domingo, 9 de junho de 2019




GRAVITANDO EM TORNO DE DEUS
HERANÇAS AFLIGENTES

Os atavismos, que são heranças do
processo antroposociopsicologico, se encontram no ser humano com a mesma força dos velhos hábitos, em predomínio dos instintos agressivo-defensivos, o que mutila algumas aspirações nobres, dificultando a vivencia de novas atitudes, caracterizadas pela razão, pelo sentimento, pelo ideal de servir e de dignificar a sociedade. A ingratidão, que evidencia o primarismo do comportamento, na sua fase do egocentrismos, momento que não valoriza a contribuição das pessoas, por crer-se merecedor de todos os serviços, sem a obrigação de retribuir ou, de respeitar o outro.

A sombra nessa fase da evolução é o arquétipo dominador da conduta psicológica do ser humano.

O predomínio do instinto de conservação da vida modela o caráter humano com tanta força que coloca o indivíduo em atitude defensiva, armando-o esse indivíduo contra tudo e todos, mesmo que esse alguém se proponha a ajudar.

Com a crença falsa de que todas as pessoas são exploradoras, interesseiras, incapazes do afeto legítimo, com atitude, disfarçada ou não, de tirar proveito de todos os esforços empregados. Mesmo que os fatos mostrem o contrário, se encontra presente aí uma insegurança vegetativa muito forte nesse indivíduo, que considera os demais conforme os seus padrões de conduta, incapaz como  se sente de ser útil, de auxiliar sem colher os frutos imediatos desse procedimento.

Conforme desenvolve o self e diminui o predomínio do ego, o ser passa a compreender a finalidade da vida na Terra, ampliando a capacidade de sentir amizade, de corresponder às expectativas, de contribuir pelo bem-estar alheio, que sempre traz satisfação pessoal, embora não seja esse o principal objetivo.

Toda atitude dignificante que abrange o grupo social já é benéfica àquele que a assume.

Toda vez que alguém coloca obstáculo no processo de crescimento da sociedade, sofre a sua constrição inevitável, tornando-se presa da sua própria prepotência.

Esses diferentes estágios evolutivos, favoreceram ao surgimento dos dominadores dos outros, os ditadores impiedosos, as classes poderosas como consequência do status econômico, os presunçosos que se creem superiores, iludidos pelo conceito da raça ou etnia em que renasceram no corpo, da astúcia que é uma herança do instinto felino e não efeito da inteligência...

Allan Kardec, faz uma bela análise desse comportamento no livro Obras póstumas, no capítulo “As aristocracias”, quando analisa os  níveis da humanidade, em relação ao espiritismo, que oferece os recursos da iluminação, portanto da perfeita integração do eixo ego-self como indispensável para a harmonia pessoal, o reconhecimento amoroso à vida por tudo que possui e frui, a infinita gratidão pela honra da vida terrena.

Allan Kardec refere-se que a verdadeira aristocracia, é a intelecto-moral, em que a inteligência e o sentimento unem-se, abrindo espaço para a sabedoria, à libertação das paixões primeiras, à superação das heranças negativas e dos atavismos perturbadores.

O conceito de aristocrata, pelo sangue, pelos títulos nobiliárquicos adquiridos por meios nem sempre dignificantes, que caracterizaram o passado da sociedade, propiciando os privilégios dos descalabros, causadores da decadência, da desorganização generalizada, o perverso direito divino dos reis, como se não fossem constituídos pela mesma argamassa em que transitam os camponeses e o poviléu, detestados pelos iludidos terrestres, hoje se encontra em decadência total.

Encontramo-los em todas as épocas da História, desde as lamentáveis classes sociais da Índia, no passado, e possivelmente ainda hoje, embora não legais, mas infelizmente morais, até faraós egípcios... e os chefes tribais, nem sempre valorosos e dignos para exercerem o mandato de comando do grupo étnico ou do país por eles governado.

As religiões, também, aproveitando as circunstancias criaram as suas aristocracias privilegiadas pelo poder temporal em nome da fé que deve estar acima das questões da vaidade humana...

Na interpretação dos ensinamentos religiosos de todos os tipos, os indivíduos com as chamadas responsabilidades pelo rebanho adaptam a mensagem, retirando dela a essência superior e apresentando as suas paixões que transferem para Deus. E com esse mecanismo de temor submetem os crédulos ao seu domínio, dominando-os e mantendo aqueles   menos evoluídos, na revolta ou no egoísmo.

Se fossem apresentadas a grandeza do amor que trazem todas as doutrinas religiosas, conseguiriam com mais facilidade libertar os prisioneiros do primarismo, conduzindo-os aos elevados patamares da iluminação.

Jesus convocou a todos com os mesmos direitos e os mesmos deveres, dando oportunidade de trabalho e de evolução aos diferentes seguimentos sociais, sendo respeitoso aos poderosos do seu tempo, que o buscavam, assim como a chamada ralé, à qual preferia por motivos óbvios da sua missão iluminativa e libertadora.

O inevitável progresso moral vem diminuindo o perverso comportamento, anulando o poder das classes dominadoras por circunstancias adversas e ancestrais, abrindo espaço para os direitos humanos, ampliando as possibilidades de igualdade entre todas as pessoas, não importando as posses, a hereditariedade, mas valorizando as qualidades de inteligência e de sentimento, as suas conquistas morais que os destacam no cenário humano.

Pelo processo evolutivo que é inevitável, essas heranças cederão espaço às outras, às nobres que as sucederam e que, no seu momento próprio, passarão a ressumar com a força ética da solidariedade e do amor entre todos os seres, incluindo a natureza.

Apesar desse fenômeno incoercível, incontido, que é o progresso, muitos  indivíduos tentam resistir aos seus impositivos, escolhendo a condição de infelizes, em razão da sombra que os submete aos caprichos da inferioridade.

A Divindade, tem mecanismos que se impõem favoravelmente ao desenvolvimento das faculdades morais do ser, pelas expiações em que expurgam os miasmas que os asfixiam na inferioridade, sem perderem as conquistas importantes das vivencias experimentadas no passado em encarnações outras.

Desse modo, o processo de crescimento em relação à própria plenitude é impostergável, inadiável e  ninguém foge dele, porque ele faz parte dos instrumentos universais do amor divino.

Serão sinais demonstrativos da sua presença, quando surgirem os primeiros vagidos de compaixão e de ternura, de amizade desinteressada e o desejo de retribuição, pelo menos de parte daquilo que amealha. A solidariedade é, a maneira de expressar a alegria de viver e de desenvolver os relacionamentos que edificam os sentimentos ou os despertam quando se encontram adormecidos.

A gratidão é a impressão digital do desenvolvimento intelecto-moral do Espírito, que se liberta das heranças afligentes.

Divaldo Pereira Franco no livro, Psicologia da gratidão. Trabalhado e editado por Adáuria Azevedo Farias. 09/06/2019.

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