segunda-feira, 22 de junho de 2020



GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão
CONQUISTA DA INDIVIDUAÇÃO E DA GRATIDÃO

Individuação é a conquista mais importante do processo evolutivo do homem. Aparentemente, individuação, é a vitória do self  com relação à sombra e ao ego, é também a superação dos arquétipos que causam transtornos emocionais e enfermidades de outro tipo, aprendemos também que essa conquista permite ao ser humano uma compreensão da vida e suas finalidades.

É o momento em que o ser no seu estado de consciência toma agora conhecimento dos conteúdos inconscientes até então, e continua buscando a sua superação, pela integração dos arquétipos, que são o modelo original, padrão de comportamento, agora buscando evitar os conflitos habituais ou novos conflitos.

Tudo isso parece difícil de acontecer, porque pede muito esforço na depuração da personalidade, no processo de seleção dos valores mais nobres do Espirito.

Numa análise simples se diria que a individuação é o mesmo que a autoiluminação dos místicos ou o reino dos céus de Jesus,  quando o indivíduo livre das exigências imediatistas do ego transforma-se num oceano de amor e de tranquilidade, e passa a viver experiências emocionais superiores, sem sofrimentos nem ansiedades.

Os instintos continuam como parte do conjunto fisiológico, presente nas necessidades primárias de forma automática, entretanto sem os impulsos da violência nem das paixões da selvageria.

Diluindo a sombra, a harmonia do eixo ego-self se apresenta, enquanto outros arquétipos como anima e o animus, a persona, trazem equilíbrio psicológico, como ocorre em Jesus, que é modelo da verdadeira individuação.

Essa é uma viagem toda feita pelo self integrado, núcleo energético e central da personalidade.

O self sendo (como) desenhador da vida humana, desde a infância se apresenta nos momentos oníricos, por meio de símbolos arquetípicos, existe grande ansiedade no paciente que busca a integração no self, a autoconsciência, sendo possível orientar no momento os arquétipos perturbadores que antes causavam conflitos e transtornos de comportamento pelo desconhecimento da sua realidade.

Todos podem alcançar esse momento culminante da evolução psíquica com o esforço para interpretar os símbolos e as angústias que lhe antecedem à ocorrência.

Santa Tereza d’Avila o alcançou através dos  êxtases que a levaram ao estado de plenitude, de iluminação interior, São Francisco de Assis, Michelangelo que quando acabou de esculpir a estátua de Moisés, ficou tão deslumbrado com a perfeição do trabalho que disse:
- Parla!

A obra só faltava falar de tão viva, para tornar-se real...

Músicos, artistas de várias ordens, cientistas e mártires, filósofos éticos e místicos alcançaram a integração perfeita, vivendo o estado de plenitude que os acompanhou até a desencarnação.

Um psicoterapeuta experiente pode conduzir os seus pacientes ao momento culminante da libertação dos seus transtornos levando-o à individuação, como estágio superior e culminante da saúde integral.

Jung à vivenciou, individuando-se por métodos psicoterapêuticos desenvolvidos por ele mesmo.

Ele também disse ser possível conseguir a individuação pela assimilar das quatro funções como: a sensação, o pensamento, a intuição e o sentimento. Nos seus estudos alquímicos comparou a meta da individuação com o que ocorre com a Opus ou Grande obra que os alquimistas tentaram vivenciar.

Esse é um processo lento, contínuo e de elevação emocional.

Através da oração, também é possível alcança-lo, como também dos fenômenos mediúnicos e paranormais, das regressões psicológicas que conduzem à fase infantil ou à fase uterina, às existências passadas, a meditação, de forma que os conteúdos inconscientes que causam medo e  ansiedade, angustias e inquietações sejam diluídos pelo enfrentamento consciente, nada ficando de enigmático no inconsciente que venha a ressurgir de forma assustadora...

Essa conquista torna o ser diferenciado, libertando-o dos clichês e imposições sociais que sempre o escravizam, exigindo-lhe condicionamento, quando o que ele busca é a liberdade. Com essa conquista o ser humano torna-se consciente de si mesmo, das suas responsabilidades na sociedade, encorajando-o para os ideais relevantes, embora sabendo que virão novas situações difíceis, mas que poderão ser vencidas naturalmente.

A individuação pode ser também denominada, no seu início, como sendo a participation mystique,  de Lévy-Bruhl. Na etapa final, situando-se o self como a imago Dei, numa conquista de unidade, que não isola o indivíduo, mas sim, contribui com o seu relacionamento com as  pessoas que passa a vê-las   diferente de quando predominava o ego.

É tão complexo que pode-se dizer que tem começo, mas nunca termina, é um verdadeiro processo, porque é a busca pela perfeição, no relativo do mundo em que o ser humano se encontra.

Pode-se, no processo de individuação, examinar o desenvolvimento da sociedade desde os seus primórdios e a maneira consciente como vem lidando com as suas projeções e superando-as, por meio das conquistas do conhecimento cultural dos seus vários aspectos, especialmente daqueles de ordem psicológica.

A perfeita identificação dos conflitos vem permitindo que se busque a conquista do bom e do belo, como metas de saúde e de bem-estar.

Vencendo as diferentes etapas do desenvolvimento emocional, surgem os primeiros sinais da individuação, que decorre da superação ou conscientização dos arquétipos que geram sofrimento.

As virtudes religiosas, consideradas como  heranças místicas, no momento da individuação adquirem sentido de realização, como o amor, que se transforma numa conquista relevante, indispensável para uma existência harmônica; a bondade, que multiplica os bens dos sentimentos elevados; a fé no futuro, como estímulo – sentido e significado psicológico – para prosseguir nas lutas naturais do processo evolutivo; a compaixão, em forma de solidariedade e de compreensão das aflições do próximo; a gratidão, como coroa de bênçãos por tudo que se conseguiu e pode realizar-se.

A gratidão, filha do amor sábio, enriquece a vida de beleza e de alegria porque com a sua presença tudo passa a ter significação enobrecida, ampliando os horizontes vivenciais daquele que a cultiva como recurso de promoção da vida em todos os sentidos.

Conta-se que certo dia, em Boston, nos Estados Unidos da América do Norte, um rebanho de carneiros era levado por uma das avenidas centrais da urbe. Um dos carneiros repentinamente caiu sem forças...

Uma criança muito pobre e mal cuidada, vendo a cena, percebeu que deveria ser por sede que o animal perdera as resistências. Tomando do seu gorro, correu a uma bica próxima e colheu algum líquido, trazendo-o ao carneiro quase desfalecido e deu-lhe de beber.

Poucos minutos depois o animal correu e juntou-se ao grupo que seguia em frente.

Uma das pessoas que nada havia feito, num tom irônico, disse ao menino:

- Obrigado, titio!

E pôs-se a rir zombeteiramente.

Um cavalheiro que havia observado a cena disse ao irônico:
- o carneirinho pediu-me para que agradecesse por ele, escusando-se de fazê-lo. Como eu sou dono de uma casa editora, sou conhecido como Eduardo Baer, e sempre estou procurando crianças dotadas de sentimentos nobres para cuidá-las, acabo de encontrar mais uma.

A partir deste momento, você estará sob a minha responsabilidade... – disse-lhe à criança aturdida.

Mais tarde, a sociedade acompanharia a trajetória do dr. Carlos Mors, que se fez conhecido pela inalterável bondade com que tratava todas as criaturas.

A gratidão do carneiro havia alcançado a nobre finalidade, porque jamais esmaece ou perde o seu sentido.

Poder-se-ia incluir esse fato na extensa relação daqueles de natureza mitológica, da mesma forma que Hercules combateu o mal, vencendo todos os inimigos do bem pelo imenso prazer de ser grato à vida pelo seu poder.

O carneiro, que é símbolo da mansuetude, e o menino gentil, que pode ser considerado como um arquétipo de misericórdia e compaixão, unindo-se no mesmo sentimento de ajuda recíproca, produziram o missionário do amor e da bondade.

Isso porque a gratidão é um dos mais grandiosos momentos do desenvolvimento ético-moral do ser humano e está ínsita na individuação, quando tudo adquire beleza e significado.

A gratidão é, portanto, um momento de individuação, quando o ser humano lembra o passado com alegria, considerando os trechos do caminho mais difíceis que foram vencidos, alegrando-se com o presente e encarando o futuro sem nenhum receio, porque os arquétipos responsáveis pelas aflições foram diluídos na consciência, não deixando marcas da sua existência.

O ego, que os mantinha em ação, alargou a  percepção psicológica da vida e tornou-se parte vibrante do self, que ama sem distinção nem interesse de retribuição e é grato a Deus por existir, ao cosmo por viver nele, à mãe-Terra por ser o seu habitat, a todas as cores e vibrações da natureza, que lhe permitem contemplação e emotividade especial, aos sons maravilhosos que fazem vibrar, ao oxigeno que o nutre e à psique responsável pelo seu pensamento e pela faculdade de discernir que a consciência alcançou.

Quando o ser humano se der conta de que necessita abandonar as faixas menos harmônicas por onde transita, aspirará pela conquista da individuação, exercitando-se na sublime arte do amor a Deus, ao próximo e, certamente, a si mesmo, abandonando o egotismo e vivenciando o altruísmo como forma segura de realização plena, no rumo da gratidão...

A gratidão abrange, num afetuoso abraço, os sentimentos que dignifica e torna esses seres humanos merecedores de felicidade, enquanto estarão instalando no íntimo o esperado reino dos céus, conforme Jesus propôs, o maior psicoterapeuta da humanidade.

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 22/06/2020.

Nenhum comentário: