sábado, 3 de novembro de 2018


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Compromissos da gratidão

No incomparável Sermão da Montanha, depois do canto sublime das bem-aventuranças, Jesus disse com sabedoria:

“Amai aos vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o Seu Sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos”. (Mt. 5:44-45)

A recomendação proposta pelo psicólogo incomparável ainda hoje surpreende, a todo aquele que mergulha o pensamento na reflexão em torno dos textos escriturísticos  evocativos da sua palavra.

A tradição impunha o revide ao mal com equivalente mal, e ainda continua essa conduta enferma em muitas legislações enlouquecidas, impondo punições cruéis em relação aos que são surpreendidos em erro, distanciados da justiça e da reeducação do criminoso, que são fundamentais.

Nos relacionamentos familiares e sociais, profissionais, artísticos, e outros, a conduta retributiva é firmada na injusta conduta ancestral de antes dele, que permanece no inconsciente individual e coletivo, criando graves transtornos pessoais e sociais.

Não se espera que o tratamento que se dá ao perverso seja negligente dos seus atos perversos, no entanto não se devendo agir da mesma maneira, aplicando-lhe penas compatíveis com o seu nível primitivo de evolução sendo justo propiciar-lhes meios de reparar-se os danos causados, de recuperar-se perante as suas vítimas e a própria consciência, de reintegrar-se na sociedade...

Essa atitude, a de dar oportunidade de agir com equilíbrio, é caracterizada pelo perdão às suas atitudes arbitrárias, embora sem conivência com o seu delito, mas também sem cercear o amor que tira o criminoso da masmorra sem grades em que se aprisiona, conduzindo-o à sociedade que foi ferida e aguarda-lhe a cooperação para ser cicatrizada, superando a sua hediondez.

A proposta de Jesus, em relação ao amor na retribuição ao mal, também é a maneira psicológica saudável da gratidão, por propiciar a vivencia da abnegação e da caridade. Não é silenciar o deslize praticado, mas reconhecendo que ele propicia o surgir e expandir os sentimentos superiores da compaixão e da misericórdia que devem viger nos indivíduos e nos grupos sociais.

A gratidão é a mais sutil psicoterapia para os males que se instalam na sociedade constituída em grande parte por Espíritos enfermos.

Quando alguém consegue ofertá-la de forma espontânea e sem barulho,  produz um clima psíquico de harmonia que o beneficia e aos mais próximos, porque não exterioriza revolta nem queixa sistemática...

A gratidão deve transformar-se em hábito natural no comportamento maduro dos seres humanos. Para isso é necessário o treinamento, o exercício diário, por causa da sombra vigilante que estimula a conduta da distância, da indiferença ou mesmo da ingratidão.

O ingrato, além de imaturo psicológico, é vítima da inveja, da competitividade doentia, do primarismo evolutivo.

A ingratidão se encontra e tem força nos grupos sociais onde predominam o egoísmo e a carência moral.

O grande desafio existencial é o de bem viver-se e não o do viver-se bem, cheio de coisas e ansioso por novas aquisições entre sofrimentos íntimos e desconfianças afligentes. Nesse sentido, é grata a recomendação de Jesus, conclamando ao amor mesmo em relação aos adversários, porque eles, são os doentes, pois que escolheram as atitudes agressivas e destrutivas, acumulando resíduos de inconformismo e de ira, que acabam lhes produzindo dolorosas e lamentáveis somatizações.

Quando se consegue não devolver o mal na mesma e doentia moeda, o self ( o Si mesmo, ) alegra-se e o seu eixo com o ego diminui a distancia que o separa, com isso diminui lentamente as suas fixações. Mas, quando se consegue amar o adversário, lembrar dele sem ressentimento, compadecer-se da alienação a que se ele se entrega, arquétipos, modelos perturbadores abrem espaço para emoções saudáveis, trazendo alegria de viver e de lutar, estimulando o crescimento interno e a sua ascensão ideológica.

Não sendo vitalizado pelo rancor, o ódio autoconsome-se, não encontrando revide, a ofensa perde o seu significado, e não se retribuindo o equivalente mal que lhe foi direcionado, ele desaparece.

Opor-se e resistir ao mal vai fortalecer a energia deletéria que é enviada, porque proporciona ressonância vibratória e, no revide, recebe a potencia da resposta. Não valorizar o mal nem lhe atribuir sentido é a maneira mais eficaz de amar os agressores e os perversos.

Um olhar apressado da natureza ensina a presença da gratidão presente em toda parte.

A tempestade chicoteia a Terra e despedaça tudo que encontra ao alcance, distribuindo pavor e destruição. Logo que passa, a vida renova a paisagem, recompõe a flora e a fauna, restitui a beleza, num ato de gratidão a ocorrência agressiva.

O solo sulcado pela enxada bem acionada agradece ao lavrador que o feriu, reverdecendo, transformado e estuante de vida. Até a erva má que cresce junto também agradece,  florindo na primavera.

O ser humano nem sempre consegue viver a psicologia da gratidão. Começa o dia alegre e gentil, mas conforme passam as horas, junto a família, no transito, no trabalho, passa a agir com impulsos agressivo-defensivos, seguindo a conduta dos desesperados... Outros momentos, antes de dormir está disposto e grato, alegre resultantes dos acontecimentos. Mas, fenômenos como sonhos ou outros fenômenos oníricos perturbadores, insônia, distúrbios gástricos ocorrem e dessa forma acorda, mal humorado, tornando o seu dia desagradável e o seu comportamento irreconhecível.

Tudo isso é natural, porém passado o fenômeno perturbador, é necessário voltar às atitudes gratulatórias anteriores, insistindo-se sem desanimar a fim de automatizá-las, para que permaneçam mesmo nos momentos desafiadores e desconfortáveis.

O ser humano traz arraigado o habito de recordar dos insucessos, dos maus momentos, das contrariedades, das tristezas e das agressões sofridas, esquecendo as alegrias e os benefícios deixando-os em nível secundário nos painéis da memória. Tal comportamento produz a volta ao pessimismo, à queixa, ao azedume, à depressão.

Uma reflexão rápida seria suficiente para transformar aqueles acontecimentos doentios, ricos de torpes evocações, em motivo de gratidão, pois que, apesar das ocorrências desagradáveis, a existência modificou-se totalmente, sobreviveu-se a tudo, vieram êxitos, surgiram experiências iluminativas, amizades gentis, sucederam fatos positivos nem esperados...

e assim, gratidão, por todos os acontecimentos, deve ser sempre a atitude mental e emocional de todos os seres humanos.

A caminhada do êxito é pavimentada por equívocos e acertos, tropeços e corrigendas, mas, o mais importante é e será sempre, a conquista do patamar almejado que cada qual tem em mente.

Perseverando-se e treinando-se gratidão, o sentido de liberdade e de infinito apossa-se do self  que se torna numinoso, portanto, pleno.

Texto de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 03/11/2018.

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