domingo, 30 de setembro de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
O INCONSCIENTE COLETIVO E A GRATIDÃO

Diante de determinadas decisões, o ser consciente tem grande dificuldade em escolher a que seria a mais correta. Isso porque o inconsciente coletivo encontra-se sobrecarregado de medos, recordações afligentes, impulsos não controlados, toda a herança do primarismo ancestral, mesclando as experiências gerais e as pessoais. Sendo  resultado da sombra que há na natureza de todas as criaturas.

Nas experiência da alegria como da tristeza, da harmonia como do desconcerto, os grupos sociais podem compartilhá-las em razão do inconsciente coletivo, o que explica ocorrências funestas ou ditosas que sucedem simultaneamente em diferentes partes da Terra. É graças a esse comportamento que, em qualquer período, a sombra coletiva emerge do inconsciente coletivo- transmitida individualmente de pais para filhos, concomitantemente de um para outro grupo -,  transformando-se em calamidade social. Os vícios sociais, por exemplo: fumar e beber, as extravagancias sexuais e o uso de drogas aditivas que invadem a sociedade, os jogos de videogame que se converteram em modismos, dentre outros, tomam conta das massas de forma contagiante, como resultado do inconsciente coletivo, o que proporciona à sombra uma oportunidade de participar do fenômeno. Sem dúvida ocorre de forma inconsciente e, por essa razão, manifesta-se automaticamente na sociedade, após irromper no indivíduo. As sociedades são estruturadas por acontecimentos e métodos pedagógicos de conduta infantil, quando se aprende a discernir o que é bom do que é mal, de acordo com a cultura e a ética de cada grupo. Fosse a questão da sombra identificada desde a infância, quando se ensinaria a descobrir os impulsos que dela procedem, facultando ao educando a compreensão da própria fragilidade, dos erros, desculpando-se e corrigindo-se, esclarecendo-se que há sempre variações no comportamento, ora para o bem, ora para o mal, ficariam mais fáceis as condutas favoráveis as sociedades e a tudo quanto se lhe vincula.

A sombra ocorre no inconsciente coletivo pelo que se pode denominar como energias contrárias que caracterizam os terroristas, os criminosos em geral assim como também os bons cidadãos: Hitler e Churchill, Alarico e Santo Agostinho... Em realidade, a aversão e animosidade que se sustentam no exterior procedem do íntimo no qual se fazem aliados. É como se fosse necessário a existência de um opositor, um inimigo, para que se revele a pessoa que se é. Nas lutas, as mais sangrentas ou mais perversas, nas perseguições sociais sutis ou públicas é que aparecem os heróis, os santos, os mártires, em razão do lado sombrio que existe em todos.

O inconsciente coletivo registrou todo o processo da evolução do ser, desde quando o córtex cerebral se desenvolveu possibilitando o surgimento das funções exteriores, dos conhecimentos abstratos, dos valores transcendentes como o amor e a misericórdia, o perdão e a caridade, a alegria e a compaixão desvelando o self. As energias contrárias fomentaram o surgimento da sombra que, em razão do seu lado oposto, olvida a gratidão, criando embaraços para vivenciá-la, em razão da prepotência ancestral que vem do primarismo na escala evolutiva.

Numa analise mais cuidadosa pode-se constatar que a evolução do ser humano é mais da sua mente do que do seu cérebro físico, o que quer dizer que o  self lhe é preexistente, encontrando-se em adormecimento enquanto preparava os equipamentos para se desvelar, o que ainda ocorre na conquista da individuação, em que os impulsos éticos e as conquistas iluminativas transcendem a capacidade física.

A gratidão é uma experiência moral, não cerebral, do self, não do ego, pois o primeiro tem origem divina e o segundo de natureza humana. Herdam-se os sentimentos – egoicos, geradores da sombra – como os sublimes fomentadores do self. Quando se odeia alguém, experimenta-se a sombra desconfiada de que o outro é que o odeia e quer prejudica-lo. Em mecanismo de defesa nascendo aí, a animosidade. Quando se expressa o amor, o córtex traz bem-estar orgânico, ampliando as possibilidades de crescimento do self, dando lugar à saúde.

Somente através do amor é que o sentimento da gratidão e da vida pode manifestar-se, e  vivenciado por alguém vai influenciar as futuras gerações por insculpir-se no inconsciente coletivo, destruindo o império dominador da sombra.

As pessoas que ainda vivenciam o comportamento sensorial, fisiológico, à medida que despertam o self, veem o mundo à sua volta de maneira completamente oposta ao que notavam, dominado por luminosidade grandiosa, por belezas ainda não vistas, por harmonia antes não observada, pela brisa perfumada, alterando a realidade anterior da paisagem sombria, sem vitalidade, dominada por odores pútridos e por seres humanos que pareciam animais estranhos... Isso somente ocorrerá se for possível superar os limites da sombra no inconsciente coletivo desconhecido, gerador de conflitos diversos, como culpa, vergonha, julgamento, transferência, projeção, separação, nos quais o self  debate-se sem poder viver a plenitude. É indispensável a coragem para os enfrentamentos e a conscientização de que todos são débeis e erram, não se sustentando nas bengalas do desculpismo e do acanhamento, pois o processo de evolução é feito de sucessos e de insucessos, não se permitindo julgamentos perversos vindos do complexo de inferioridade, desprendendo-se das paixões inferiores às quais se aferra. Logo depois, conscientizando-se que é preciso a iluminação, o paciente vai ter de se soltar dos julgamentos de si mesmo e dos outros, começando no trabalho de (re) construção dos equipamentos emocionais, deixando de esconder-se na projeção da sua imagem nos outros, dando a cada um o direito de ser feliz ou infeliz de acordo com sua escolha, sem inveja nem ciúme, sem mágoa nem amargura. Nesse momento, são somadas novas forças morais, e o paciente entra em contato com os sentimentos superiores, não separando, mas descobrindo a própria arrogância mascarada de humildade, a defensiva persistente para estar a favor e não armado contra, bem idealizando as outras criaturas com as imagens fortes da bondade divina. Logo se vai diluindo a sombra, e os preconceitos, os ciúmes, as inseguranças cedem lugar à ternura, à amizade, surgindo os pródromos da gratidão a tudo e a todos, até mesmo àquilo que, desagradável, é necessário no campo experimental das emoções.

O hábito da projeção leva à paranoia que se disfarça, escondendo a ansiedade asfixiante e  enraizada no comportamento psicológico.

Não é bastante querer o bem, é preciso vive-lo, aspirar pela paz, abrindo-se à paz, porque toda vez quando se combate a guerra, o mal, em realidade se é (interiormente) o que se está apontando na situação oposta, projetando a sombra, o negativo oculto no comportamento.

É comum a projeção e a separação se unirem e agredirem os outros, quando se narram acontecimentos constrangedores que eles praticaram, passando a ideia de se estar aconselhando, orientando. Na realidade inconscientemente ou não se está é censurando, embaraçando a pessoa, vingando da sua superioridade, aquela que lhe é atribuída.

Nessa conduta, a inveja tem papel importante, porque filha da sombra ou sua promotora também, sente prazer em expor o outro, e em apontá-lo à censura dos demais.

Reconhecer, o negativo que existe em si é um dos primeiros passos para desmascarar-se a sombra, aceitando sua presença mas não conivindo com a sua existência.

Evitar a queixa que busca ganhar compaixão e solidariedade, como autojustificativa para continuar na conduta morbosa, compreendendo os valores possuídos com critério, é passo decisivo na construção básica da gratidão. A gratidão que se deve ter à vida, onde todos se encontram situados.

Um dos recursos para dar direito aos outros de se comportarem como estão é a compaixão, que é uma maneira gratulatória de ver a vida, porque o ato de vivenciar a compaixão em relação ao próximo é também maneira de beneficiar-se. A consciência ou superego está sempre vigilante e é preciso ouvir seu argumento, especialmente quando alguém se envolve em autojustificação. Ela tem sempre o valor independente de diluir as máscaras e mostrar o erro em que se esteja, também avaliar com acerto o procedimento. É destituída de compaixão, empurrando o ser para possuí-la em relação ao outro, facultando sintonia com a misericórdia, com Deus. Quando se pratica, a compaixão, a consciência concorda e compadece-se também, autosuperando-se e vitalizando o self ou o Si mesmo, o ser espiritual.

Na (re) construção das nossas emoções precisamos abrir espaços para a gratidão, exercitando-a de forma constante sem permitir que o inconsciente coletivo crie obstáculos, tornando-a impossível.
Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 30/09/2018.

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