quinta-feira, 21 de maio de 2015

CONVIVER E SER
O Evangelho de Lucas é de uma beleza especial, tornando-o um dos mais belos livros já escrito.
Quando Jesus ia para Jerusalém, na subida narrou 19 parábolas, sendo um dos mais belos e atuais estudos do comportamento humano diante da consciência enobrecida e dos deveres com o próximo, chamado de O Evangelho da misericórdia e da compaixão.
Misericórdia e compaixão são termos desafiadores da existencial humana. Misericórdia, que seja mais do que piedade, seja também alegria no júbilo do outro, satisfação pela vitória do lutador e tudo que se puder fazer, que seja feito com paixão, com uma abnegação superior cheia de bondade e brandura...
As três parábolas dos perdidos, numa análise das necessidades emocionais do ser diante dos acontecimentos do cotidiano, dos aparentes insucessos e perdas, que devem ser motivo de coragem e de busca, nunca de recuo ou de desistência.
...E Ele contou-as, porque, perseguido pela hipocrisia farisaica dos seus inimigos, que O acusavam de conviver com os miseráveis: meretrizes, ébrios, poviléu, doentes e excluídos, não teve outra alternativa, a não ser tentar despertar as suas consciências desprezíveis adormecidas para o bem e para a solidariedade.
Caluniado de beberrão e comilão, porque se alimentava com os infelizes, nunca se justificou, porque não tinha sombra, era numinoso. Mas, era preciso legar-lhes o tesouro terapêutico da misericórdia, para que entendessem que também eram famintos de luz e de amor, debatendo-se nos conflitos terríveis em que se refugiavam.
Preferiam não entender que Ele é a luz do mundo e, assim como o Sol que oscula a corola da flor sem perfumar-se, e o pântano apodrecido sem macular-se, pairava acima das misérias humanas, erguendo os caídos e evitando que descessem a abismos mais profundos, os que se lhes encontravam à borda...
 Os seus acusadores, preocupavam-se em manter os hábitos e a tradição, exteriores, com o mundo íntimo em trevas, satisfazendo-se em vigiar os outros, descarregar as culpas e mesquinhezes naqueles que invejavam porque não eram capazes de se assemelhar ou ao menos aproximar-se-lhes moralmente...
Captando os pensamentos hostis e despeitados, ouvindo as acusações, o Homem Integral, compadecendo-se da sua incúria, expôs a Sua tese, através de interrogações sábias e respostas adequadas: Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai em busca da que se havia perdido até achá-la? Quando a tiver achado, põe-na cheio de júbilo sobre os seus ombros e, chegando a casa, reúne os seus amigos e vizinhos e diz-lhes: Regozijai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos, que não necessitam de arrependimento. E prosseguiu intimorato e intemerato: Qual a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma, não acende a candeia, não varre a casa e não a procura diligentemente até acha-la? Quando a tiver achado, reúne as suas amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. Assim, digo-vos, há júbilo na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. (versículos 4 a 10)
As profundas parábolas dos perdidos e achados são o prólogo da narrativa do Pai que tinha dois filhos...
Nas três narrativas, o inconsciente coletivo libera arquétipos ocultos que se fazem presentes, de forma clara, como no texto, quando o homem e a mulher são apresentados, respeitando o anima-us, para servir de base ao estudo psicológico do ser humano que, apesar da diferença de sexo, as emoções se equivalem, as aspirações são idênticas, as ansiedades e alegrias são características do seu comportamento.
A saúde, a paz de espírito, o equilíbrio emocional e psicológico, a harmonia doméstica, a confiança, a alegria de viver podem ser considerados ovelhas e dracmas que todos estimam e lutam por preservar. As circunstancias do transito carnal, muitas vezes, criam situações difíceis e perdem-se alguns desses valores ou, um deles, essencial à vitória e ao bem-estar. È sábio que, não considerando os outros tesouros, esforça-se por buscar o que perdeu, com tenacidade até encontrar e, quando o tem novamente, quanto júbilo que o invade! Surgem-lhe a satisfação imensa, quer dizer a todos: amigos, vizinhos e conhecidos a alegria que o toma pela recuperação do que tinha perdido e voltou a fazer parte da sua vida.
Todos trazem no  inconsciente individual a sua criança ferida, magoada, que lhe dificulta a marcha de segurança na busca da paz interior, da saúde e da vitória sobre as dificuldades.
Essa criança ferida é o ser humano perdido no deserto, ou na casa, que precisa ser varrida, para tirar as camadas de ressentimentos que impedem a luz da razão, do discernimento.
Através da reflexão e da psicoterapia equilibrada, a criança ferida, libera o adulto encarcerado que não se pode desenvolver e ocorre uma integração entre a sombra e o ego, proporcionando alegrias inenarráveis ao Self, que aspira à perfeita união das duas fissuras da psique.
Jesus conhecia essa ocorrência, identificava os opositores internos, por isso trabalhava com os melhores instrumentos da bondade e da compaixão, que Lhe eram recursos psicoterapêuticos para oferecer à massa dos sofredores e, ao mesmo tempo, aos adversários ferrenhos que não conseguiam perturbá-lo.
As três parábolas da esperança, que são os tesouros arquetípicos que se encontram no inconsciente de todos os indivíduos, precisam ser vencidas, seja num mergulho de reflexão a respeito da existência de cada um, ou pela observação dos acontecimentos naturais do dia a dia, trabalhando os conflitos que vem das perdas  para que sirvam de alicerces para as resistências na busca do encontro.
A sociedade é formada em todos os tempos por pessoas como as que Jesus deu prioridade, comendo e bebendo com eles, sentando-se à mesa da fraternidade, alimentando-se sem alarde e sem preocupações exteriores das observâncias israelitas, demonstrando sua preocupação maior com o interior, com a psique, do que com o exterior, o ego, a aparência.
O numero de transtornados psicologicamente é grande, pela preservação da criança ferida em cada um, dos complexos narcisistas e de inferioridade, do egoísmo e da presunção que dificulta o indivíduo de auto-realizar-se. Sempre vendo o que não tem, o que não conseguiu, permitindo-se sofrer ou aborrecer pela imaginação atormentada, fora da realidade objetiva, perdendo-se...
O encontro só vai ser possível quando se resolver auto penetrar-se, buscar descobrir a raiz do conflitivo e encorajar-se a lutar pela libertação, regozijando-se com cada encontro, cada realização dignificante.
Quem tem medo de avançar e só vê a estrada, não conquista espaços nem alcança o cume da montanha dos  desafios. Aos poucos, etapa a etapa, vão ficando para trás os marcos das vitórias, umas pequenas, outras, importantes, tornando possível a integração da própria na Consciência Cósmica sem perder a própria individualidade.
Texto estudado a partir do livro Em Busca da Verdade, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.

Publicado em 21/05/2015.

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