terça-feira, 5 de fevereiro de 2019


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Exercício da Gratidão

O conhecimento e a experiência de vida são resultado do treinamento, do exercício.
Quando o self – (ser imortal, o ser real, o espírito) - se encontra em desenvolvimento, as emoções se caracterizam ainda pelas heranças do instinto, se modificando aos poucos, até alcançar os  patamares do amor e da gratidão. As condutas humanas durante esse processo é natural que se encontrem ainda marcadas pelo egotismo que gera a ingratidão.

E assim sendo, o indivíduo atribui-se méritos que não conquistou ainda e tudo que ele recebe acha que é uma consequência desse seu mérito. A permanência ou continuação da sombra dificulta-lhe o discernimento, e lhe impõe situações embaraçosas e perversas. Esse transito  demorado vai modificando-se conforme vá unido às experiências edificantes  e acumulando como resultado do treinamento, a sim proporcionando lucidez, clareza, entendimento para a compreensão da felicidade depois de descobrir o significado existencial.
O único sentido, portanto, do ser humano, propõe como foco primordial, a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em plenitude, em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.

É urgente a necessidade de reservar espaço e tempo para treinar o perdão, e as outras expressões do amor, para que se descubra a alegria que, vem como efeito da ação de amar.

Para que se alcance esse objetivo, deve-se mergulhar no self para o encontro com a consciência, no início por meio de um monólogo e depois num diálogo edificante e iluminativo.

Jung estabeleceu cinco etapas para a aquisição da consciência, seu desenvolvimento na busca da vitória plena.

A primeira etapa ele chamou de participation mystique se refere à conquista da identificação entre a consciência do ser e tudo quanto lhe diz respeito no entorno da sua existência. É difícil viver no mundo sem essa interdependência entre ele e tudo à sua volta. Nesse sentido, a identificação é muito variada, considerando-se aqueles, que ainda vitimas das sensações, continuam vinculados aos objetos e vivencia-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa onde mora, pelo instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, passa a experimentar os sentimentos do si mesmo em relação a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias e experimentam sentimentos de introjeção e de projeção, além da própria identificação. Na segunda etapa, já existe a consciência do eu e do outro. Ao alcançar esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o self  que se é em relação ao outro ser, passa a descobrir, a identificar as diferenças que constitui cada qual. Ainda aí se encontram os requisitos da projeção no outro, que se vai diluindo e favorecendo a identidade, na terceira etapa, as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, permitindo a compreensão do abstrato, como a realidade de Deus em alguma parte... O conceito desse deus, quando punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo mais transcendente ou até mesmo mitológico. Na quarta etapa, ocorre a superação das projeções, ainda que marcadas pela transferência do abstrato e das ideias. É o momento do surgimento, do centro vazio, que seria o chamado de  o homem moderno em busca da sua alma. O indivíduo passa a viver o utilitarismo e o interesse imediato, substituindo assim as projeções anteriores. Nesse momento, predominam o prazer e os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem essas sensações-emoções, os transtornos depressivos. Nesse mundo novo não existem conteúdos psíquicos, cada qual se sente realista. Nesse momento o ego se sente como sendo o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de maneira pessoal tudo que  lhe diz respeito, escolhendo o que é verdadeiro ou não, o que merece ser valorizado ou desprezado... Com esse comportamento egóico, facilmente comete equívocos, vindos da autopresunção, dos julgamentos precipitados a respeito dos outros, caminhando para uma megalomania. Perdendo o controle anterior das convenções sociais em relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Mas nem todos, no desenvolvimento da sua consciência, atingem essa etapa, ficando somente nas iniciais. Por fim, na quinta etapa, quando já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência com a inconsciência, descobrindo os seus limites – do ego -, atingindo o que chamaríamos como uma fase de atualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador.  Livre dos arquétipos em imagens que caracterizam o outro, conforme a experiência da etapa anterior, a quarta, identifica os poderes do inconsciente. Nessa fase de modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas projeções, não mais compostas nos substratos materiais ou mesmo deles formadas,  mas a realidade de si mesma. Mas o  mestre, não para por aí, parecendo propor outras etapas, conforme Joanna de Angelis, é interessante que fiquemos com essas, que é o objetivo do presente trabalho.

Nessa fase quando a consciência identifica o inconsciente e fundem-se, surgem as aspirações do belo, do ideal, do uno, da individuação.

Para se conseguir a plenitude, o sentimento de gratidão à vida, a todos que contribuíram e contribuem para um mundo seja melhor e as dificuldades sejam sanadas, que ofereceram sua ajuda no transcurso do desenvolvimento intelecto-moral, transforma-se num impulso para o estado numinoso, onde não existe mais  sombra. Mas, para vivenciar essa conquista, torna-se indispensável o treinamento constante, o exercício da gratidão.

No seu inicio, como um ato de dever, o de retribuição por tudo que se desfruta, sem ainda a presença do sentimento por falta de maturidade psicológica interior. No entanto o hábito, em formação estimula a continuação da valorização dos acontecimentos e das pessoas com as quais se convive, alargando a percepção de que esse sentido de fraternidade gentil e retributiva traz inigualável alegria de viver.

Criado o estímulo gratulatório, tudo adquire significado relevante, trazendo um entendimento mais saudável a respeito dos acontecimentos existenciais, mesmo aqueles  que se apresentem como sofrimento, isto é, que no  momento tem caráter afligente ou desagradável, que pode ser superado pelo esforço de ser-se útil, de compreender o esforço dos demais na construção do mundo melhor, entender-lhes os fracassos e os insistentes sacrifícios para corrigir-se...

Habitualmente, o julgamento da conduta dos outros, em análise quando se refere a questões perturbadoras contra alguém, se faz de maneira equivocada, por certo a manifestação da conduta do outro, do que se lhe fez inamistoso, realizando uma projeção inconsciente dos seus próprios conflitos... Todos temos dificuldades em vencer as questões perturbadoras, em especial quando vem dos atavismos do passado por onde passou. A tolerância, que é uma expressão de amizade inicial, vai fazer entender-se que como não é fácil para si mesmo a mudança para melhor, deve ser também quando no caso for o outro.

Tentando-se, mesmo com erros e acertos,  exercitar a gratidão, chega um momento em que o ser se enche de alegria de ser gentil e agradecido, não só por palavras, mas principalmente por atitudes, tornando a vida agradável e, assim, ampliando o circulo de bem-estar em sua volta, mudando as paisagens emocionais desorganizadas.

A gratidão tem esse poder de tornar o mundo e as pessoas mais belas e mais queridas.  
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 05/02/2019.

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