domingo, 3 de novembro de 2019



GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão
A NEUROSE COLETIVA

Afirma-se que a nova geração está desequilibrada, como se os sofrimentos que a atormentam surgissem apenas nela mesma. Esses que pensam dessa forma não se dão conta para todo efeito há sempre uma causa, que os transtornos que surgem na juventude de hoje de alguma forma se encontravam presentes ou tem suas bases nas gerações passadas e que, por sua vez, implantaram novos ideais e comportamentos nos conceitos tradicionais do período em que viveram, causando dessa forma choque na tradição daquele tempo...

Ademais, as heranças transmitidas por leviandade e desamor dos mais velhos; a despreocupação com a família, que vem passando, desde há algumas décadas, para plano secundário no grupo social; os comportamentos eminentemente egoístas dos cidadãos; o consumismo desenfreado; a busca pelos prazeres insaciáveis; a indiferença pelo próximo contribuíram com vigor para o  estado de alienação coletiva, de hoje, que especialmente afeta os jovens sem discernimento nem madureza emocional.

Os esportes, que deveriam representar conquistas psicológicas para catarses emocionais, espairecimentos, renovação de energias, afirmação de valores em relação aos melhores,  são transformados em campo de batalha, momento em que as torcidas fanáticas e radicais agridem-se mutuamente, depredam, matam e se matam.

Trazendo de volta as arenas romanas, onde o prazer era sanguinário e as vítimas sacrificadas inspiravam zombaria sem nenhuma consideração ao significado de humanidade...

Nesse ambiente de desordem psíquica e emocional, as chamadas torcidas organizadas marcam pela internet o lugar dos enfrentamentos, da mesma forma como ocorria nos caminhos de batalha do passado, e como selvagens agridem-se de forma asselvajada, ferindo, humilhando, assassinando, enquanto a sociedade perplexa contempla as cenas hediondas e vai-se acostumando a elas.

O terror assume proporções não imaginadas.

É comum os jovens matarem pelo prazer de fazer alguma coisa diferente, para experimentarem emoções fortes, e mais tarde procuram anestesiar a culpa nas drogas, entrando em profunda depressão, mais matando para adquirir novas quotas para a manutenção do vício ao mesmo tempo matando-se lentamente ou de uma vez, em desespero suicida.

O índice de suicídios nos países civilizados é espantoso, porque a cultura é materialista, vivendo no inconformismo, e o prazer é o único motivo do significado existencial. Em consequência, as taxas de delinquência juvenil em toda parte são volumosas continuando crescendo.
Tem-se assim, instalada a neurose coletiva e destrutiva.

A divulgação infeliz dos dramas e tragédias do cotidiano, através dos veículos de comunicação, ao invés de apresentar propostas salvadoras, terapias preventivas e curadoras, estimula indiretamente os comportamentos frágeis a se tornarem heróis,  a se fazerem destacados pela mídia, a desafiarem a cultura e a ética, crendo no falso martírio que se origina na covardia moral e na desestruturação psicológica em que se encontram.

As almas dos jovens encontram-se ansiosas e desorientadas, seguindo estranhos caminhos por falta de equilibrado roteiro para o encontro com a segurança interior. A educação no lar e a formal, nos institutos que a elas se dedicam, encontram-se também sem estrutura por aqueles que a propõe serem, estúrdios (extravagante) e desestruturados  ensinando teoria e vivenciando os desequilíbrios em que se tornam exemplos vivos, que logo são seguidos.

Disseminam-se com ufanismo (com orgulho exagerado) a necessidade da autorrealização da autoidentificação por meio de processos estapafúrdios e mórbidos que os chamam a atenção e os igualam nas tribos em que se homiziam.

Sem dúvida, a problemática é muito grave e está a exigir cuidados especiais de todos: pais, educadores, governantes, religiosos, sociólogos, psicólogos, pessoas sensatas que se devem unir, a fim de combaterem o inimigo comum: a falta de sentido existencial que se estabeleceu na sociedade.

Para se viver com dignidade necessita-se de um objetivo, de um sentido ético que se transforma em meta a ser conquistada.

Se for a busca da felicidade nos padrões mentiroso do consumismo ou do ´prazer, fruto do imediatismo, logo veem a decepção e a falta de motivação para novos empreendimentos.

É indispensável, despertar em todos a necessidade da autotranscedência, da superação das exigências do ego em sombra para o significado do self imperecível.

Essa autotranscedência deverá ser sugerida habilmente, não imposta, despertada em todas as mentes como o caminho seguro para a harmonia interior, para a existência adquirir sentido de gratidão, de correspondência com os demais, de significados libertadores.

É comum as pessoas perguntarem a respeito do significado das suas existências, tão acostumadas estiveram por múltiplas gerações a lhes serem imposto o mesmo.

No passado, as religiões dominantes estabeleciam que o primeiro filho deveria pertencer às armas, para salvar o Estado, o segundo pertenceria a Deus, servindo à religião e entregando-se-lhe totalmente, mesmo sem nenhuma vocação nem desejo. O mesmo ocorria em relação à filha que deveria servir à Deus, educar-se em serviços domésticos , sendo-lhe negado o direito ao conhecimento, à cultura, por ser considerada inferior, sem alma, sem discernimento...

O absurdo imposto ressurgiu como hipocrisia, mediante a qual havia a postura convencional,  
que a sociedade aceitava, e o desvario oculto, criminoso muitas vezes, a que os indivíduos se entregavam, como forma de sobrevivência à asfixia imposta pela neurose religiosa.

As aberrações e extravagancias eram praticadas, mas não constituíam crime nem sofria censura, desde que não fossem divulgadas...

É natural que esse perverso atavismo ressurja do inconsciente coletivo e pessoal e imponha ao indivíduo a necessidade de que alguém lhe diga qual é o sentido da sua existência. Mesmo quando recorrem a determinadas psicoterapias, inadvertidamente alguns profissionais transformam-se em gurus, respondendo pelas vidas e comportamentos dos seus pacientes, numa tentativa de eliminar-lhes as preocupações, o que os mantém sempre na ignorância, na dependência doentia, na aflição mascarada de bem-estar...

O valor psicoterapêutico se percebe quando começa a libertar o paciente do pensamento do seu orientador, encontrando-se com a sua realidade e descobrindo-se, bem como as próprias possibilidades de realização pessoal e de objetivos essenciais para o bem-estar.

Desse modo, tem faltado honestidade e sinceridade intelectual nos formadores de opinião, nos educadores, nos psicoterapeutas da mesma forma problematizados, reservando-se às exceções normais à conduta saudável.

Uma visão nova da vida deve ser instituída por  processos psicoterapêuticos sadios, libertadores da neurose coletiva, trabalhando o indivíduo e depois o grupo social, a fim de que se torne possível a conquista do significado existencial.

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 03/11/2019.

Nenhum comentário: