sábado, 4 de abril de 2020




GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão

TECNICAS DA GRATIDÃO

Afirmava Albert Schweitzer que a gratidão é o segredo da vida ele considerava a gratidão como uma condição para se viver feliz.

Ele bendizia a vida, mais do que qualquer outra pessoa, apesar daqueles dias nem sempre confortáveis em Lambaréné, na Africa Equatorial Francesa, local onde mantinha a sua obra de dignificação humana.


Europeu da cidade de Kaysersberg, na Alsácia, quanto se transferiu com a esposa para aquela região hostil, viveu o áspero clima tropical, a elevada umidade no ar na floresta densa, as condições quase inóspitas para alguém que sempre viveu em região fria e civilizada, a falta de recursos para qualquer tipo de comodidade, e, apesar de tudo, manteve o sentimento de gratidão viva em sua vida, cantando louvores a Deus.


Nessas condições desafiadoras é que ele escreveu duas obras importantíssimas: A busca do Jesus histórico e um tratado de ética dos mais belos do século XX.

Expressou a sua ética no conceito: respeito pela vida, que ele defendia com sacrifícios até o máximo possível.

Uma análise das bênçãos que a existência física proporciona seria suficiente para se agradecer por se estar vivo no corpo; pelo ar que se respira; a água, o pão que a natureza fornece, ao lado das maravilhas do cosmo; as noites estreladas, a poderosa força mantenedora do Sol e a tranquilidade magnética da lua, a brisa refrescante, a chuva generosa, a temperatura agradável... tudo que vibra e que merece gratidão.

É certo que existem os desastres sísmicos, os sofrimentos de vários tipos, que também são dignos de reconhecimento, possibilitando a valorização do que é saudável e dignificante.

 Se todos os fenômenos existenciais fossem  agradáveis, não haveria mecanismo, válido para se promover o progresso moral do ser nem o desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade.

Mergulhado no escafandro material, o self é candidato a superação das circunstancias, trabalhando-se com afinco para alcançar a plenitude da sua função indestrutível
Inspirando o ego a modificar a estrutura do comportamento, faculta-lhe, ao largo do tempo, a visão inspiradora do desenvolvimento interno, diluindo a sombra que também se lhe torna motivo de conquista de novas experiências, proporcionando-se bem-estar, que é essencial para uma existência compensadora.

A busca dessa sensação de alegria e de satisfação transforma-se num motivo estimulante ao ego, mesmo que relutante, porque a falta desses pequenos prazeres aumenta o sentimento de culpa, frustra a autorrealização, empurra para transtornos complexos e mórbidos, que se transformam em enfermidades orgânicas por somatização.

É nesse combate que surge a necessidade da gratidão, não apenas em relação ao que se recebe, mas sobretudo pelo que é possível oferecer-se, participando do espetáculo da vida em sociedade como membro atuante e não como parasita prejudicial.

Sempre há quem justifique não ter muito para repartir, esquecendo-se que a maior doação é aquela que nasce na grandeza do pouco, como a referencia evangélica a respeito da oferenda da viúva pobre. Mesmo ela tinha algo para doar ao templo, cumprindo a lei que assim estatuía.

Outras dádivas, muito importantes também, constituíam na oferta do trabalho de limpeza do santuário, dos lugares em que os outros pisavam, na conservação dos objetos do culto, nos cuidados reservados a tudo que se referia ao templo, por não possuírem sequer a liberdade, ou porque rastejassem nas situações humilhantes do serviço rejeitado pelos vãos enganadores, falsos e orgulhosos sacerdotes, ricos de presunção e pobres de sentimentos...

A gratidão se expressa também de forma especial, como sendo respeito, consideração, e amizade, simples padrões de comportamento social que devem existir em todo grupo humano.

O hábito de retribuir dádivas restringiu o sentimento de gratidão dele, a beleza emocional. Dividir o que se tem com quem também oferece é passo avançado na psicologia da gratidão. Mas, merece ser considerada a oferta que vem do coração, sem nenhum interesse material que peça retribuição, transformando-se em oferta da gentileza, da alegria de viver, por fazer parte da orquestra viva da sociedade.

Esses gestos espontâneos contribuem para a felicidade que se aspira, gerando situações positivas na existência, por modificarem os sentimentos do gentil doador, que se enche de harmonia, pois o doar é sempre acompanhado pela grande satisfação de assim proceder.

Todos que aspiram alcançar o planalto da saúde e da harmonia é convidado a exercitar-se na arte de oferecer e de oferecer-se.

Em Atos dos apóstolos, entre outros, há um momento encantador, quando Pedro e João saem do Templo de Jerusalém e os pobres, os enfermos, os aflitos estendem-lhes as mãos, suplicando auxilio monetário, especialmente um coxo que aguardava a esmola em moeda.

Percebendo-se sem esses recursos, Pedro, com ênfase, olhando João, disse ao sofredor:

“Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3:6)

Ante o assombro geral, o enfermo recuperou os movimentos, soltou os membros paralisados e ergueu-se jubilosamente...

A partir daí, dessa dádiva de amor, as pessoas colocavam os seus pacientes por onde os dois passavam, a fim de que “a sua sombra cobrisse alguns deles” (At 5:15), na expectativa de que os curasse.

Todas as coisas são boas e merecem respeito, mas as que são conseguidas como dádivas do sentimento, que não são compradas, tem valor emocional bem maior.

E assim, ninguém pode se negar de oferecer algo de si mesmo, contribuindo para o bem-estar geral, que começa no ato da oferta.

É sempre melhor dar do que receber, pois aquele que doa é possuidor, e o que recebe torna-se devedor, e uma das maiores dívidas que existem é a da gratidão, porque um socorro em momento especial define todo o rumo da existência, que passa a dignificar-se, a crescer, a produzir, após esse instantes significativo.

Quando se mata a fome ou a sede, oferece-se segurança e trabalho a quem os necessita, doa-se paz e alegria de viver àquele que se encontra à borda do desespero suicida, tudo quanto lhe vem a suceder é fruto daquele gesto salvador.

A dívida, pois, ao que recebeu não pode ser resgatada senão por outra vida.

Conta-se que um indiano, que teve o filho assassinado por um paquistanês, nos dolorosos dias da guerra entre as duas nações, buscou o Mahatma Gandhi e contou-lhe a tragédia que se permitiu, pedindo-lhe ajuda, orientação.

O sábio mestre meditou e respondeu-lhe:
- A única maneira de resgatar o seu crime é educar uma criança órfã paquistanesa como se fora seu filho.

O interrogante argumentou:
- Mas somos inimigos e um deles matou o meu filho.
 Tranquilo, redarguiu o mestre:
- Tornamo-nos inimigos uns dos outros porque isso nos compraz. Somente porque o alucinado matou o seu filho, você não tem nenhum direito de retribuir-lhe o crime, tornando-se igualmente homicida.

O homem, sensibilizado, adotou uma criança paquistanesa e dela fez um cidadão de bem.

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 04/04/2020.

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