quinta-feira, 11 de setembro de 2014


INTEGRAÇÃO MORAL

 A parábola, envolvida por símbolos arquetípicos ancestrais, é processo psicoterapêutico para os que vivem e sofrem consequências da imaturidade psicológica, e se encontram mergulhados nos muitos eus  em conflito.

Enquanto se desconhecem as lutas e não se tem ideia das possibilidades de crescimento interior, passando entre costumes sistemáticos e improdutivos, as aspirações são limitadas, não saindo das necessidades fisiológicas, dos processos da libido, das ambições imediatas: comer, dormir, gozar e suas consequências fisiológicas...

Os valores morais, embora em germe, continuam desconhecidos ou propositalmente ignorados.

Aquele que está perdido espera ser encontrado, quando o ideal é sair da sua solidão na direção correta por onde necessita continuar.

É comum a busca de Deus pelas criaturas contritas, que se sentem perdidas, embora vivam a desintegração dos valores morais, necessitando se predispor a serem encontradas por Deus, caminhando na Sua direção.

Na busca, existe uma ansiedade e uma luta interior contínuas, na dificuldade de compreender o significado da existência, como; o motivo dos apegos e sofrimentos, enquanto que, ascendendo-se intimamente, liberam-se dos conflitos e abrem-se para o entendimento dos acontecimentos e a necessidade de vivenciar os diferentes períodos do processo de independência, para que não haja traumas, inseguranças e insatisfações...

Todo o processo deve ser acompanhado de amadurecimento psicológico, de autocompreensão, de entrega consciente.

A viagem interna, para colocar-se à disposição de Deus é confortável, porque silenciosa e renovadora, enquanto que a busca externa, no vaivém dos desafios e das incertezas, produz o prejuízo do desconhecimento da escala dos valores éticos, assim como a dos significados existenciais.

Quando o Filho Pródigo se apresenta em situação deplorável, rebaixando-se e submetendo-se ao pai, nele há uma grandeza ética fascinante, que o torna elevado, que o dignifica, ao invés de quando parte, carregando muitos valores amoedados e joias, porém, apequenado, porque vazio de objetivos existenciais.

É comum o indivíduo subestimar-se, acreditando que somente terá valor quando possuir as coisas que brilham e que dão realce social, que produzem destaque na comunidade e despertam ambições, invejas, ciúmes. Esse conceito reveste-se do mito infantil de um paraíso fascinante e tedioso, diante da árvore do Bem e do Mal, ameaçadora, insinuando que a descoberta da nudez interior, da pequenez moral, dos medos sub-repticiamente disfarçados na balbúrdia que faz em volta, a fim de não serem identificados, será um terrível mal, porque o atira fora, obrigando-o a rumar para um país longínquo.

Nessa conduta, a insatisfação sempre enche a taça repleta de prazer com o azedume e o tédio, sorvendo sempre mais, e esvaziando-se muito mais, por falta de valores edificantes e legítimos.

As conquistas de fora não conseguem preencher as perdas interiores.

O conflito é inevitável, porque somente quando se é capaz de viver conforme os padrões nobres da solidariedade e do equilíbrio moral, a saúde e o bem estar se instalam no comportamento humano.

Nesse encontro com o perdido – o eixo ego-Self -  ocorre uma grande alegria, quando o encontrado que se permite integrar no grupo de onde se afastara, percebe que o pai misericordioso – o estado numinoso – sempre esteve ao seu alcance, e a fissão psíquica era o inevitável resultado do processo de busca para a aquisição da consciência.

Todos os indivíduos passam por esse estágio, sendo-lhes necessário proceder à integração.

Nessa fase inicial de despertar da consciência, não existem valores éticos  nem conceitos morais, exceto aqueles que decorrem das necessidades primitivas que ainda permanecem em a natureza humana.

O amadurecimento psicológico lento e seguro propicia a descoberta desses tesouros íntimos que direcionam o comportamento, ajudando a discernir como viver-se saudavelmente ou de maneira tormentosa.

O hábito arraigado de ser-se infeliz sob disfarces múltiplos conspira contra a identificação dos valores morais e a conquista do  si-mesmo.

Eis porque a parábola do Pai misericordioso é rica de possibilidades para a integração dos valores morais esparsos, até ali sem significados reais, esquecidos ou em choques contínuos conforme os interesses mesquinhos dos filhos...

Sem dúvida, na análise psicológica de cada indivíduo, ele pode assumir, ora a personalidade do filho pródigo, noutro momento a do irmão ciumento, raramente, porém, se encontrará integrado no genitor compreensivo e dedicado, que reúne os dois filhos, ambos necessitados, sob o manto da bondade e da compreensão.

Essa possibilidade, quase remota, por enquanto, pelo menos durante a fase de ajustamento do demônio com o anjo interiores, acontecerá quando o amor se despir do egotismo, e o símbolo de Eros assim como o de Cupido  adquirirem a abrangência do sentimento universal do amor que integra a criatura ao Seu Criador e a torna irmã de todos os demais seres sencientes que existem.

O Pai compassivo libera não mais o Filho Pródigo, mas, os filhos que se tornaram saudáveis, apoiados na compreensão dos seus deveres diante a vida e a sociedade, contribuindo para o progresso geral.

Nessa fase, toda a herança ancestral do primitivismo antropológico cede lugar à consciência do si-mesmo, proporcionando incontáveis bênçãos de que o ser tem carência, auxiliando-o na conquista da sua plenitude.

Não será mais necessária a morte orgânica para vivenciar o Nirvana ou penetrar no Reino dos Céus, porquanto já os conduzirá no íntimo, como autorrealização e tranquilidade.

A doença, o sofrimento, a morte não o impressionam mais, porque percebeu que esses acidentes do caminho são parte do processo de crescimento, e, da mesma maneira que o diamante que reflete a luz da estrela, não permanecem nele as marcas do carvão bruto que era antes da lapidação.

É necessário, compreender que o Pai quer encontrar o filho perdido num país longínquo como também deseja reabilitar aquele que se perdeu em si mesmo, no país próximo-distante da afetividade doentia.

A integração dos valores morais é consequência do esforço da consciência profunda em busca da integração do ego imaturo, trazendo significado existencial, trabalhando para a harmonia dos sentimentos e dos comportamentos.

Jesus conhecia a psique humana em profundidade, os seus abismos, as suas heranças, os seus equívocos, as suas incertezas, todos os seus meandros, e porque identificava naqueles que O seguiam os tormentos que os infelicitavam, apresentou na parábola do Filho Pródigo o eficiente processo psicoterapêutico para as gerações do futuro, de forma que, em todas as épocas porvindouras, o amor e a compaixão, libertando dos traumas e dos ressentimentos, contribuíssem para a plenificação interior dos indivíduos.”

Do livro, Em Busca da Verdade, ditado pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco. Postado dia 11/09/2014

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