A GRATIDÃO COMO ROTEIRO DE VIDA
Passando
por níveis diferentes de discernimento e de lucidez, a conquista da consciência é o grande desafio da vida. Pode-se
mesmo transformar essa conquista no sentido,
no significado que Jung propõe se dever buscar, substituindo mesmo a ilusão da felicidade, fugidia, que a realidade dilui logo depois
de ser alcançada. ...
Causado
pelos diferentes estágios de consciência fisiológica
(comer, dormir, reproduzir-se,) ou psicológica
(comer, dormir, reproduzir mas também pensar e agir com discernimento e
segurança ético-moral), o sentimento de
gratidão apresenta-se também na capacidade de compreender e de sentir o valor
da existência terrena.
Algumas
culturas modernas conservam ainda o conceito
marxista e primário de que a gratidão é um sentimento feminino, emoção
específica da mulher, não devendo ser cultivada pelo homem.
Com esse
entendimento, quando um homem expressa gratidão, dizem, que se encontra em
conflito de sexualidade predominando aí a anima
no comportamento.
Nessa teoria
ultrapassada o homem, deve caracterizar-se pela força, entendida como brutalidade,
vigor de sentimentos e quase total ausência das emoções superiores da ternura,
da bondade, da abnegação, sendo o sacrifício mais um gesto estoico e másculo do
que a entrega ao ideal, ao sentido de viver.
Como consequência,
essa manifestação natural da emotividade
cheia de amor é recalcada e desprezada, dando
origem a culpa inconsciente pela instalação da ingratidão, que é o seu oposto.
Numa linguagem
poética, a flor e o fruto, o lenho e a sombra são a gratidão da planta a benção da vida.
A pureza
generosa e refrescante é a gratidão da nascente reconhecida por existir.
O grão
que se deixa triturar é a gratidão presente nele para se transformar em pão e dessa forma em manutenção da vida.
Porque pensa
e sente, o humano é constituído pelas emoções que, na fase primária, são
agressivo-defensivos e, à medida que evoluir, transformam-se em reconhecimento e retribuição. Não seria como uma
devolução equivalente ao que recebeu, como um pagamento pelo que lhe foi dado, mas
como alegria, reconforto, pelo que conseguiu.
Todo crescimento
pessoal cultural, moral e espiritual dirige-se
para o sentimento de gratidão, da oferta, da participação no conjunto, tornando-se
o indivíduo também útil e importante.
A gratidão individual é uma
nota harmônica contribuindo na sinfonia universal, ampliando-se e tornando-se
um sentimento coletivo que proporciona o equilíbrio social e espiritual da
humanidade.
É correto pensar-se que gratidão seja instrumento de afeição, mas o
seu significado vai além ele deve transformar-se numa forma de viver-se, de
entregar-se ao processo de crescimento interior, de realização do progresso.
Desejar-se a gratidão como flor espontânea que
medra em determinados momentos e logo emurchece, não é o suficiente.
Ela deve
ser treinada, exercida como forma de comportamento, externando-se em todas as
situações em forma de alegria e de satisfação.
Normalmente,
os portadores de transtornos de conduta, os
psicóticos e aqueles que sofrem de psicopatologias tornam-se ingratos, perdem o
contato com a realidade dos sentimentos e voltam ao primarismo egoísta e soberbo das
atitudes negativas. É claro que esse tipo de enfermidades, resultantes de
problemas na área das neurocomunicações, apresentam carência de serotonina, de
noradrenalina, de dopamina, amortecendo-lhe as emoções superiores e castrando
as comunicações da afetividade. Mas esse tipo de ocorrência, encontra-se
atrelada ao estágio evolutivo do paciente, às suas construções mentais quando
esteve saudável, aos mecanismos de ansiedade e de desconfiança, de fácil
irritabilidade e enfado.
O exercício, da afeição que se gratula e se
expressa gentil, enriquece a emotividade superior,
empobrecendo o egoísmo e desenvolvendo o self
que se libera de algumas das imposições do ego, facilitando a comunicação no
eixo entre ambos...
Não é sempre, que, o indivíduo sente a
gratidão, por vários motivos: infância infeliz, família turbulenta e
difícil, relacionamentos malsucedidos, solidão, complexo de inferioridade ou de
superioridade que embrutecem os sentimentos, desenvolvendo ferramentas de autodefesa.
Isso não
deve preocupar. Constatar que não se
sente gratidão já é uma forma de compreendê-la, de percebê-la na sua manifestação
inicial. À medida porém que as emoções se expandem e o inter-relacionamento
pessoal permite a ampliação do convívio com outras pessoas, aparecem os
pródromos do bem viver, da comunhão fraternal, do desinteresse imediatista contrárias
às condutas doentias, e vai surgindo espontaneamente o reconhecimento de amor e de ternura à vida e a tudo quanto existe.
Não havendo
ninguém autossuficiente, que seja desvinculado de outrem, que não necessite da
contribuição de outras pessoas individualmente e da sociedade em geral, é
inevitável que a busca de companhia, o descobrimento de valores que existem nas
outras pessoas, a grandeza moral de que
muitos dão excelentes mostras despertem
o sentimento de gratidão como retribuição mínima ao contexto social no qual se
vive.
A psicoterapia da gratidão, preventiva aos
males e curadora de conflitos, está presente em todas as
obras relevantes da humanidade, tanto nas de natureza filosófica ou religiosa,
seja nos comportamentos dos grandes construtores da sociedade, mártires ou
santos, pensadores ou místicos, legisladores ou profetas... Porque ninguém
consegue vincular-se a um ideal de engrandecimento humanitário sem arrastar
outros pela emoção do seu exemplo e da sua bondade para as fileiras da sua
trajetória.
O sentimento da gratidão é de natureza
psicológica e imediatamente aciona o gatilho, se transformando em emoção e
sensação orgânica.
Quando se experimenta o sabor da gratidão,
aumenta-se o desejo de servir mais e melhor contribuir no grupo social em que cada
qual se encontra e na humanidade em geral.
Inevitável é, portanto, a presença da
gratidão no cerne das vidas humanas.
Texto
de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro,
Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 02/03/2019.
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