domingo, 19 de julho de 2015


EXERCÍCIO DA GRATIDÃO
As conquistas do conhecimento e da experiência de vida resultam do treino, do exercício.
Quando o self (eu profundo, ser real ou, ser espiritual) está em desenvolvimento, as emoções ainda se caracterizam pelas heranças do instinto, que se modificam aos poucos, até alcançar os estágios do amor e da gratidão. É natural que as condutas humanas durante esse processo estejam afetadas pelo egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo atribui-se méritos que não os tem e tudo que recebe considera consequência do seu mérito, do seu valor. A permanência da sombra dificulta-lhe o discernimento, impondo-lhe situações embaraçosas e perversas. Esse movimento demorado vai-se modificando conforme as experiências edificantes vão-se acumulando como resultado do treinamento, trazendo lucidez para  compreender a felicidade após descobrir o significado existencial.
O único sentido, de ser humano propõe como foco principal a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em plenitude, logo em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.
È necessário e urgente reservar espaço e tempo para o treino do perdão, assim como das outras expressões do amor, para descobrir a alegria que, resulta de qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.
Para alcancar esse objetivo, é urgente o dever de mergulhar no self (o ser imortal, ser real) para encontrar a consciência, no começo num monólogo e depois num diálogo construtivo e iluminativo.
Jung coloca cinco etapas para a conquista da consciência, seu desenvolvimento no caminho da vitória plena.
A primeira etapa que ele chama de participation mystique se refere à identificação entre a consciência do ser e tudo quanto lhe diz respeito no entorno da sua existência. É difícil viver no mundo sem a interdependência com o que está em volta. Nesse sentido, a identificação é variada, considerando-se os que, ainda vitimas das sensações, continuam ligados aos objetos e vivenciam-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa onde mora, pelo instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, e  experimenta os sentimentos do si-mesmo em relação a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias da mesma forma e vivenciam sentimentos de introjeção e projeção, além da própria identificação.
Na segunda etapa, já se expressa a consciência que distingue o eu e o outro. Quando alcança esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o self que se é em relação ao do outro ser, passa a descobrir, a identificar as diversidades de que cada qual se constitui. Nessa fase, ainda permanecem os resquícios fortes da projeção no outro, mas que se vai diluindo e favorecendo a identidade.
Na terceira etapa, as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, facultando a compreensão do abstrato, como a realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo mais transcendente ou até mitológico.
 Na quarta etapa, tem lugar a superação das projeções, mesmo que marcadas pela transcendência do abstrato e das ideias. Surge, o centro vazio, que poderíamos chamar de o homem moderno em busca da sua alma. O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do indivíduo, como substitutos das projeções anteriores. Nesse comenos, há predomínio do prazer e os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem essas sensações-emoções, caindo em transtornos depressivos. Nesse mundo novo não há conteúdos psíquicos, fazendo com que cada um se sinta realista. Esse é o momento em que o ego se sente como se fosse o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de forma pessoal a respeito de tudo que lhe diz respeito, selecionando o que é verdadeiro ou não, o que merece consideração ou desprezo... Com esse comportamento egóico, não é difícil cometer enganos lamentáveis, derivados da auto presunção, dos julgamentos precipitados a respeito das outras pessoas, podendo tornar-se megalomaníaco. Perde-se o anterior controle das convenções sociais em relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Nem todas as pessoas, no desenvolvimento da sua consciência, atingem essa etapa, ficando somente nas iniciais.
Por fim, na quinta etapa, quando já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência com a inconsciência, descobrindo os seus limites – do ego -, alcançando a chamada fase de atualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador.
Livre dos arquétipos em imagens que caracterizam o outro, conforme a experiência da etapa anterior, a quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente. Nessa fase de modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas projeções, não mais compostas por conteúdos materiais ou mesmo deles formadas, mas da realidade de si mesma.
O mestre, não para por aí, e há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos determo-nos nessas, mais conforme com os objetivos do nosso trabalho.
Nessa fase em que a consciência identifica o inconsciente e fundem-se, surgem as aspirações do belo, do ideal, do uno, da individuação.
Para ser conseguida essa plenitude, o sentimento de gratidão à vida, a todos que contribuíram e contribuem para que o mundo seja melhor e as dificuldades sejam sanadas, que ofereceram sua ajuda no transcurso do desenvolvimento intelecto moral, transforma-se num impulso para o estado numinoso, em que já não há sombra. Embora, para chegar a esse objetivo, seja indispensável o treino constante, o exercício da gratidão.
No início, apresenta-se como ato de dever, o de retribuição por tudo que desfruta, sem o sentimento por faltar ainda a maturidade psicológica interior. Porem o hábito, que se formará vai estimular ao prosseguimento da valorização de todos os acontecimentos e das pessoas com as quais se convive, percebendo que esse sentido de fraternidade gentil e retributiva proporciona uma intraduzível alegria de viver.
Criado o estímulo gratulatório, tudo tem significado relevante, possibilitando entendimento melhor dos acontecimentos existenciais, mesmo os que se apresentam como sofrimento, isto é, que têm momentâneo caráter afligente ou desagradável, que pode ser superado pelo empenho de ser útil, de compreender o esforço dos demais na construção do mundo melhor, entender-lhes os fracassos e os insistentes sacrifícios para corrigir-se...
Habitualmente, o julgamento da conduta dos outros, especialmente relativos à questões perturbadoras contra alguém, se conclui equivocadamente, por certo a conduta do outro, do inamistoso, realizando uma projeção inconsciente dos seus próprios conflitos... Todos os indivíduos têm dificuldades de vencer as questões perturbadoras, especialmente as procedentes dos atavismos que se organizaram no passado por onde passaram. A tolerância, que é uma expressão de amizade inicial, trará a compreensão de que se não é fácil para si mesmo a mudança para melhor, não deve ser diferente para o outro.
Tentando-se, o exercício da gratidão embora com erros e acertos, chega-se o momento em que o ser se enche da alegria de ser gentil e agradecido, não só por palavras, mas principalmente por atitudes, tornando a existência agradável e, assim, ampliando o círculo de bem-estar em sua volta, mudando as paisagens emocionais desorganizadas.
A gratidão tem esse maravilhoso mister (poder) o de tornar o mundo e as pessoas mais belas e mais queridas.

Trabalho executado a partir do livro Psicologia da Gratidão de Joanna de Ângelis, médium Divaldo Franco. Publicado 19/07/15.

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