quinta-feira, 2 de julho de 2020



NOVAMENTE VIDAS VAZIAS

Quando Sigmund Freud começou suas pesquisas com pacientes histéricos, se iniciava naquele momento uma das mais belas interpretações da psique humana, uma verdadeira e grande revolução cultural, momento em que o sexo é desmistificado, liberando-o da hipocrisia vitoriana herança do reinado da rainha Vitória da Inglaterra, que viveu entre 1837 e 1901, retirando assim o caráter místico ou misterioso de suas funções e, trazendo padrões, gostos, atitudes morais e comportamentais dessa época em que se destacam o puritanismo e a intolerância, em vigor triunfante.

Foi um período de inesperadas interpretações, de transtornos emocionais e somatizações perturbadoras, sendo agora tratados com cuidado, em existências menos turbulentas e desastrosas.

A descoberta da libido sexual tendo sido recebida com surpresa e exagerado significado, possibilitou compreensão mais ampla dos conflitos humanos.

Teve interpretação exagerada, principalmente  negando a realidade espiritual da Humanidade.

Vem depois Alfred Adler que discorda do mestre e começa por investigar os conflitos da inferioridade humana, que culminaram com a Psicologia do desenvolvimento individual e, apoiado por Karen Horney, formam então a Escola Neofreudiana.

Horney, discordou das diferenças da psicologia de mulheres e de homens, afirmada por Freud, e afirmou e demonstrou que essas disparidades são mais resultado de fenômenos sociais e culturais do que da própria biologia.

Já Carl Gustav Jung, afirmava, que a libido, essa energia psíquica, representa todas as forças da vida e não só as de natureza sexual. Analisou as marcas antigas impressas no inconsciente e adotou a doutrina dos arquétipos, proporcionando vida exuberante aos que se encontram em conflitos perturbadores.

Cada época da humanidade é marcada pelas circunstancias psicologicamente castradoras  responsáveis por enfermidades somatizadas dolorosas.

A ciência de hoje e a tecnologia de ponta trazem visão quase ilimitada da vida do ser humano aliada a um volume de informações que se multiplicam a cada momento, atormentando a cultura atual.

O conhecimento rápido, vasto e variado não tem sido digerido adequadamente, e surgem inquietadores a insatisfação, a frustração, o medo, à incerteza, ao vazio existencial.

Vivemos a época do ter e do poder, do exibir-se e do desfrutar, sem a harmonia interior sem o enriquecimento espiritual.

A aparência substitui a realidade, e o importante não é o ser interior, e sim o ego exaltado, que provoca inveja e competição no mundo da ilusão.

Perdeu-se o sentido existencial, o objetivo da vida, o foco transcendente da autorrealização. E assim, os tipos e o número das patologias do comportamento crescem, e o banquete dos mascarados toma aspecto sombrio, quando o álcool, a drogadição e o sexo desvairado enlouquecem os grupos em depressão...

O avanço na direção do abismo na queda pelo suicídio, no abandono de si mesmo ou na violência desgovernada passam a ser a realidade  do processo de evolução social.

Tudo resultante do vazio existencial que se apodera do indivíduo por não encontrar apoio no sentimento de amor que vem desaparecendo aos poucos do seu desenvolvimento moral.

A busca pelas coisas de significado imediato vem substituindo os valores da emoção como: a prece, a meditação, a solidariedade e o afeto.

A alteração de conduta é urgente, necessitando buscar-se novos focos de interesse existencial, como: a paz, o trabalho de beneficência, a imortalidade.

Por seu instinto gregário, o homem necessita do outro, possibilitando a troca de recursos, especialmente da emoção, da afetividade para a identificação de realizações relativo ao progresso e ao equilíbrio social, econômico, moral e ético.

A fraternidade, hoje sendo aos poucos substituída pelo individualismo, deve canalizar para o conjunto, para o todo, a convivência geral, incluindo a Natureza.

O desrespeito às forças vivas do universo trabalha pela destruição do ser humano hoje ou amanhã.

É necessário trabalhar a educação, por todos os meios ao alcance, com objetivos sérios e bem estruturados para a vida.

Uma vida sem um sentido bem definido, estimulador e doador de energias é fenômeno vegetativo, que deve ser alterado para a dinâmica da autoconscientização.

Todos querem e buscam a liberdade, que somente tem significado quando vem seguida da responsabilidade do comportamento vivenciado, para não se transformar em libertinagem, como ocorre no momento em toda parte da civilização.

Esse abuso, a leviandade com que são tratadas as questões importantes, quando atingem o fundo do poço, abrem espaço para governos arbitrários e cruéis que crucificam os países e os mantém em condições dolorosas, mesmo degradantes.

Revisitar o conceito do existir é fundamental para encher-se o íntimo de estímulos, com ações significativas e que tragam desafios contínuos.

O amor ao próximo, como consequência do autoamor, é terapia preventiva e curadora para as existências vazias, que se consomem na angustia, em sofrimentos incríveis.

Querendo e buscando compreender que o sentido existencial não são diversões nem brincadeiras inconsequentes, percebe-se que os ideais do bem são inadiáveis, e quando se lança à sua conquista, através de relacionamentos edificantes, em que a fraternidade se responsabilize pela construção do dever, consegue-se a vitória íntima.

A sociedade moderna tem necessidade de compreender que se renasce no corpo carnal para que seja alcançada a plenitude, e não exclusivamente para as necessidades inferiores, as biológicas, conforme os estudos de Maslow em muito boa elaborada reflexão.

Assim sendo, a educação da libido freudiana, a superação do conflito de inferioridade adleriano, a compreensão profunda das neuroses, conforme Horney, e a iluminação da sombra junguiana ressurge no conceito kardequiano, quando afirma que: “Fora da caridade não há salvação”.

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 02/07/2020.

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