalve da ostra que não permite ser recolhida a pérola nela acrisolada. Para que tenha sentido real, rompe-se a crosta vigorosa e esplende a gema pálida e primorosamente construída.

Muitas vezes ou quase sempre é através da ruptura, da fissão que se pode encontrar além do exterior a pérola  adormecida na intimidade de tudo: o diamante mergulhado no carvão grosseiro, a estrela escondida além da nuvem e da poeira cósmica...

Agradecer, quer dizer inebriar-se de emoção lúcida e consciente da realidade existencial, não somente pelo que se recebe, mas também pelo que se gostaria de conseguir e pelo  que ainda não se é emocionalmente.

Despojando-se da escravidão da posse, colore o ser de bênçãos que distribui em sinfonia de gratidão.

Agradecer o bem que se frui e o mal que não aconteceu ainda, mas especialmente, quando ocorrer, fazer o mesmo, visando que só ocorre o que é necessário para o crescimento espiritual, conforme programado pela lei de causa e efeito.

Gratidão é como a na sua velocidade percorrendo os espaços e clareando todo o percurso, sem se dar conta, sem o propósito de diluir-se no facho incandescente conforme a sua conquista.

Um dos motivos fundamentais para a gratidão se expressar  é a humildade que faz com que se compreenda quanto  se recebe, desde o que se respira gratuitamente até os nobres fenômenos automáticos do organismo, preservadores da existência.

Nessa percepção da humildade, vem o sentimento de alegria por tudo quanto é feito por outros, mesmo que sem ter ciência, em favor, em benefício de outros. Essa identificação propicia o amadurecimento psicológico, facilitando compreensão de que ninguém é autossuficiente a tal ponto que não dependa de nada nem de ninguém, numa soberba que fica clara a fragilidade emocional.

Sem o sentimento de identificação das manifestações gloriosas do existir, a gratulação não vai além do devolver, de nada ficar devendo ao outro, de passar seguro pelos caminhos da vida, sem carregar débito...

Quando se é grato, alcançasse a individuação que liberta. Para  se alcançar, esse nível, o caminho é longo, mas atraente, fascinante e desafiador.
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 18/06/2018.



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