sexta-feira, 20 de novembro de 2015


AS CONQUISTAS EXTERNAS


A evolução antropológica é um grande desafio da vida, trazendo mudanças nas formas e funções orgânicas, permitindo assim o desenvolvimento das faculdades mentais até alcançar a área da inteligência e dos sentimentos. daí ser o instinto, já uma inteligência embrionária, por criar os condicionamentos que, mais tarde, a razão ampliará até possibilitar   entendimento da compreensão dos conceitos sutis e das abstrações ...

A necessidade da sobrevivência desenvolveu os instintos agressivos que predominaram no ser humano por milênios e, quando atingiu o limiar da razão e o seu estabelecimento na intimidade do Espírito, aquelas heranças continuaram dominantes no comportamento. A libertação lenta do primarismo e a aspiração do belo e do nobre, o deotropismo se vêm impondo, podendo hoje a consciência administrar os impulsos violentos, orientando para as ações das edificações, sem traumas nem conflitos.

Nada obstante, o individualismo, filho do materialismo, que se rebelou contra as imposições do religiosismo exterior, sem significados internos, expressa-se, hoje, como uma incompleta autorrealização, levando o individuo a ter, a destacar-se, a conseguir o que quer de qualquer forma, tornando-se consumista insaciável e inquieto.

Diante desse instalado pós-modernismo, atribuiu-se à ciência valores e significados quase divinos, parecendo incorruptível e insuperável, ao tempo em que as referencias pessoais nos relacionamentos que não se aprofundam, mantendo-se sempre na superficialidade, tornam as afeiçoes descartáveis, como tudo que se compra na sede de ter.

Os afetos são ligeiros e medrosos, oportunistas e descomprometidos, cada um com medo de ser dominado pelo outro, evitando submeter-se, o que fica caracterizado como pequenez, falta de personalidade, risco de perda, quando se estabelece a dependência...

A confusão entre afetividade e interesse sexual, amor e compensações sentimentais, é responsável pelo desinteresse do convívio fraternal saudável, sem interesses subalternos, deixando-se que a sombra  domine os espaços do ego, enquanto isso não se abrem as possibilidades psicológicas do Self para a realidade.

As artes, tem expressado o estagio evolutivo, politico, comportamental da sociedade, e de beleza, hoje, são agressivas e sem propostas elevadas em muitas áreas, expressando apenas os conflitos, as aspirações doentias, a revolta e os desânimos dos seus portadores. A música, por exemplo, descendo do pedestal das musas, enveredou pela contracultura, pela ironia, a perversão moral, o deboche, a agressividade, o duplo sentido com destaque para o pejorativo, como se o ser humano devesse sempre reagir, mesmo quando pode agir, deixar-se cair no desespero, quando poderia aspirar pela alegria real de viver, modificando o status quo e contribuindo para um mundo melhor, onde seja possível a vida expressar-se em harmonia e grandeza.

Os governantes da Terra, aturdidos, impossibilitados de conduzir os povos, por se encontrarem perdidos na burocracia e nos interesses partidários, demonstram não saber o que fazer nem como faze-lo. Permitindo a desorientação das massas, a sua revolta contínua, esquecidos das responsabilidades não cumpridas apresentadas nos seus programas eleitoreiros enganando o povo desorientado.

Surgem revoltas, revoluções, amolentamento do caráter e perda da moral, com reações em cadeia, cada vez mais violentas e ameaçadoras, porque os limites da ordem e do respeito foram superados pelo não limite da rebeldia.

Os esportes, oportunidades de catarses coletivas, competições saudáveis, alegrias e entusiasmo coletivo, transformaram-se em fontes mafiosas de domínio e de conquistas financeiras, construindo deuses frágeis que logo caem do pedestal, tornando-se campo de batalha pelas torcidas ferozes que digladiam com frequência em contínuos espetáculos deprimentes que acabam com a morte de alguns dos seus fanáticos...

O desrespeito pelos valores internos do ser humano propõe a importância das conquistas exteriores, tornando-o avaro e pretensioso.

A falta de concentração das pessoas em questões importantes do ser interior tem contribuído para a futilidade e o desconhecimento da própria realidade, crendo que a vida é um passeio pelo país da pressa dourada, onde tudo é muito rápido, dificultando a reflexão e o encontro com a consciência, com o Si-mesmo. Essa sombra teimosa consegue separá-las do eu divino que há no íntimo e de que se constitui, é preciso transmudar esse material inferior num processo alquímico emocional, para aí encontrar o significado existencial.

Trazer em mente a presença da sombra, para vencê-la, é necessidade psicológica urgente, como nos  contos de fadas, nos mitos, possibilitando a liberação do ser oculto, misteriosamente transformado pela magia da ignorância (A bela e a fera, O príncipe sapo, Branca de neve, A bela adormecida etc.)

Com essa compreensão, fica claro que não adiantam as lutas externas, os combates contra os outros, a ânsia de superar competidores, o desejo de ultrapassar os demais, por insegurança pessoal, permitindo-se encontrar e viver-se o sentido da vida. Ninguém pode ser saudável sem  a integração da fé religiosa com a razão numa harmonia que estimule a continuação dos enfrentamentos inevitáveis do dia-a-dia, conquistando confiança nos momentos difíceis e renovando a coragem ante a ameaça de desanimo. Esse sentido da vida não se consegue pelos hábitos externos, mas sim, construindo de forma subjetiva, idealista, interior, pelo enriquecimento das aspirações que engrandecem a existência. Não se vive sem o sentimento dos conceitos eternos, que dão dignidade à criatura humana, trazendo ética e moralidade sedo-se fiel aos objetivos existenciais.

Descobre-se então que os conflitos, as aflições das posses e o medo de perde-las são fenômenos pessoais interiores da própria insegurança, levando a transtornos de comportamento e a distúrbios orgânicos repetitivos. 

A legítima psicoterapia leva o indivíduo a redescobrir a sua realidade, a sua origem espiritual, a finalidade existencial, o seu futuro imortal que se lhe transformam em bases de segurança para as lutas contínuas, evitando projetar os seus conflitos nos outros, assumindo a culpa e libertando-a do inconsciente onde vem trazendo sombra  e desconforto.

Quando Jesus diz ser preciso tomar a sua cruz e seguí-lO, está propondo a conquista da autoconsciência, a definição e determinação para assumir as próprias responsabilidades, ao invés de ficar perdido buscando como encontrar o melhor processo para o equilíbrio, que não se expressa em formas exteriores ou nas fugas de transferência de responsabilidades, ou em prazeres que se extinguem, por mais durem...

A psique precisa de apoio transcendente que possibilitem elementos dignificadores, na realidade onde todos estão mergulhados, escolhendo os mais conformes com as aspirações e de possíveis execução.

Todos dependem de Deus, porque, estamos mergulhados em Deus, portanto é preciso reconhecê-lO em nós, para que O manifestemos no comportamento emocional e nas ações sociais, familiares, espirituais...

Quando perguntaram a Jung se ele acreditava em Deus, respondeu com humildade e sabedoria, que não precisava crer, dizendo: - Eu sei, não preciso acreditar...

Há uma batalha na definição de Deus atribuindo-Lhe apenas caráter religioso, limitando-Lhe a grandeza, o que falta aos que pensam e se libertaram das crenças ligeiras, negá-lO, porque a sua visão é mais ampla e abrangente do que a limitada proposição do fanatismo religioso. Se for considerado como a vida, por exemplo, passa a existir naquele que O imagina, porquanto a Sua realidade só pode ser aceita pela consciência depois que se começa a concebê-lO.

Sem um valor maior, que mereça investimento, ninguém vai à luta, ao sacrifício, porque tudo que é superficial perde o sentido rápido. É como algumas metas humanas, que são imediatas, como conseguir coisas, posses, juntar fortuna, conviver com pessoas, e quando alcança, atingindo o objetivo, surgem as frustrações e os desencantos.

Há pais que educam os filhos, colocando neles todas as suas aspirações e insatisfações, esperando compensação quando forem adultos. Quando isso ocorre, e os filhos são chamados a seguir a sua vida, eles sofrem, setem-se abandonados, tem depressões, perdem o sentido existencial...

O Significado da vida não é esse compromisso breve da existência.

Ocorre o mesmo com o trabalho, com a carreira profissional, com as aspirações políticas e culturais, artísticas e religiosas... Alcançando o patamar programado, a falta de nível mais elevado leva ao tédio, ao desinteresse, à perda de sentido da vida...

Isto porque a educação infantil é feita de ilusões que escravizam que se transformam em metas principais, tornando-se uma proposta neurótica e sem significado. Descobrir o destino e trabalhá-lo, programar essa fatalidade honorável e saudável é o objetivo da vida, aquele que traz a saúde integral, porque não é conquistado de um para outro momento, não se reduz a encantos passageiros, não é monótono, sendo sempre  colocado um passo à frente.

Conforme a religião enfraqueceu nas famílias, o desinteresse pelo ser espiritual também sofreu como uma atrofia emocional, deixando que cada um escolha, no momento preciso, o seu conceito de vida e de espiritualidade, como se fosse possível deixar se contaminar de alguma doença para depois expor-se aos perigos que a mesma traz.

A criança deve sentir o valor da família, compreender o que significa esse pequeno grupo social, para poder conviver com a outra, a social e ampla, com ideias religiosos liberais e enriquecedores, amadurecendo psicologicamente com segurança e respeito pela vida.

Uma visão infantil bem trabalhada pelos pais e educadores permanecerá conduzindo-lhe a vida toda. Os diferentes símbolos de cada fase etária serão decodificados e transformados com naturalidade sem choques nem perdas, substituídos por outros mais oportunos e significativos, que abrirão espaço para o encontro com a realidade existencial sem fantasmas nem bichos papões.

Os mitos pessoais, as fantasias, os complexos e os sonhos não realizados quando se expressam naturalmente, são superados pelas conquistas da compreensão e da razão, da contribuição da psique, unindo as duas fissões numa só significação.

texto trabalhado do livro Em Busca da Verdade, pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Joanna de Ângelis. dia 20/11/2015


Nenhum comentário: