domingo, 2 de setembro de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
O MILAGRE DA GRATIDÃO

A SOMBRA PERTURBADORA E A GRATIDÃO

Os sentimentos inferiores, herança do processo evolutivo no período marcado apenas pelo instinto dominador, são prisões sem grades que limitam a movimento emocional e espiritual do ser, limitando o processo iluminativo e criando sofrimentos.

São responsáveis pelo ressentimento, pela raiva, pelo ciúme que se transformam em conflitos graves no comportamento humano.

Esse ego primitivo deve escolher conscientemente  o bem-estar e a saúde como diretrizes que lhe tragam harmonia, permitindo a identificação com as aspirações do self (o Si mesmo, o ser imortal) em estagio superior de apercebimento da finalidade existencial.

Como sombra doentia, abre espaço à instalação de emoções também primárias, que a razão bem dirigida deverá superar.

Ressurgindo frequentemente do inconsciente pessoal, afastam o paciente do convívio social saudável, tornando os seus relacionamentos domésticos desagradáveis, de agressividade ou de indiferença, de distanciamento ou de introspecção rancorosa.

O ser humano, graças à conquista da consciência, é destinado à individuação que alcançará com a fusão do eixo ego-self, à completude, voltando assim à unidade que sofreu fissão durante o processo antropossociopsicológico da evolução através das reencarnações.

Conforme Jung disse,   a individuação é o

“processo de diferenciação que tem como objetivo o desenvolvimento da personalidade individual e da consciência do ser único, indivisível e distinto da coletividade”, quando o self atinge a culminância da sua realidade imortal...


Nesse sentido, todo o esforço para combater as imperfeições morais precisa ser colocado a serviço do equilíbrio, da harmonia emocional e psíquica.

Nessa abordagem clínica, a gratidão é de grande importância por entender os acontecimentos do cotidiano, mesmo os  perturbadores, não permitindo interferir no comportamento equilibrado, que resulta da consciência da responsabilidade diante a vida. O amadurecimento psicológico desperta a sua consciência para a realidade transcendental, superando as imposições dos instintos e ampliando as percepções dos valores existenciais.

É inevitável a ocorrência dos fenômenos aflitivos no transito humano, pelos atavismos pessoais, o convívio familiar e social  desafiador, propiciando aprimoramento dos sentimentos, particularmente a tolerância, a compaixão, o interesse afetivo, a solidariedade...

Normalmente crê-se que a gratidão é um sentimento sublime que opera os milagres do amor,  por seu caráter retributivo. Esse conceito, limita-o ao reconhecimento pelo bem que se recebe e pelo anseio de devolvê-lo. Na  análise de Joanna de Ângelis, a gratidão apresenta-se de maneira muito sutil e mais profunda, vai além da compensação pelo que se recebe e se vivencia.

Quando alguém consegue a experiência da gratulação, mesmo com relação aos insucessos, que podem ser considerados experiências que ensinam a agir com responsabilidade e retidão alcança o patamar em que deve ser vivida.

O sentido psicológico da reencarnação é conseguir-se a transformação moral do self  e a liberação de todos os seus conteúdos ocultos ou que se encontram em germe, capacitando-o para  enfrentamentos com outros arquétipos inquietadores, especialmente se são imperiosos e dominantes no comportamento. Uma conscientização do ser que se é permite a renovação das forças morais para diluir a sombra e desenvolver as experiências renovadoras.

A arte da gratidão, que é a essência da afetuosa emoção pelo existir, leva a condutas de aparência paradoxal, como, nas aflições e nos desaires...

Há um século e meio quase, Santo Agostinho, Espírito, convocava os que sofriam à coragem e à resignação ante as aflições, mesmo as  aparentemente cruéis, propondo:

as provas rudes, ouvi-me bem, são quase sempre indício de um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus.”

As provações são bênçãos que a vida proporciona ao ser, que cometeu no passado ou na atual existência  arbitrariedades, ferindo a harmonia das leis universais, comprometendo a consciência, para que tenha meios de recuperar-se da culpa inscrita na intimidade do ser, experimentando a contribuição do sofrimento que o dignifica, desde que a relatividade orgânica está sempre sujeita a essa sinuosidade com altibaixos na saúde e no bem-estar...

O processo da evolução, lembra a correnteza que enfrenta os obstáculos por onde corre até alcançar o seu destino, um lago, um mar, um oceano...

Não cessando de prosseguir, quando defronta impedimentos, acumula as águas com tranquilidade até ultrapassá-los, pois que sua meta encontra-se à frente, aguardando-a.

As experiências evolutivas do ser humano ocorrem num programa marcada por varias e sucessivas etapas até alcançar o estado numinoso.

A gratidão pelos insucessos aparentes é o reconhecimento por se entender que fazem parte da aprendizagem, os dissabores, os sofrimentos morais consequentes da traição, da calúnia, do abandono a que se é deixado por antigos afetos, tudo isso tem razão de ser. É melhor, sofrê-los, vivenciá-los com resignação quando surgem, do que ignorá-los, envolve-los em máscaras ou retardá-los...

Numa visão superficial, pode-se crer ser uma patologia pelo sofrimento em  transtorno masoquista. Na realidade essa conduta traduz maturidade saudável, por não ser uma escolha pelo sofrimento, mas  uma aceitação consciente e natural da dor, como parte do programa evolutivo.

Portanto, gratidão, em toda e qualquer situação, boa ou má, como diz o apóstolo Paulo, que era sempre o mesmo na alegria, no bem-estar, no sofrimento, no testemunho, mantendo a integridade do self, em razão da consciência do dever nobremente cumprido, considerando as dificuldades e os sofrimentos naturais no  processo de integração com o Cristo.

Quando se habitua a agradecer, os morbos emocionais da ira que se transforma em ódio, da mágoa que se torna desejo de vingança, da inveja que deseja a destruição do outro, e sucessivamente, não encontram áreas na psique para se tornarem sofrimentos... A alegria de ser-se grato proporciona entender a pequenez do ofensor, a vaidade e fatuidade do perverso, a fragilidade do adversário... Uma emoção de tranquilidade preenche  os espaços íntimos do self, nos quais se desenvolveriam os sentimentos inferiores.

Da mesma forma, mesmo quando se sabe de uma doença incurável, de um acontecimento grave e mutilador, a gratidão permitirá viver-se plenamente cada momento, pela convicção racional da sobrevivência ao corpo somático, sempre credor de toda a gratidão por conduzir-se como um doce jumentinho do self, conforme o denominou o  irmão alegria de Assis, o numinoso, sempre grato a Deus por tudo, inclusive pelo momento em que se lhe acercou a irmã morte.

Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias.02/09/2018.


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