terça-feira, 26 de fevereiro de 2013




Reflexões sobre o ser

A“Série Psicológica de Joanna de Angelis”, convida a refletir sobre o ser humano e as causas reais do seu sofrimento, incluindo, a noção do Ser espiritual, que vem sendo excluída, por ignorância ou outros fatores, dos estudos do desenvolvimento psicossocial e, consequentemente, de tudo que se refere ao ser humano, incluindo a saúde e o adoecer.

Os conceitos que ela desenvolve, a partir da integração dos diferentes aspectos do Ser: biológico, psicológico, social e espiritual, conforme a concepção Espírita, trazem uma visão mais ampla e capaz de responder aos questionamentos até então incompreensíveis que a vida coloca, desde sempre, à mente humana.

A realidade espiritual, com a visão reencarnacionista...

“faculta a compreensão dos fenômenos evolutivos, favorecendo os seres com as mesmas possibilidades de crescimento, desde a monera ao arcanjo, vivenciando as mesmas oportunidades e adquirindo sabedoria – conquista do conhecimento e do amor – que culmina em sua plenitude.” (ANGELIS, 1999,p.34) –o ser consciente.

Os antigos mestres orientais falavam que a consciência, em sua jornada evolutiva, passa pelos diferentes reinos da natureza até chegar ao nível em que nos encontramos, para ir além. Léon Denis, traduziu esse conhecimento: A alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal, para acordar no homem.

No campo da forma, que é a expressão substancial da essência, sabemos pelos estudos e pesquisas científicas que todas as espécies existentes atualmente no planeta, incluindo as já extintas, vieram pelo processo evolutivo de ser monocelular, que surgiu nas eras primevas, e evoluíram até formar o nível de complexidade em que se encontram. De maneira que podemos, com base na Ciência e no Espiritismo, dizer que somos, como forma e essência, fruto de uma longa experimentação, através de diferentes etapas, numa sequência evolutiva, que ainda estamos buscando entender e completar.

Diz Joanna de Ângelis (2007,p.24) Encontro com a paz e a saúde que:
“Compreensivelmente, após o longuíssimo transito pelos instintos e reflexos condicionados, o breve tempo em que foi conquistado o pensamento lógico, este ainda não facultou ao homo sapiens superar os automatismos a que se encontra fixado, para melhor agir, em vez de sempre reagir”.

Certamente Isso ocorrerá quando vencermos o orgulho, que dificulta a integração entre os diversos e complementares “saberes”. Nos encaminhamos para isso, nos distanciando da necessidade da “tribalização” do conhecimento, através da qual, o que eu penso e no que acredito, torna-se a única e aceitável verdade, excluindo a verdade que a outra“tribo” pode conter.

O animal e seu território

Para entender nosso funcionamento – inclusive o que chamamos de maldade e mal dentro desse funcionamento – é preciso ter em mente o que já aprendemos sobre a evolução da forma e da consciência, sabendo-as interdependentes, principalmente até o nível humano.

Filogeneticamente, viemos não somente dos antropoides, dos quais descendemos diretamente, mas também de outros animais, em longo curso de aprimoramento. Para seguir ao estágio do homo sapiens, numa longa escala que nos possibilitou ampliar os requisitos da cultura, da estética, da ética, cujo conjunto com o desabrochar dos sentimentos mais nobres representa a escalada espiritual da consciência, que se torna cada vez mais lúcida sobre si mesma e as leis e princípios que norteiam a vida e as relações.

Os animais vivem em função da sobrevivência e da reprodução. Na sobrevivência, temos o território, delimitado por odores, através de secreções de glândulas, urina e fezes, onde o animal encontra a comida e se reproduz. O território é vital para sua sobrevivência. O animal vive para comer, se defender e reproduzir. Está organizado para lutar ou fugir, pois o ambiente onde vive é hostil e se não estiver alerta poderá ser apanhado de surpresa. Ele faz o que foi programado sem possibilidades para escolher fazer diferente.

O determinismo do instinto, começa a mudar com os primitivos seres humanos, quando se implementam os primeiros experimentos da razão e o livre-arbítrio se esboça. E com isto, o homo sapiens se distancia ainda mais de seus irmãos animais, tornando-se gradativamente, pela ampliação da consciência, capaz de fazer escolhas conscientes, selecionando os“caminhos” a seguir e conquistando a responsabilidade pelos resultados, através dos quais passa a aprender mais rapidamente que seus antecessores.

Ainda assim, não havia muita diferença entre os primitivos humanos e os demais animais. Eram a caça e os predadores. Por milhares de anos os homem primitivos vagaram pela terra como coletores e caçadores, até aproximadamente 10 mil anos quando começaram a plantar e domesticar animais, segundo afirma a Ciência, embora haja evidencias de que talvez este tenha sido apenas mais um ciclo de sua longa caminhada, possivelmente, permeada de idas e vindas, neste campo de sua manifestação.

Desde então, o ser humano vem se desenvolvendo, construindo o seu progresso, erigindo civilizações e culturas diversas, experimentando seu potencial, até desenvolver tecnologias cada vez mais sofisticadas, a ponto de sair do planeta aventurando-se na lua e mais além, em voos não tripulados. Olhando nossa sociedade, com as conquistas sociais, éticas, tecnológicas, etc.., ainda funcionamos mobilizados pelos mesmos fatores que impelem os animais e impulsionavam os homens primitivos.

A maior parte de nossa energia é despendida na “luta pela sobrevivência”. O trabalho é o nosso “ganha pão”, e quantos ainda vivem temerosos de perdê-los? Não mais precisamos percorrer quilômetros, atravessando planícies e montanhas para coletar alimentos, mas nos esfalfamos numa jornada extenuante de trabalho para alimentar a família. Como o nosso “ganha pão” é fundamental o defendemos com“unhas e dentes”, ou seriam garras e presas?

O território agora é a nossa casa e o trabalho. Ainda nos agrupamos em tribos, melhor e mais poderosa que a do outro. Se torço para um clube esportivo, é o melhor time do mundo. Os outros não tem valor. O meu partido político, é o único partido que pode fazer algo pela nação. É a mesma coisa com as religiões. Ainda temos a tendência de nos agruparmos com os de “bandeira”semelhante, porque nos traz segurança na defesa do território, que cremos ser o nosso.

Continuamos, apesar dos avanços na inteligência, buscando a sobrevivência, a segurança do território, a aquisição de bens (como símbolo de comida e poder), e o  poder, como fonte ilusória de segurança, sem termos consciência de que agimos ainda mobilizados pelo núcleo instintual, que foi nossa origem. Por isso, competimos, desconfiamos, enganamos e matamos sem enxergar a garra do animal escondida na tessitura de nossas mãos.

Outro território foi criado por nós mesmos para ser defendido. É o espaço virtual da personalidade, ao qual vinculamos a autoestima e passamos a defendê-lo como se estivéssemos defendendo a própria vida. Por isso, sofremos quando somos contrariados. a maior parte de nossos sofrimentos está ligada a algum tipo de“contrariedade”.

Ao contrário do que muitos pensam, as frustrações e contrariedades funcionam como um chamamento para o despertar da consciência, diz Joanna de Ângelis(2007b p.46),(autodescobrimento, uma busca interior) “adquirir consciência, no seu sentido profundo, é despertar para o equacionamento das próprias incógnitas, com o consequente compreender das responsabilidades que a si mesmo dizem respeito.”


A criança congelada


Na ontogênese recapitulamos a filogênese, revivendo no útero materno a longa jornada evolutiva desde a célula, passando pelos seres aquáticos, com as guelras imprescindíveis para a respiração, transitamos pelos anfíbios, de passagem para os mamíferos superiores, até despontarem as mãos, com os dedos, não mais as garras, que nos permitem indicar a direção, como nos diz Pontes de Mirando (2002), jurista alagoano, no livro Garra, Mão e Dedo, caracterizando nossa condição de seres emergentes da animalidade, que nos serviu de base para o acrisolamento de atributos psicoafetivos, além dos intelectivos, que agora, vencida certa distancia do primitivismo inicial, nos serão úteis para a conquista do território do nosso psiquismo, o universo da nossa mente, com a consequente expansão de nossa consciência.


Ainda nos debatemos com o “animal” atávico em nossa intimidade, se consorciando com as áreas não desenvolvidas de nosso psiquismo, denominadas “libido não desenvolvida” por Freud, ou “criança magoada e ferida” por autores recentes.


O esquecimento do passado que, por enquanto, ocorre no processo reencarnatório, decorre não apenas do nosso pouco desenvolvimento consciencial, que nos leva a um entorpecimento mental e consequente turvamento da consciência, pelo contato com a matéria mais densa, o que possibilita o retraimento para camadas mais profundas do ser, da maioria de seus arquivos mentais.


Com isso, o cérebro em formação fica mais livre para receber gradualmente os implementos psicoafetivos do reencarnante, em consonância com as interações entre este e o ambiente, inicialmente o útero e o universo psíquico, principalmente da mãe. Através dessa interação inicial, o nascimento e o complexo campo interacional, que se estabelece entre os pais e o bebê, esboçam-se os pródromos da futura personalidade, e através desta se expressará a tarefa para a qual aquele ser renasceu.


Pai e mãe, por suas condições interiores – e já foram escolhidos por isso–favorecem, positiva ou negativamente, a emergência dos implementos psíquicos que formarão a nova personalidade, para saber o que precisa corrigir ou aperfeiçoar.


Um dos objetivos do esquecimento é permitir a formação de um novo ego e protegê-lo das cargas vindas do passado. Essa barreira, não é impenetrável. O passado, que são arquivos mentais em diferentes níveis de profundidade, se expressa de diferentes formas na atualidade, como benção da vida requerendo reformulação e transformação, para que o potencial positivo do ser como expressão da divindade, desabroche do húmos das experiências que a vida está sempre proporcionando.


Como os pais também estão realizando, a tarefa do próprio refazimento e aperfeiçoamentos, interagem com o filho, já a partir da concepção conforme os mapas afetivos que trazem de vidas passadas e desta, referentes às próprias vivencias a partir do útero, na interação com os pais, que os acolheram.


A esse respeito Joanna de Ângelis(2006,p.81) nos ensina que: “É na infância que se fixam em profundidade os acontecimentos, aliás, desde antes, na vida intrauterina, quando o ser faz-se participante do futuro grupo familiar no qual renascerá. As impressões de aceitação ou de rejeição se lhe insculpirão em profundidade, abençoando-o com o amor e a segurança, ou dilacerando-lheo sistema emocional...”


Como a maioria de nós não vive a fase do amor amadurecido, verdadeiramente espiritualizado, mas o amor egoísta que nos é possível, contribuímos, sem nos darmos conta, também para os percalços (dificuldades)no desenvolvimento da personalidade do ser que inicia nova jornada no campo físico. Winnicote enfatiza que tudo começa em casa, tendo um livro com esse título.

(Baseado no trabalho do livro Refletindo a Alma - Nucleo de Estudos Psicologicos JOANNA DE ANGELIS - do texto de Gerardo Campana.)







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