Psicologia da Gratidão
A NEUROSE COLETIVA
Afirma-se que a nova geração
está desequilibrada, como se os sofrimentos que a atormentam surgissem
apenas nela mesma. Esses que pensam dessa forma não se dão conta para todo
efeito há sempre uma causa, que os transtornos que surgem na juventude de hoje de
alguma forma se encontravam presentes ou tem suas bases nas gerações passadas e
que, por sua vez, implantaram novos ideais e comportamentos nos conceitos
tradicionais do período em que viveram, causando dessa forma choque na tradição
daquele tempo...
Ademais, as heranças transmitidas por leviandade e desamor dos mais velhos; a despreocupação com a
família, que vem passando, desde há algumas décadas, para plano secundário no
grupo social; os comportamentos eminentemente egoístas dos cidadãos; o
consumismo desenfreado; a busca pelos prazeres insaciáveis; a indiferença pelo
próximo contribuíram com vigor para o estado de alienação coletiva, de hoje, que
especialmente afeta os jovens sem discernimento nem madureza emocional.
Os esportes, que deveriam representar conquistas psicológicas para
catarses emocionais, espairecimentos, renovação de energias, afirmação de
valores em relação aos melhores, são transformados
em campo de batalha, momento em que as torcidas fanáticas e radicais agridem-se
mutuamente, depredam, matam e se matam.
Trazendo de volta as arenas romanas, onde o prazer era sanguinário
e as vítimas sacrificadas inspiravam zombaria sem nenhuma consideração ao
significado de humanidade...
Nesse ambiente de desordem psíquica e emocional, as chamadas torcidas organizadas marcam pela
internet o lugar dos enfrentamentos, da mesma forma como ocorria nos caminhos
de batalha do passado, e como selvagens agridem-se de forma asselvajada,
ferindo, humilhando, assassinando, enquanto a sociedade perplexa contempla as
cenas hediondas e vai-se acostumando a elas.
O terror assume proporções não imaginadas.
É comum os jovens matarem pelo prazer de fazer alguma coisa
diferente, para experimentarem emoções fortes, e mais tarde procuram anestesiar
a culpa nas drogas, entrando em profunda depressão, mais matando para adquirir
novas quotas para a manutenção do vício ao mesmo tempo matando-se lentamente ou
de uma vez, em desespero suicida.
O índice de suicídios nos países civilizados é espantoso, porque a
cultura é materialista, vivendo no inconformismo, e o prazer é o único motivo
do significado existencial. Em consequência, as taxas de delinquência juvenil
em toda parte são volumosas continuando crescendo.
Tem-se assim, instalada a neurose coletiva e destrutiva.
A divulgação infeliz dos dramas e tragédias do cotidiano, através
dos veículos de comunicação, ao invés de apresentar propostas salvadoras,
terapias preventivas e curadoras, estimula indiretamente os comportamentos frágeis
a se tornarem heróis, a se fazerem destacados pela mídia, a
desafiarem a cultura e a ética, crendo no falso martírio que se origina na
covardia moral e na desestruturação psicológica em que se encontram.
As almas dos jovens encontram-se
ansiosas e desorientadas, seguindo estranhos caminhos por falta de equilibrado
roteiro para o encontro com a segurança interior. A educação no lar e a formal,
nos institutos que a elas se dedicam, encontram-se também sem estrutura por
aqueles que a propõe serem, estúrdios (extravagante) e desestruturados ensinando teoria e vivenciando os desequilíbrios
em que se tornam exemplos vivos, que logo são seguidos.
Disseminam-se com ufanismo (com orgulho exagerado) a necessidade
da autorrealização da autoidentificação por meio de processos estapafúrdios e
mórbidos que os chamam a atenção e os igualam nas tribos em que se homiziam.
Sem dúvida, a problemática é muito grave e está a exigir cuidados
especiais de todos: pais, educadores, governantes, religiosos, sociólogos,
psicólogos, pessoas sensatas que se devem unir, a fim de combaterem o inimigo
comum: a falta de sentido existencial
que se estabeleceu na sociedade.
Para se
viver com dignidade necessita-se de um objetivo, de um sentido ético que se transforma
em meta a ser conquistada.
Se for a busca da felicidade nos padrões mentiroso do consumismo
ou do ´prazer, fruto do imediatismo, logo veem a decepção e a falta de
motivação para novos empreendimentos.
É indispensável,
despertar em todos a necessidade da autotranscedência, da superação das exigências
do ego em sombra para o significado do self
imperecível.
Essa autotranscedência deverá ser sugerida habilmente, não
imposta, despertada em todas as mentes como o caminho seguro para a harmonia
interior, para a existência adquirir sentido de gratidão, de correspondência com
os demais, de significados libertadores.
É comum
as pessoas perguntarem a respeito do significado das suas existências, tão
acostumadas estiveram por múltiplas gerações a lhes serem imposto o mesmo.
No passado, as religiões dominantes estabeleciam que o primeiro
filho deveria pertencer às armas, para salvar o Estado, o segundo pertenceria a
Deus, servindo à religião e entregando-se-lhe totalmente, mesmo sem nenhuma
vocação nem desejo. O mesmo ocorria em relação à filha que deveria servir à
Deus, educar-se em serviços domésticos , sendo-lhe negado o direito ao
conhecimento, à cultura, por ser considerada inferior, sem alma, sem
discernimento...
O absurdo imposto ressurgiu como hipocrisia, mediante a qual havia
a postura convencional,
que a sociedade aceitava, e o desvario oculto, criminoso muitas
vezes, a que os indivíduos se entregavam, como forma de sobrevivência à asfixia
imposta pela neurose religiosa.
As aberrações e extravagancias eram praticadas, mas não constituíam
crime nem sofria censura, desde que não fossem divulgadas...
É natural que esse perverso atavismo ressurja do inconsciente
coletivo e pessoal e imponha ao indivíduo a necessidade de que alguém lhe diga
qual é o sentido da sua existência. Mesmo quando recorrem a determinadas
psicoterapias, inadvertidamente alguns profissionais transformam-se em gurus,
respondendo pelas vidas e comportamentos dos seus pacientes, numa tentativa de
eliminar-lhes as preocupações, o que os mantém sempre na ignorância, na dependência
doentia, na aflição mascarada de bem-estar...
O valor psicoterapêutico se percebe quando começa a libertar o
paciente do pensamento do seu orientador, encontrando-se com a sua realidade e
descobrindo-se, bem como as próprias possibilidades de realização pessoal e de
objetivos essenciais para o bem-estar.
Desse modo, tem faltado honestidade e sinceridade intelectual nos
formadores de opinião, nos educadores, nos psicoterapeutas da mesma forma problematizados,
reservando-se às exceções normais à conduta saudável.
Uma visão nova da vida deve ser instituída por processos psicoterapêuticos
sadios, libertadores da neurose coletiva, trabalhando o indivíduo e depois o
grupo social, a fim de que se torne possível a conquista do significado
existencial.
Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão.
Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 03/11/2019.
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