terça-feira, 3 de março de 2020


GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
Psicologia da Gratidão
Heranças perturbadoras

A indiferença moral por tudo que se recebe da vida, dos missionários do passado que contribuíram para os benefícios hoje utilizados como longevidade, conforto, saúde, ciência e tecnologia, repouso e convivências agradáveis, responde pela ingratidão.

O ingrato causa dissabores, sentimento de tristeza ,e desencantos que afetam o núcleo familiar e o grupo social onde se movimenta em ação.

Se a claridade é benção que facilita as realizações, a treva cria dificuldades para as mesmas atividades.

Assim é o ingrato, que respira prepotência e soberba, na sua condição de explorador do esforço alheio.

Um motorista de taxi percebeu que, quando deixou um cliente no aeroporto, ele deixou a pasta que ficou no banco traseiro. Preocupado, o motorista parou na volta para a cidade, parou o carro, olhou a pasta encontrando-a cheia de documentos e de valores. Temendo o transtorno para o desconhecido, fez a volta, acelerando, estacionou o veículo, correu ao terminal, e lembrando-se vagamente da companhia que o senhor apontou, à porta que deveria estacionar, correu na sua direção.

Muito feliz, encontrou o proprietário do objeto que havia acabado de fazer o cheque-in e parecia buscar a pasta entre as que tinha  nas mãos.

Sorridente, aproximou-se e entregou-lhe a maleta com os seus bens.

Ele não esperava retribuição. Estava feliz por fazer o bem. Mas, o passageiro, agressivo e insensível, olhou-o espantado, como se suspeitasse que ele havia guardado propositalmente o seu volume, e não lhe disse uma palavra sequer, saindo rapidamente para a sala de embarque...

O motorista sentiu um frio percorrer-lhe a espinha e uma angustia muito grande.

Meneou a cabeça, e tomou o carro para a cidade.

No mesmo momento em que dava-lhe a partida, outro passageiro sinalizou que necessitava do veículo, ele parou e o estranho entrou no carro.

Pediu o endereço e partiu.

Estava preocupado e, de quando em quando, como se estivesse num monólogo pesado, meneava a cabeça.

O passageiro perguntou o que estava ocorrendo.

Necessitado de desabafo, ele contou o que ocorreu, dizendo ainda:

_ Nunca mais devolverei qualquer coisa que fique no meu carro por esquecimento. E porque sou honesto, não ficaria para mim, mas vou preferir jogar no lixo do que voltar para entregar.

E disse:

_Eu não queria nada, nem o reembolso da despesa que me deu para lhe devolver. Tudo seria para ele somente prejuízo, porque ele nunca saberia onde procurar o seu volume, pois nem anotou o número da placa do meu carro...

Fez uma pausa e concluiu:

__O pior foi o seu olhar severo de dignidade ferida, como a dizer que eu fosse responsável pelo seu esquecimento, ou que lhe furtei a maleta...

A gratidão é combustível para a claridade da vida, como a cera para o pavio da vela manter-se aceso.
A ingratidão é bafio pestilento que contamina os outros com os seus miasmas podendo fazê-los semelhantes.

Por que alguém se atribui tanto mérito que não tem algumas palavras de agradecimento pelo que recebe? Onde está a sua superioridade que exige que os outros é que estejam sempre dispostos à servi-lo?

A ingratidão é síndrome de atraso moral e de perturbação emocional que infelizmente sempre grassou na sociedade de todos os tempos.

Herança perturbadora, que procede dos atavismos iniciais do processo evolutivo, mantem o indivíduo no estágio de predador e está demonstrado que o ser humano é o maior dentre todos os outros, causando sempre prejuízos à natureza, à comunidade, à família e a si próprio...

Esse patrimônio infeliz faz parte do conjunto de outros vícios morais e espirituais que fixam as suas vítimas no atraso social. Sombra perversa, prejudica o discernimento do self, demonstrando o estágio ancestral em que o indivíduo se detém. Presente em pessoas que  muito simpáticas em relação aos estranhos, com o fim de os conquistar, e são grosseiras com aqueles com os quais convivem, que as ajudam em silencio e dignidade, e que os detestam, porque lhes reconhecem a superioridade. A ingratidão descende da inveja mórbida que não consegue perdoar aqueles que tem recursos superiores aos que conduz. É rude de propósito, porque não podendo igualar-se, gera perturbação e desconfiança, para puxar para baixo quem se lhe encontra em situação melhor.

Egotista, o ingrato só sorrir quando busca lucro e apenas é gentil quando espera projeção do ego.

Sob o ponto de vista psicológico, a ingratidão é síndrome de insegurança e de graves conflitos íntimos que aprisiona o ser atormentado.

A gratidão deve ser treinada, para que se possa ser vivenciada.
Como as heranças perturbadoras predominam nos comportamentos humanos, pela duração do período em que se estabeleceram, é necessário que novos hábitos sejam fixados, substituindo os negativos, até poderem transformar-se em condutas naturais.

O convívio social torna-se, muitas vezes,  difícil, por causa dessas heranças perversas do ego, que recalcitra em abandoná-las, satisfazendo-se na censura, quando podia educar, na acusação, quando seria melhor socorrer, na maledicência, quando se torna perfeitamente viável a referencia enobrecida, desculpando os acidentes morais do próximo.
O ser humano está em constante evolução como tudo no planeta, melhor dizendo, no universo. Não há uma lei de estancamento, que  conspiraria com o fatalismo da evolução e do processo ininterruptos.

Tudo evolui, passando por muitas etapas do programa de crescimento.

Sob o ponto de vista moral, esse mecanismo proporciona sempre conquistas novas, enriquecimento interior se o indivíduo encontra-se lúcido para o registro em cada etapa, para a alegria e gratidão pelos novos passos que mais o aproximam da meta proposta, que busca alcançar.

Transformar, portanto, essas heranças doentias em experiências renovadoras é uma das metas a que se deve dedicar todo aquele que aspira ao bem, ao belo, ao amor, à vida...    

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 03/03/2020.

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