“GRAVITANDO
EM TORNO DE DEUS”
A
DOLOROSA NOITE ESCURA
Foi São Joao da Cruz, o grande místico
espanhol, quem primeiro referiu-se à noite escura da alma, durante o seu ministério de
interiorização, na busca do Cristo real enclausurado no seu ser profundo.
A
solidão e a ausência de vida, no imenso vazio
existencial, fez com que ele experimentasse a amargura e a aflição, embora
buscasse com todas as forças encher-se de alegria e da presença divina.
Séculos depois, madre
Tereza de Calcutá procura também inundar-se da presença de Deus, no serviço ao
seu próximo, os pobres entre os mais pobres, e quanto mais O buscava, mais
isolada se sentia, chegando a considerar-se sem amor, sem fé, sem certeza, se o
seu era o trabalho que Ele desejava.
Nas angustias que a
maltratavam, deu-se conta que tinha pedido sofrer as dores do Calvário, atender
a sede de Jesus na cruz, e que, por isso, sofria pela ausência Dele no seu
íntimo.
Temia estar fingindo,
enganando as pessoas com a sua abnegação e alegria externa, quando, em
realidade, sentia-se frustrada, profundamente isolada, rejeitada por Ele...
Ocorre que o Espírito,
habituado com as imposições da matéria, perturba-se com o abismo que o separa
do Criador, que com certeza não se detém nos limites da individualidade humana.
A sombra atormenta-o, na
condição de herança do passado delituoso, em que as realizações foram marcadas
pelo predomínio do ego infeliz, gerador de muitos transtornos, agora
expressando-se como vazio existencial.
A força moral, do self sobrepondo-se leva o ser ao
trabalho que dignifica, aos poucos restituindo a Presença através da meditação,
da oração, no princípio, sem os valores qualitativos da paz, da segurança
interior, da emoção de vida...
A perseverança no
objetivo, acaba, preenchendo de luz a área da a sombra, trazendo a
identificação do eixo com o self.
Muitas
vezes, no teu processo de união com Deus através de Jesus Cristo, perceberás a
solidão, o desprezo da divindade aos
teus ansiosos apelos.
Como ainda não és capaz
de assimilar as emoções transcendentes, atravessas a noite escura da alma, em angustias e sofrimentos, pela diferença
entre o que és espiritualmente e o que buscas.
Saulo de Tarso viveu
esse paradoxo durante o seu exilio no oásis de Dan, apesar da presença dos
amigos Àquila e Prísca, sofrendo o abandono
necessário ao amadurecimento espiritual, para dispor de forças para os
testemunhos nas futuras pregações.
A insistente busca de
sentido existencial deve preencher as horas do discípulo sincero do evangelho
que, no início, não merece fruir da desejada ventura da Presença, já que não possui
as condições próprias para a experiência mística transcendente da entrega
total...
Muito tempo depois,
havendo sofrido todas as imagináveis vicissitudes, o apóstolo Paulo diria que
já não era ele quem vivia, mas Cristo que
nele vivia.
Toda vez, quando, no
serviço do Senhor, sintas a alma envolvida pela tristeza da noite escura, evita
entregar-te à sombra, permitindo-te arrastar pelo desânimo ou pelo desencanto.
Não esperes um céu de
delícias imediatas na experiência autoiluminativa a que te entregas.
Considera os milênios
de treva em que te envolveste e perceberás que a frágil claridade de esperança
envolver-te-á aos poucos, nunca de uma só vez.
Preciso se faz que
desbastes a densa escuridão com a densa claridade da oração em que os teus
sentimentos participem da experiência mística, para que tenhas força para
avançar com segurança pelo caminho traçado.
Aprende então a conviver com a prece, fazendo-a elemento nutriente para a alma, amiga constante das reflexões e companheira da solidão.
Sempre,
quando oras, elevas-te mentalmente e penetras nas faixas mais sutis da vida,
por onde transitam as vibrações de harmonia, de ordem, de equilíbrio.
Quando fizeres, e
sentires as energias de que se constituem, te sentirás mais fortalecido para as
tentativas futuros, robustecendo a confiança em Deus e aguardando-O, não em
forma humana, mas como força íntima e
alegria profunda para a dedicação
total.
A Oração faz muita
falta ao ser humano contemporâneo.
Tendo aprendido que
orar é repetir palavras, algumas cabalísticas, não sabe expor ao Pai Todo Amor
as suas necessidades, que devem ser precedidas do louvor pela vida, pelos
valores de que se enriquece, para expressar melhor tudo o que lhe falta no
momento e que torna-se-lhe indispensável à vida saudável.
Depois, não esquecer de
agradecer, expressando as emoções deliciosas do instante de conúbio com a área
psíquica transcendente onde sintonizou o pensamento.
A oração, é uma
experiência vívida de comunhão com Aquele a Quem se dirige o pensamento,
buscando a união mental, a identificação com a Sua sabedoria e misericórdia e
não um ato mecânico de simplesmente repetir palavras.
Aos poucos, aprende-se
o abandono do ego em favor do ser profundo que se é, esquecendo os caprichos e
louvaminhas, substituídos pelas nobres aspirações de beleza, da paz, da
entrega...
Será nessa conjuntura
que torna-se positiva a contribuição gentil com o próximo de toda forma
possível: desde a oferta de um copo com água fria, à doação de si mesmo, em
benefício das suas aflições perturbadoras e desgastantes.
Nessa busca natural de
servir, inundando-se das bênçãos da caridade real, o Espírito enche-se por
perceber que a Presença faz-se suavemente no imo, espraiando-se por todo o ser
que é, transformando-se em suave claridade na escuridão, apontando a direção de
segurança para a Grande Luz.
A realização de
qualquer empreendimento é feita com momentos de alegria e ´jubilo e outros de
cansaço ou desalinho. O importante é não parar para examinar resultados, continuando
fiel ao propósito inicial abraçado.
Cientistas e santos,
artistas e mártires, filósofos idealistas e místicos, e as criaturas honestas e
sinceras em geral, que abraçam experiências dignificadoras, todos experimentam
a noite escura da alma, exatamente
porque as suas são aspirações que transcendem o comum, o corriqueiro, o
imediato da conjuntura material.
Mesmo Jesus, a fim de
ensinar-nos como deve ser a entrega total a Deus, experimentou no Jardim das
Oliveiras a Sua noite escura da alma,
traído por um amigo, abandonado pelos demais, suando sangue e vivendo solidão,
que Lhe precederam o momento sublime e incomparável da ressurreição gloriosa,
poucos dias depois...
A noite escura da alma é o amanhecer do dia glorioso da imortalidade
em triunfo.
Texto de Joanna de
Ângelis, psicografado por Divaldo Franco, no livro, Ilumina-te. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 14/0l/2018.
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