sábado, 14 de setembro de 2019


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão

A NEUROSE COLETIVA

Fala-se muito de que a nova geração encontra-se desequilibrada.  É como se compreendesse que os sofrimentos que atormenta a essa mesma juventude fossem originados nela mesma na própria geração. Nem percebendo que não há efeito sem causa, e que os transtornos que afligem a juventude de hoje caracterizaram de alguma forma gerações passadas, implantando novos ideais e comportamentos nos conceitos tradicionais do período em que viveram, causando choque na tradição em vigor...

As heranças transmitidas por leviandades e desamor dos mais velhos como; a despreocupação com a família, que vem, já há algumas décadas, passando para plano secundário no grupamento social; os comportamentos egoístas dos cidadãos; o consumismo desenfreado; a busca incessante dos prazeres insaciáveis; a indiferença pelo próximo contribuíram com força para o atual estado de alienação coletiva, que afeta os jovens destituídos de discernimento e de maturidade emocional.

Os esportes, que deveriam representar conquistas psicológicas para catarses emocionais, espairecimentos, renovação de energias, afirmação de valores em relação aos melhores, transformaram-se em campo de batalha, quando as torcidas fanáticas e radicais agridem-se mutuamente, depredam, matam e se matam.

Ressuscitam-se com essa conduta as arenas romanas, onde o prazer era sanguinário e as vítimas sacrificadas inspiravam zombaria em total desconsideração do significado de humanidade...

Nesse clima de desordem psíquica e emocional, as chamadas torcidas organizadas marcam pela internet o lugar para os enfrentamentos, como ocorria nos campos de batalha do passado, e agridem-se de maneira asselvajada, ferindo, humilhando, assassinando, enquanto a sociedade contempla as cenas perversas e a elas vai-se acostumando.

O terror assume proporções não esperadas.

É comum jovens matarem só pelo prazer de fazer algo diferente, para experimentarem emoções fortes, e mais tarde quererem anestesiar a culpa nas drogas, entrando em profunda depressão, mais matando para adquirir novas quotas para manter o vício e matando-se lentamente ou de uma vez, em desespero suicida.

O índice de suicídios em países civilizados é espantoso, vivendo no inconformismo, e o prazer é o único motivo do significado existencial. Em consequência, as taxas de delinquência juvenil em toda parte são imensas e continuam crescendo.

Temos então, instalada a neurose coletiva e destrutiva.

A divulgação infeliz dos dramas e tragédias do cotidiano, pelos veículos de comunicação, ao invés de apresentar propostas salvadoras, terapias preventivas e curadoras, estimula indiretamente os comportamentos frágeis a se tornarem heróis, a se fazerem destacados pela mídia, a desafiarem a cultura e a ética, acreditando no falso martírio que vem da covardia moral e da desestruturação psicológica em que se encontram.

As almas dos jovens encontram-se ansiosas e desorientadas, seguindo estranhos caminhos por falta de um roteiro equilibrado para o encontro com a segurança interior. A educação no lar e a formal, nos institutos em que se lhe dedicam, encontram-se também sem estrutura por serem, aqueles que a propõem, estúrdios e desestruturados, ensinando teoria mas vivenciando os desequilíbrios em que se tornam exemplos vivos, a serem logo, logo seguidos.

Dissemina-se a necessidade de autorrealização e de autoidentificação por processos absurdos e mórbidos que lhes chamam a atenção e os igualam nas tribos em que se homiziam.

A questão é grave pedindo cuidados especiais de todos: pais, educadores, governantes, religiosos, sociólogos, psicólogos, pessoas sensatas que se devem unir, para combater o inimigo comum: a falta de sentido existencial que se estabeleceu na sociedade.

Para se viver com dignidade é preciso que se tenha um objetivo, um sentido ético que se transforme na meta a ser conquistada.

Se buscar a felicidade nos padrões mentirosos do consumismo ou do prazer, fruto do imediatismo, logo surge a decepção e a falta de motivo para novos empreendimentos.

 É preciso, que se desperte em todos a  autotranscendencia, a superação das exigências do ego em sombra para o significado do self imperecível.

A autotranscendencia deve ser sugerida habilmente, não pode ser imposta, ela precisa ser despertada em todas as mentes como o caminho seguro para a harmonia interior, para que a vida adquira sentido de gratidão, de correspondência com os demais, de significados libertadores.

É comum as pessoas perguntarem sobre o significado das suas existências, quando por muitas gerações lhes foram imposta a ponto de se acostumarem a aquela imposição.

No passado, as religiões dominantes estabeleciam que o primeiro filho deveria pertencer às armas, a fim de salvar o Estado, o segundo pertenceria a Deus, servindo à religião e entregando-se-lhe em totalidade, mesmo sem vocação nem desejo. O mesmo ocorreria em relação à filha que deveria servir à Deus, educar-se em serviços domésticos, sendo-lhe negado o direito ao conhecimento, à cultura, porque era considerada como um ser inferior, sem alma, sem discernimento...

O absurdo imposto ressurgiu como hipocrisia,  mediante a qual havia a postura convencional, que a sociedade aceitava, e o desvario oculto, criminoso muitas vezes, a que os indivíduos se entregavam, como forma de sobrevivência à asfixia imposta pela neurose religiosa.

As aberrações  e extravagancias eram praticadas, mas não se tornando crime nem sendo alvo de qualquer censura, desde que não fossem divulgadas...

É natural que esse perverso atavismo ressurja do inconsciente coletivo e pessoal e imponha ao indivíduo a necessidade de que alguém lhe diga qual é o sentido da sua existência. Mesmo quando recorrem a determinadas psicoterapias, inadvertidamente alguns profissionais transformam-se em gurus, respondendo pelas vidas e comportamentos dos seus pacientes, em tentativa de eliminar-lhes as preocupações, o que resulta sempre em mantê-los na ignorância, na dependência doentia, na aflição mascarada de bem-estar...

O valor psicoterapêutico aparece quando começa a libertar o paciente do pensamento do seu orientador, encontrando-se com a sua realidade e descobrindo-se, bem como as  possibilidades de realização pessoal e de objetivos essenciais para o bem-estar.

Tem faltado honestidade e sinceridade intelectual nos formadores de opinião, nos educadores, nos psicoterapeutas da mesma forma problematizados, reservando-se às exceções normais à conduta saudável.

Uma visão nova da vida deve ser instituída por  processos psicoterapêuticos sadios, libertadores da neurose coletiva, trabalhando o indivíduo e depois o grupo social, para tornar  possível a conquista do significado existencial.

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 14/09/2019.

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