domingo, 12 de agosto de 2018



GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
O SER MADURO PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÃO

Conforme o indivíduo vivencia o sentimento da alegria e da gratidão, curam-se os males que o afligem da imaturidade psicológica, libertando-o dos conflitos que deterioram o comportamento, permitindo-lhe assim aprofundar a perspicácia, a sabedoria, a compreensão da vida e da sua finalidade.

Tudo o que era desafio, agora é continente conquistado, se ampliando para o infinito porque descobriu e torna-se conquista interna.

Melindres e manifestações de criança maltratada foram superados, e o espaço é ocupado pela confiança em si mesmo e pelo respeito aos outros, pela consciência dos atos. Vencendo assim as síndromes de desconforto íntimo, permitindo a alegria espontânea de viver e de lutar.

A calma substitui a ansiedade motivo do desequilíbrio emocional, a bondade é natural, como uma luz que se irradia sem alarde, e o indivíduo torna-se um centro de atração de interesses das outras pessoas.

O ser imaturo psicologicamente não venceu a infância que a transferiu para a idade adulta cheio de conflitos não resolvidos que se manifestam no relacionamento,  escondendo assim a personalidade insegura e doentia.

A ambivalência no comportamento, desejar e não fazer, pensar e desistir, efeito imediato dessa imaturidade, expressa não saber agir corretamente até na  afetividade.

“Deverei dizer que amo? E se for incompreendido?” – constitui um dos pensamentos da conduta ambivalente ao ser imaturo, sempre retardando as atitudes psicológicas saudáveis, pelo medo da opinião alheia. Numa crise emocional, não hesita em dizer: “Eu detesto o mundo e não quero ver ninguém na minha frente!”

O processo de amadurecimento psicológico avança com a facilidade de expressar gratidão por tudo que ocorreu e o  que venha a suceder ao ser humano.

Ninguém é totalmente autossuficiente, só os narcisistas, que se acham especiais na criação, significando uma imperiosa necessidade de parceria, de acompanhamento, de dependência, porque é um ser gregário desde os primórdios da evolução. Mas tal parceria e dependência, não é de submissão mas de companheirismo, de trabalho de ajuda recíproca, de cooperação.

Duas crianças, uma de 7 outra de 8 anos, iam na direção da escola fundamental sem falarem uma só palavra, cada uma no seu mundo infantil, a mais velha vivia um conflito muito grande porque não conseguia comunicar-se com os  colegas, sendo discriminada pela sua origem humilde, pela cor da pele...

Pararam, antes de atravessarem a rua, porque o semáforo estava com o sinal vermelho. Quando mudou para verde, as duas avançaram, mas a sacola cheia de livros e de cadernos da criança mais velha abriu-se e alguns deles caíram, obrigando-o a abaixar-se raivoso e buscar reuni-los outra vez. Nesse momento, o menorzinho, vendo-o em apuros, aproximou-se, abaixou-se também e perguntou-lhe:

- Posso ajuda-lo? Eu gosto muito de você...

Os dois sorriram e foram conversando na direção da escola.
Passado um quarto de século, quando um cidadão afrodescendente atingiu o topo administrativo de uma grande empresa, foi elogiado, disse no discurso de agradecimento:
- Eu devo a minha vida a um garotinho de sete anos, que um dia me ajudou a guardar livros e cadernos que me haviam caído da sacola ao atravessar uma rua e disse que me queria bem... Naquele dia eu havia resolvido suicidar-me, mas o seu gesto inocente e jovial modificou totalmente a minha vida. A ele, pois, eu sempre agradeci haver sobrevivido, e agora agradeço novamente por haver chegado ao posto em que me encontro, e, por antecipação, por tudo mais de bom que me venha ou não a acontecer...

O sentido de parceria, de acompanhamento e de dependência no grupo social, não se refere aos conflitos e aos medos de crescimento, mas a uma necessidade de ajuda recíproca, de participação no grupo social, de vida em ação, de união de interesses por todos e, por consequência, pela sociedade, pelo ecossistema, pela alegria de viver.

Quando Confúcio falou, “Haja com bondade mas não espere gratidão”, demonstrava que os sentimentos nobres devem estar revestidos de renuncia, sem os interesses imediatistas da compensação, do aplauso, da administração dos outros.

A gratidão, por isso, tem caráter de amadurecimento psicológico, porque quem assim age descobriu que tudo que lhe ocorreu depende de muitos que o auxiliaram a chegar ao lugar em que chegaram.

Quanto custa o ar puro da natureza, a água dos córregos e das fontes, a beleza da paisagem, o clima saudável? Quando o alimento vem à mesa, quantas pessoas participaram no anonimato de toda essa cadeia mantenedora da vida? Fazer uma viagem feliz, quanto dependeu de pessoas e fatores que nem foram observados pelo automatismo da existência? Tudo, que ocorre em volta de nós e para nós dependeu de um ou outro indivíduo ou circunstancia que tornaram possível esse momento.

Quantos acidentes, decepções, doenças e mortes marcaram existências que se entregaram às descobertas, à colonização dos países, às transformações feitas para que se convertessem em comunidades felizes!? A todos esses anônimos, a gratidão deve ser oferecida com ternura e gentileza.

O amadurecimento psicológico que elimina a negatividade teimosa do ser humano desconfiado e inseguro, que sempre suspeita de que mesmo a amizade traz interesses subalternos daqueles que dão ou buscam a estima.

O hábito de esperar-se resposta ao ato gentil, de aguardar-se que o outro, o beneficiário, reconheça o que recebeu e retribua, é um grande obstáculo à gratidão madura. Essa é uma forma de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, ficando-se decepcionado pela ausência dessa resposta levando muitos ansiosos às atitudes infantis de que nunca mais farão mais nada por ninguém, pois não merecem.

O sentimento da gratidão deve estar sempre desacompanhado da expectativa de qualquer forma de retribuição, nem mesmo de um olhar ou de um sorriso, que expressariam reciprocidade. Se há, é melhor, porque o outro também se encontra em processo de amadurecimento psicológico e de contribuição  à sociedade. Mas é uma exceção e não uma lei natural e constante.

Todo ato de generosidade, por sua maneira de ser, dispensa gratulação e manifesta-se  naturalmente. O amor aos filhos, aos cônjuges, os deveres com eles e com os outros são da natureza íntima de cada um, que se satisfaz em agir de acordo com as regras do bem viver e não apenas do viver bem, cercado de coisas, de carinho, de compensações.

Essas atitudes são logo esquecidas, toda vez que se espera reconhecimento, vem como um aprisionamento, como aquelas pessoas que dizem que vivem para outras: filhos, parceiros, amigos,  e que se desencantam  quando eles buscam seguir o seu destino. A síndrome do ninho vazio em que se aprisionam por prazer e por imaturidade psicológica torna-os pacientes  amargurados levando-os ao desencanto por não receberem a compensação esperada em relação ao que fizeram por interesse, não pelo prazer de realiza-lo.

Isso também é comum no que se refere aos trabalhos enobrecedores que esperam aprovação, recompensa da sociedade. Pessoas  com alto nível de inteligência e de trabalho contribuem eficazmente em todos os setores do progresso social, com descobrimentos, com invenções, com realizações grandiosas... mas, quando não são reconhecidas ou premiadas, se revoltam ou mergulham no desanimo, na queixa ou na desistência de continuar, tornando-se amarguradas e infelizes. Elas não são pessoas más, como se percebe, mas imaturas psicologicamente, vivendo ainda o tempo dos elogios infantis, dos aplausos e dos comentários, dos quinze minutos de holofotes, mesmo que depois sofram o esquecimento, como é quase normal numa sociedade utilitarista como é a nossa. Embora disfarçado, encontra-se nesse caso o narcisismo, resultado de uma infância que não recebeu reconhecimento nem estímulos, nem entusiasmo, nem acolhimento. O conflito originado na imaturidade psicológica.

Os que assim agem, por mais que sejam bajulados, elogiados, aplaudidos, sempre tem sede de mais reconhecimento, dando lugar a um condicionamento que se poderia chamar,  vício ou dependência de gratidão.

Quando não se recebe gratidão, não quer dizer psicologicamente que a pessoa não é aceita, que é rejeitada. Pode ser resultado de outros fatores psicológicos, referentes às outras pessoas, às circunstancias, aos valores de cada cultura.

O ideal é viver-se com gratidão mesmo sem a receber, valorizando o lado claridade da vida,  suas bênçãos e todos os contributos existenciais que nunca esperam receber aplauso.


Jesus, único ser que não carregava o lado sombra, maior exemplo de maturidade psicológica, dedicou a sua vida à gratidão, pelo amor com que enriqueceu a Terra desde então, vivendo exclusivamente para o amor e o perdão, a misericórdia e a compaixão.

Recebeu, pelo contrário, por todo o bem que fez, pelas lições de sabedoria que legou à posteridade, a negação de um amigo, a traição de outro, que se arrependeram certamente, a perseguição gratuita dos narcisistas e imaturos, temerosos e egoístas, a infâmia, o abandono, a exposição à ralé arbitrária, as chibatadas, a crucificação... mas retornou em triunfo de imortalidade exaltando a vida e Deus em estado numinoso.

Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 12/08/2018.

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