sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O SER HUMANO PLENO

Frederico Nietzsche, dominado pelo pessimismo, sofrido por crises de depressão e amargura, concebeu o super-homem como aquele que poderia vencer o niilismo e com a sua sede de poder tudo conquistar. Esse arquétipo que predomina em muitos indivíduos, estimulando-os à conquista desse símbolo representado na personagem fictícia do Superman, é um sonho sofrido sem apoio nos conteúdos psicológicos só existindo na imaginação.

Ao conceber esse protótipo, Nietzsche não imaginou o modelo ariano como ideal, que detestava, mas  alguém que superasse o homem morto, do Assim falava Zaratustra, que talvez não suportasse os  conflitos à sua volta. Por um tempo, esse conceito gerou incompreensão em volta do autor, quando sua irmã, que conviveu com ele nos últimos tempos, ofereceu a Hitler uma bengala que lhe havia pertencido, transparecendo simpatia do filosofo pelo nazismo...

Idealizar-se um super-homem é tentativa frustrada de desprezar-se o homem e todas as potências que nele existe em germe.

Porque o seu processo de experiências é feito por etapas caracterizadas por incertezas e dificuldades, aspira-se, inconscientemente, à possibilidade mitológica de tornar-se alguém inacessível aos  sofrimentos, às angústias e à morte, conforme a concepção do Superman.

A conquista dessa fortaleza e grandeza moral só é possível pela inversão de valores, existente no mundo exterior como portadores de poder e gloria, estando adormecidos no Si-mesmo, que deve ser conquistado com decisão, em processos vigorosos de reflexão e de ação iluminativa, de forma que nenhuma sombra predomine na conquista da plenitude.

A conquista de humanidade conseguida pelo psiquismo após os bilhões de anos de modificações e estruturações, transformações e adaptações, permite, nesse momento da inteligência e da razão, a conquista do pensamento, força dinâmica do Universo que o sustenta e revigora permanentemente.

Não foi sem sentido psicológico profundo que o astrofísico inglês Sir James Jeans declarou: O universo parece mais um pensamento do que uma máquina, coroando-se com a declaração do nobre Eddington dizendo: A matéria-prima do universo é o espirito.

Por isso, quando o ser humano autoexamina-se, percebe-se como um todo com possibilidades especiais independentes de  outra condição externa, mas ao abrir os olhos dá-se conta do meio ambiente, das circunstâncias e das imposições sociais, tornando-se parte do conjunto, mesmo com alguma independência. Surgem-lhe, as necessidades de autoafirmação, de autorrealização, buscando a integração no conjunto sem perder a sua identidade, a sua individualidade, o Si-mesmo.

Se manifestam as ambições pelo poder, pelo ter, que o estimulam à luta, levando-o a vencer os obstáculos, tentando dificultar-lhe a conquista dos seus objetivos.

A insistência fortalece-o ajudando-o a definir o caminho do progresso, para conforme amadurece psicologicamente, percebe que essas conquistas do ego são interessantes, trazem comodidade,  prazeres, mas insuficientes para a plenificação.

Amadurecido, sem sofrimento de frustrações, mas por análise dos acontecimentos e das posses descobre outra ordem de valores interiores, de aspirações mais importantes, de sentido mais lógico e grandioso da vida, e passa a aspirar pela plenitude, esse estado de samadi, preservando a dinâmica do crescimento.

Considerando que o processo de evolução é infinito, quanto mais consciente o ser humano, mais aspira e melhores desejos trabalham-lhe o íntimo, porque a sua compreensão da realidade é abrangente e compensadora.

Quem anda num vale tem a visão limitada, apesar da beleza da paisagem. A esforço, começando a subir montanha acima, amplia-se-lhe a visão do horizonte, apesar da distancia dos contornos dos montes e dos abismos... Ao atingir o acume, sente-se triunfante e pequeno diante da grandeza do que alcança visual e emocionalmente, não se satisfazendo em  apenas vê, mas em ser também parte importante desse conjunto, que não existia para ele até quando pôde contemplar...

O observador existe quando percebe o que antes não existia para ele, que, por sua vez, passa a ser observado pelo que observa.

Nos conflitos existenciais, o ser humano apequena-se e parece consumido pelas situações psicológicas em que se vê envolvido, como alguém num vale em sombras, sem perspectivas mais amplas que lhe facultem os horizontes de grande alegria e bem estar.

Os tormentos cegam a razão, o egoísmo limita os passos, estreitando as aspirações que pretendem abarcar tudo, sem possibilidade de fruí-lo, o que é lamentável, tornando o possuidor possuído pela posse possuidora...

Quando se liberta do que arrasta tudo de forma forçosa para o centro do ego, respira o oxigênio saudável da alegria por estar livre das situações sofridas do ter e do temer perder, do ser admirado pelo que tem, não pelo que é, de ser visto como triunfador de fora, no que é admirado, mas nem sempre amado... Livre da dependência do cotidiano das coisas, pode voar pela imaginação e pelos sentidos em qualquer direção, sem medo nem ansiedade, por se encontrar pleno.


Texto trabalhado do livro Em Busca da Verdade, psicografado por Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis. 27/11/2015.

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