sexta-feira, 29 de abril de 2016

CONQUISTA DA INDIVIDUAÇÃO E DA GRATIDÃO
Individuação é a mais importante conquista da  evolução do ser humano. É a vitória do self em relação à sombra e ao ego, a superação dos arquétipos responsáveis pelos transtornos emocionais e outras enfermidades que vão permitir ao ser humano a perfeita compreensão da vida e das suas finalidades.
É quando a consciência toma conhecimento dos conteúdos inconscientes e segue fazendo a sua superação, através da integração dos arquétipos, para evitar os conflitos habituais ou o surgimento de novos.
Parece difícil de acontecer, porque pede grande esforço pela depuração da personalidade, pela escolha de valores mais nobres do Espírito.
A individuação corresponde a autoiluminação dos místicos ou a conquista do reino dos céus proposta por Jesus, é quando o indivíduo se liberta das exigências imediatistas do ego e se transforma num oceano de amor e de tranquilidade, passando a viver emoções superiores, sem sofrimentos nem ansiedades.
Os instintos fazem parte do conjunto fisiológico, a expressar-se nas necessidades primárias (básicas) automaticamente sem os impulsos da violência ou  das paixões asselvajadas.
Diluindo a sombra, ocorre a harmonia do eixo ego-self, enquanto outros arquétipos como a anima e o animus, a persona, proporcionam equilíbrio psicológico, como ocorre em Jesus, modelo da verdadeira individuação.
Viagem feita pelo self integrado, núcleo energético e central da personalidade.
Sendo o self o arquiteto da vida humana, desde seu período infantil que se manifesta nos momentos oníricos, em que se apresenta através de símbolos arquetípicos, é natural que haja uma grande ansiedade no paciente que busca a integração no self, a autoconsciência, podendo assim orientar os arquétipos perturbadores que antes geravam os conflitos e os transtornos de comportamento por faltar o conhecimento da sua realidade.
Todos podem alcançar esse momento culminante da evolução psíquica pelo esforço para interpretar os símbolos e as angústias que antecedem a ocorrência.
Santa Tereza d’Ávila alcançou-o mediante os momentosos êxtases que a levaram ao estado de plenitude, de iluminação interior, assim como São Francisco de Assis, ou Michelangelo quando acabou de esculpir a estátua de Moisés, que o deslumbrou a  ponto de exclamar, emocionado:
- Parla!
Era tão viva a obra faltando apenas falar, para se tornar um ser real...
Músicos e artistas, cientistas e mártires, filósofos, éticos e místicos conseguiram essa integração, vivenciando o estado de plenitude que os acompanhou até o desencarne.
Um psicoterapeuta experiente pode conduzir os seus pacientes ao momento culminante da libertação dos seus transtornos quando os leva à individuação, como estágio superior e culminante da saúde integral.
Jung, o mestre suíço conseguiu individuar-se através de métodos psicoterapêuticos elaborados por ele.
Esclarecendo ser possível conseguir a individuação após assimilar as quatro funções descritas por ele como sensação, pensamento, intuição e sentimento. Ele comparou a meta da individuação com o Opus ou Grande obra que os alquimistas tentaram vivenciar.
Ele dizia ser, um processo lento, contínuo e de elevação emocional.Podendo ser alcançado também pela oração, pelos fenômenos mediúnicos e paranormais, pelas regressões psicológicas que levam à fase infantil ou até a uterina, como à existências passadas. A meditação, de forma que todos os conteúdos inconscientes geradores do medo e da ansiedade, das angustias e inquietações possam ser diluídos pelo enfrentamento consciente, nada deixando de enigmático nos painéis do inconsciente que  ressurja de forma assustadora...
Essa bela conquista torna o ser diferenciado, libertando-o dos clichês e das imposições sociais que o escravizam, exigindo-lhe condicionamento, quando aspira por liberdade. Com essa conquista o ser humano torna-se consciente de si mesmo, das suas responsabilidades na sociedade, encorajando-o assim para os ideais, sabendo que novas situações relevantes surgirão, mas que serão vencidas naturalmente.
A individuação pode ser considerada, no início,  como a participation mystique, de Lévy-Bruhl. E no  final, situando-se o self como a Imago Dei, numa conquista de unidade, que não isola o indivíduo, ao contrário, favorece a sua interação ou troca com as outras pessoas que passa a ver de forma diferente de quando o ego predominava.
Ela é tão complexa que podemos dizer que começa mas nunca termina, porque é a busca pela perfeição, no mundo relativo em que o ser humano se encontra.
No processo de individuação, pode-se examinar o desenvolvimento da sociedade desde os seus primórdios e a maneira consciente como vem lidando com as suas projeções e superando-as, com as conquistas do conhecimento cultural nos seus vários aspectos, especialmente nos de natureza psicológica.
A identificação dos conflitos vem permitindo que se aspire à conquista do bom e do belo, como meta de saúde e de bem-estar.
Vencendo as etapas do desenvolvimento emocional, surgem os primeiros sinais da individuação, pela superação ou conscientização dos arquétipos que geram sofrimento.
As chamadas virtudes religiosas, consideradas  heranças místicas, no momento da individuação adquirem sentido de realização, como o amor, que se transforma numa conquista relevante, indispensável para uma vida harmônica, a bondade, que multiplica os bens dos sentimentos elevados; a fé no futuro, como estímulo – sentido e significado psicológico – para se continuar nas lutas naturais do processo evolutivo; a compaixão, em forma de solidariedade e de compreensão das aflições do próximo; a gratidão, como coroa de bênçãos por tudo que se conseguiu e que pode realizar-se.
A gratidão, filha do amor sábio, enriquece a vida de beleza e de alegria porque com a sua presença tudo tem significado nobre, ampliando os horizontes vivenciais daquele que a cultiva como recurso de promoção da vida em todos os sentidos.
Conta-se que certo dia, em Boston, nos Estados Unidos da América do Norte, um rebanho de carneiros era levado por uma das avenidas centrais da cidade. De repente um dos carneiros caiu sem forças...
Uma criança pobre e mal cuidada, vendo a cena, achou que deveria ser por sede que o animalzinho perdera as resistências. Tomou o seu gorro, correu a uma bica próxima e colheu algum liquido, trazendo-o ao carneiro quase desfalecido e deu-lhe de beber.
Poucos minutos depois o animal correu e juntou-se ao grupo que seguia em frente.
Uma das pessoas que nada tinha feito, em tom irônico, disse ao menino:
- Obrigado, titio!
E pôs-se a rir zombeteiramente.
Um cavalheiro que viu a cena disse ao irônico:
- o carneirinho pediu-me para agradecer por ele, escusando-se de fazê-lo. Como eu sou dono de uma  editora, sou conhecido como Eduardo Baer, e estou sempre procurando crianças dotadas de sentimentos nobres para cuidá-las, acabo de encontrar mais uma.
A partir deste momento, você estará sob a minha responsabilidade... – disse para a criança aturdida.
Mais tarde, a sociedade acompanharia a trajetória do dr. Carlos Mors, que tornou-se conhecido pela  bondade com que tratava todas as criaturas.
A gratidão do carneiro alcançou a sua nobre finalidade, por não desanimar nem perder o seu sentido.
Poder-se-ia incluir esse fato na extensa relação daqueles de natureza mitológica, da mesma forma que Hercules combateu o mal, vencendo todos os inimigos do bem pelo imenso prazer de ser grato à vida pelo seu poder.
O carneiro, símbolo da mansuetude, e o menino gentil, que pode ser considerado como um arquétipo de misericórdia e compaixão, unindo-se no mesmo sentimento de ajuda recíproca, produziram o missionário do amor e da bondade.
Porque a gratidão é um dos mais grandiosos momentos do desenvolvimento ético-moral do ser humano e está inserida na individuação, quando tudo adquire beleza e significado.
A gratidão é, portanto, um momento de individuação, quando o ser humano recorda o passado com alegria, considerando os trechos do caminho mais difíceis que foram vencidos, alegrando-se com o presente e encarando o futuro sem nenhum receio porque os arquétipos responsáveis pelas aflições foram diluídos na consciência, não restando vestígios da sua existência.
O ego, que os mantinha em ação, alargou a sua percepção psicológica da vida e tornou-se parte vibrante do self, que ama sem distinção nem interesse de retribuição e é grato a Deus por existir, ao cosmo por viver nele, à mãe -Terra por ser o seu habitat, a todas as cores e vibrações da natureza, que lhe facultam contemplação e emotividade especial, aos sons maravilhosos que o fazem vibrar, ao oxigênio que nutre e à psique responsável pelo seu pensamento e pela faculdade de discernir que a consciência alcançou.
Quando o ser humano perceber que necessita abandonar as faixas menos harmônicas em que se encontra, aspirará pela conquista da individuação, exercitando-se na sublime arte do amor a Deus, ao próximo e, com certeza, a si mesmo, abandonando o egotismo e vivenciando o altruísmo como forma segura de realização plena, no caminho da gratidão...
A gratidão abrange, num abraço afetuoso, os sentimentos que dignificam os seres humanos tornando-os merecedores de felicidade, momento em que estarão instalando no íntimo o decantado reino dos céus, conforme Jesus propôs o maior psicoterapeuta da humanidade.

Do livro Psicologia da Gratidão, ditado pelo Espirito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Trabalhado por Adáuria Azevedo Farias. Publicado em 29/04/16.

Nenhum comentário: